Este livro retrata muito bem um desabafo, um texto corrido que flui os pensamentos. Escrevo aqui como se estivesse em uma conversa normal. Converso aqui com minhas ideias, meus desertos, minhas tempestades, minhas angústias e, sobretudo, com minha doce essência.

Às vezes não conseguimos demonstrar o que sentimos em gestos, mas as palavras esmagam essa possibilidade e descrevem tudo o que está acontecendo, tudo o que deveria acontecer e tudo o que aconteceu e o porquê lhe afetou dessa maneira, às vezes tão intensa.

Decerto, a loucura germina em mim, e traz o intimismo, as possibilidades irreais, os amores inúteis por coisa nenhuma. Essa loucura cria vários universos, vários personagens, várias experiências: desde as mais simples às mais complexas, que nem sequer podem ser citadas.

Converso aqui com um leitor farto de enredos clichês, de frases de efeito, de qualquer coisa que não tenha originalidade. Como um autor independente, estou completamente livre de conchavos literários, de prisão a um único estilo.

Uma loucura que complementa a outra

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Capítulos

Loucura X

Já não sei o que esse miserável corpo abriga, já não sinto as manhãs de verão, nem as de inverno, nem as que me esqueço; tampouco as que lembro. Voluptuosamente expostas na alma, estão assim, sem fogo, sem imã, as subcamadas iludidas da minha mente. Aguardo perante a revestida onda de devastação, os resquícios meus de verdade, de liberdade… onde eu não precise andar mais tão triste sem motivo algum, tendo ao menos alguma hora para gozar dos prazeres da vida, de preencher o vazio impreenchível da amargura. Essa tristeza que me enluta é a mesma que consome meus demônios mais profundos, minhas mágoas mais submersas, meu oceano disperso na fagulha inexplorável do sentimento; é a mesma que me acompanha no vale da sabedoria, no abismo da ignorância. Essa tristeza afaga meu ego, corrobora com meus versos sem sentido, sem reflexo do que deveras deveria sentir. Embora isso, essa tristeza

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Loucura XI

Pareço museu novo com palavras velhas. Pareço antiguidade futurística com rabiscos rupestres sentimentais, mas sou tão humano quanto um bicho do mato; sou, sou e sou o que desejo ser, ou não? A loucura me vem em dias de ventania com palavras soltas no ar. Palavras estas que está a ler nesse exato momento. São pequenas frases que formam parágrafos confusos. São excertos incertos de uma mente diferente. Na bipolaridade desses sentimentos, escrevo mensagens inexistentes à mulher amada. Por ser assim, afastou-se de minha loucura. Sou um louco apaixonado pela vida que insiste a fugir de mim. Com rabiscos de sangue na janela de meu coração, encontre-a!

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Loucura XII

Se ela perguntar, diga que estou triste, que já não consigo esquecer de seus olhos esbranquiçados de amor, que já não consigo esquecer do toque de suas leves mãos, que já não consigo viver com a saudade enlutada no peito. Se ela perguntar, diga que estou sozinho na noite escura, que as estrelas me carregam sobre o vale da melancolia, que me lembro de todos os momentos que passamos juntos, que ainda sinto o toque de seus lábios nos meus. Se ela perguntar, diga que o soluço de minha alma continua a suspirar pela presença que ainda persiste em estar ali, que o seu cheiro continua entre os lençóis incautos do sonho. Deveras minto se digo que nada estou a sentir, pois a sensação de solidão nem sempre traz uma melancolia saudável. Se ela perguntar, mostre-lhe um retrato meu a olhar para o horizonte em busca do nada, e diga

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Loucura XIII

Encerre esta loucura com um adeus retumbante, com vozes dilacerantes ecoando ao seu ouvido surdo.Desfecho-me como as cordas do violino de Paganini, entrego-me ao luar descrito em canção por Debussy, à Ave Maria de Schubert, às Gnossiennes de Satie e toda infinidade e intensidade da interpretação de Liszt nas noites de frio. Sorte tenho de não ser mais um bebum, mais um tuberculoso na época do mal-do-século. De pessoa à Pessoa entrego meus diversos heterônimos incompreensíveis, persuadidos.Da infância à juventude, da fase adulta à velhice que nunca cheguei, nunca estive tão só. Não sei se por incompreensão dos demais, ou por orgulho de aceitar que sou um “mais do mesmo” medíocre. Detesto ver o reflexo do fracasso, detesto acordar diante de um sonho irreal. Não suporto ter que suportar as rasas vozes que entranham em minha cabeça e importunam minha famigerada insignificância.

