Se ao vê-la já me nego a respirar
Quem dirá ao tocá-la, mesmo de relance,
Ou talvez simplesmente roubar de seus lábios
O riso mais feroz de seus ramos impávidos
Como num trecho de romance.
Se ao vê-la já me perco ao chão
Quem dirá ao sentir sua respiração ofegante,
Talvez de modo raro e dilacerante
Eu possa me encontrar em tua metade;
Corpos que se unem, almas que se invadem.
Caso estejas pensativa e presa à dúvida,
Arrancar-te-ei os mais intensos sentidos,
Desabrocharei tua carne crua com volúpia,
Beijar-te-ei na hora mais íntima
Até arrepiá-la os pelos da nuca.
E minhas mãos enlaçarão teus cabelos
Como se estivesses a cair de um precipício.
Direi juras de amor tão devassas que ficarás
Como um oceano de nervos enrijecidos
E fecharás os olhos como se fossem amordaças.
Num breve momento de tormento,
Acordo-me deste sonho feito um dilúvio,
As lágrimas escorrem sobre o orvalho
E preenchem o solo diminuto
Da miragem que tenho em retalhos