Quando a chama se apaga,
Apaga-se também a outra metade,
Apaga-se também aquela voz
Que murmura com intensidade.

Um abismo de infinidades que se laçam,
De paixões que vagam no escuro,
De caminhos que se cruzam
Sobre as vestes do estreito muro.

Quando a chama se apaga,
Apagam-se também os moinhos,
Os ventos do que já passou
Pelos vastos e enigmáticos destinos.

Há que se desprender do vazio
Que impede o seu calor,
Que germina sob o cemitério
Da alma que grita de dor.

Quando a chama se apaga,
Apaga-se também a essência
Do poeta esquecido e triste,
Do poeta que não existe.

Há que se ascender como raio,
Há que se desnudar na fonte
Do próprio abismo invisível,
Do próprio castelo errante.

Defronte às camadas desnudas,
Avisto-me no horizonte turvo,
E nada mais faz sentido
Além do tom de voz mudo.

Itacoatiara-AM, 05 de fevereiro de 2022.

 
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