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Loucura XIV

Será mania de grandeza sentir-se pequeno? Será que minhas incompreensões são transcendentais? Será que serei solitário na lua de mel com meu outro eu? Será que sou mesmo o que aparento ser, ou sou reflexo daquilo que mais detesto? Os opostos se atraem, assim como minhas mágoas aumentam diante do fingimento, assim como me calo diante da falsidade que me cerca. Ah! Tenho medo de ser tão incompreensível e óbvio ao mesmo tempo. Tenho medo de ser sentimental quando tiver de ser gelo, de reunir todo gelo da Antártida quando tiver de ser humano. Diante da complexidade humana, contento-me em ser original, em não corromper-me diante do fracasso dos seres frágeis e “oprimidos”. Satisfaço-me escrevendo, mesmo que de maneira automática. Escrevo como um animal, sem pensar em sentenças, sem filtrar o que quero dizer para agradar seres imundos. Escrevo como uma alma flutuante que viaja todo o mundo em questões

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Loucura XV

Quando escrevo, quero te encontrar, preciso te encontrar. Desejo nada senão te encontrar. E em contrapartida a isso, quero ainda mais te encontrar. Encontrar-me em tuas falas, em tuas emoções, no empirismo dos teus atos. Em contrapartida a isso, não penso na possibilidade de não sentires nada, como se tudo escrito fossem apenas palavras vazias expostas em uma vitrine. De palavras vazias já basta as que são faladas, as que nunca são ditas e as que são interrompidas. De versos vazios já bastam os que são perdidos, os que não refletem em nada, os que são superficiais e nem sequer nadam até a praia. Não quero que o que for escrito aqui pareço tolice, pareça raso, pareça inoportuno. É por isso que tudo é verdadeiro, por isso que escrevo por inteiro o que nem sequer pensei.

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Loucura XVI

Na confusão das ideias, consigo encruzilhar a escrita, a poesia, a crônica, o conto, o sentimento, a mentira… tudo que pode ser caracterizado por versos, frases, estrofes, parágrafos e sentimentos. Sinto que estou preso em mim mesmo, às vezes liberto-me ao mundo ao enxergar um pouco distante; às vezes os olhos pesam, as mãos tremem, o corpo padece, mas a mente continua firme e forte na composição poética. Distraio-me facilmente, quando menos percebo, o sono me derruba no sofá, na cadeira, na cama, na calçada fria de meus passos. Nada é tão fácil que não pareça ser tão difícil. Enquanto isso, continuo a escrever até mesmo quando a mente está distante, que o corpo trêmulo e cansado estira-se na cama como uma caça diante de seu abate. Novamente, a desatenção chega e me cega os olhos por alguns instantes. Tudo está tão automático, a cabeça chega a girar em rotações

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Loucura XVII

Consigo lembrar dos tempos de escola, alguns jovens perdidos nos próprios prazeres e descobertas da juventude; outros preparando-se para serem o “mais do mesmo” do universo dos iludidos; outros preparam-se para ter destaque nas suas vidas, no seu trabalho, seja o que foram fazer. Não me incluía em um padrão robotizado. Sempre fui o poeta incompreendido, antiquado, “retrógrado”, dentre outras taxações absurdas. Sempre fui sozinho, e os poucos “amigos” que considerava sumiram no fim do ensino médio. Nesta época, lembro-me do tédio bisonho que me acorrentava na sala de aula. Ao menos lembro que nos momentos de solitude, na hora do recreio, escrevia dois a três poemas que resumiam o estado do que estava sentindo. Sempre conectava alguma melancolia até nos temas mais alegres. Não sei se é tolice ou personalidade, mas sempre gostei de ver mais poesia nas coisas tristes que nas coisas alegres. A tristeza deriva uma grande

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Loucura XVIII

Ser intimista é colocar ao mundo todos os seus segredos de escrita, o que mexe com suas emoções. Ao menos hei de tocar um pouco em teus sentimentos, ao menos hei de descrever diversas características tuas que se assemelham com as minhas, das mais infantis às mais maduras, às mais reflexivas. Explodindo por dentro, decido transbordar ainda mais o que sinto, o que minto, o que fujo, o que imagino, o que eu… o que eu hei de ver daqui a alguns minutos, o que hei de ser daqui a alguns anos, talvez a alguns minutos mal contados. Quiçá, como fruto do que inventei, quiçá como armadilha do que decidi despertar dentro de minha exorbitante solidão. Às vezes chego a pensar que não sou suficiente, que me falta algo. Não sei exatamente o que falta, mas ao dormir, sinto um vazio por dentro. Esse vazio, por sua vez, não tem

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Loucura XIX

Na pálida manhã, converso com a alvorada, caminho com o olhar sobre o Rio Amazonas que me cerca, sempre calmo, brilhante, com subcamadas de beleza e, às vezes, triste, seguindo o vento para direções bravias. Ventos estes que balançam meus cabelos, que tocam minha pele e refrigeram minha alma. A alma de poeta morre e revive nas paragens diminutas, e eu, cansado de tanto existir, realmente vivo nas nuances desse sentimento tão enigmático. Um pequeno pedaço de folha de papel em meu bolso, coloco-lhe num banco pequeno. Como que num tinteiro de sangue, o papel um pouco borrado esboça os versos que criei, um tanto filosófico, um tanto reflexivo, um tanto irracional. Dentre tantas palavras que denotam esse momento, surgem pequenos rabiscos, nascem palavras colhidas de maneira pensada, de maneira sentida, de maneira angustiada: Inspiro-me Inspiro-me na madrugada,Nos pálidos tons do inverno,Nos enfáticos trilhos sem moradaQue já não veem brilho

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