Um olhar oblíquo, mas não tão dissimulado quanto o que é descrito na literatura; um olhar tão enigmático que nem sequer os mais sábios bêbados conseguiriam entender; um olhar confuso, revestido de um abismo tão surreal que nem Freud conseguiria explicar.
Nem eu, dono deste olhar, compreendo o porquê de vê-la tão indescritivelmente assim, de modo que seja algo tão natural quanto a chuva que rega as flores. Vejo-a na nódoa dos sentimentos mais profundos, e não consigo esquecer de algo que nem começou.
Perco os sentidos e tropeço nas próprias confusões que, apesar de fazerem sentido, são o reflexo de mais uma ilusão desenhada calorosamente em momentos de amores platônicos, que de tão platônicos, são tão ridículos que elevam o grau de loucura.
Furta-me os olhos para que não te veja mais, furta-me o chão para que haja metafísica em meus passos, furta-me as horas para que passe menos tempo pensando em ti…, mas por favor, não me tira as lembranças de algo que nunca vivemos.
Devo contentar-me em escrever esses parágrafos anacolutos, essas vivências amargas, esses sentimentos
que insisto em ter de maneira contraditória, inaudíveis à razão e, principalmente, tão indescritíveis quanto os pensamentos.
Quisera eu despedaçar-me em dois para dividir o sofrimento, ou para que tua beleza explodisse meus seres e eu não pudesse mais existir no mesmo plano que o teu. Mas infelizmente, até desse modo, ainda assim te olharia de modo oblíquo, mas não tão dissimulado como descrito na literatura.
Hei que encontrar forças para te combater, moça que me toca bem mais que uma sonata de Beethoven! Hei que encarcerar o que sinto para não cair no labirinto de mais uma mentira que inventei, ou uma realidade ilusória de um poeta apaixonado.