Amor platônico

Um louco enclausurado por tua beleza,
Asfixiado pelo teu perfume mais doce,
Incendiado pela tua ácida frieza…

E eu, tantas vezes perdido em mim,
Nem sei em quantos pedaços me divido,
Nem tampouco em quantos me junto, enfim…

Tão lúcido quanto um bêbado no bordel,
Como um jovem que navega em tantos mares
Em busca de um único e inesquecível céu.

Tão liberto quanto um prisioneiro,
Íngreme feito um deserto plano,
Inerte feito um átomo de engano.

Escrevo-te com fulgores opacos,
Com estrelas vermelhas de sangue
Advindas de um coração rouco e frágil.

Nas vestes plácidas de teu encanto,
Como um pássaro a vagar sem rumo,
Iludo-me… inundo-me em teu canto!

E eu, desiludido e em prantos,
Basta-me uma gota d’orvalho de teu mel,
Mesmo que inexistente, complacente aos mantos
De tua cor mais vistosa,

Para que eu me preencha de teus vazios,
Mesmo que saibas que me tens como réu.
Mas, de modo abstrato e inoperante,
Preenches teu ser de um outro amor;

A outro alguém entregas o mesmo que eu…
E eu, tão solitário quanto um coveiro,
Hei de sepultar mais um sentimento,
Mais uma primavera esvaída ao vento.

Que não seja imortal, posto que é chama;
Que não seja breve, posto que é platônico,
Mas que não seja esquecido, posto que é verso
Destas palavras que te entrego como rosa,

Destas estrofes que murmuro aos teus ouvidos,
Destas cálidas e diminutas e vívidas e…
Não sei mais expressar quão intensas são
As horas que me pego a sentir tua presença
Por tanto materializar teu instinto.

Itacoatiara-AM, 13 de junho de 2022.

 
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