Acordo-me hoje com a inevitável lágrima escorrendo sobre os olhos. Ela partiu, me deixou, não ligou para os sentimentos acorrentados em meu peito, e como se nada fosse, nem sequer olhou para trás e me disse adeus. Cabisbaixo, na esquina do quarto, encontro-me defronte à janela onde a via partir lentamente.
O relógio marcava seis horas da manhã, mas para mim ainda não havia amanhecido, talvez as lágrimas
enlutadas estivessem a escurecer o ambiente sem vida, sem cor, sem esperança, sem nada que pudesse me alegrar. A solidão despiciente caminhava no longínquo horizonte, onde nascia o sol escuro.
Todo quarto exalava seu perfume, ainda restara um retalho dos seus cabelos em minhas mãos. Sequer com forças para continuar chorando, deitei-me de bruços e o peito ofegante se contorcia internamente. Um silêncio fulminante, as sombras das paredes pareciam desenhar seu corpo, e por um momento senti seu doce toque.
Acordei-me novamente com uma abrupta esperança de que tudo fosse um sonho (e realmente era). Chamei-a pelo nome, toquei-a por debaixo das cobertas, mas para a minha amarga surpresa já era outro dia. A respiração prendeu-se, engatou-se nos pulmões; o coração parecia correr uma maratona praticamente sem fim.
Como posso viver sem ela? Como posso continuar existindo sem vê-la, no mínimo, quando estou triste? Que pesar que sinto! Que tristeza inexplorável, nenhuma tristeza é tão triste quanto essa! Quem sabe, a tristeza tenha se reinventado e agora me usa, com o avanço da ciência, para tentar descobrir o ápice da tristeza humana.
Triste talvez? Sim! Indiscutivelmente triste, acabado, incomensuravelmente morto por dentro, pois não sei
como será daqui para frente. Eu só queria saber como ela está, o posso fazer para ela me perdoar e voltar
novamente para os meus braços que, mesmo fracos, ainda possuem forças para carregá-la por horas, dias, meses… eternidades.
— Que posso fazer sem ti? Como poderei belo o pôr do sol? Como irei perceber coisas básicas da minha natureza? Como poderei respirar o ar puro que me dás nas madrugadas? Como? Mais uma vez, não consigo sequer responder uma pergunta retórica.
— Volte para mim, inspiração! Volte para mim, motivo de existir nessa inexistência inepta e falha da humanidade.
Nessa hora ela voltou. Estava escondida vendo se realmente fazia falta…