Nessas horas, recordome de uma pequena crônica que fiz quando estava no ensino médio. Dizia assim:
“Nas imediações de um país tomado pela mediocridade, e ao mesmo tempo pela beleza natural não explorada; pela cultura totalmente tomada pela bestialidade, há um garoto diferente e totalmente farto deste tipo de nojeira, muitas delas feitas com dinheiro público, outras com a irretorquível lavagem de dinheiro.
Nesse lugar promove-se a todo vapor o crime organizado e demais aberrações, ora com ares de inclusão, ora com ares de moda. Tenta-se despertar a todo custo apenas os sentidos mais simplórios e básicos do ser humano: Comer, dormir e fazer sexo.
Na arte, apenas vê-se rasuras, quando não alguma escrotice de movimentos revolucionários. Quando não, vê-se espalhado nas ruas milhares de artistas sendo ignorados e, às vezes, vilipendiados.
O garoto faz poesias, crônicas, contos e tinha alguns livros, mas era ignorado, e tem que aturar “mc priquito”, “mc maconha” e diversos outros com esse prefixo ridículo fazerem sucesso com uma “música” cujo verbo destaque é ‘sentar’. Portanto, diante disto o garoto ouve no anonimato as músicas de Beethoven, Mozart, Bach, Chopin, dentre outros, mas também ouve alguns compositores nacionais de outros tempos, tempos estes em que realmente havia cultura nesse país.
O jovem escritor tem uma mentalidade crítica, e tinha que aturar “cada um tem seu gosto”, “não julgue as pessoas, pois nem todas gostam da mesma coisa”; tenta buscar no fundo de sua alma uma resposta coerente para tamanha lavagem cerebral, por que algo que não tem conteúdo e nem compõe com características básicas da música ou da literatura faz tanto sucesso?
Sem isentismo, muitas pessoas têm medo de expor suas opiniões para não magoar outras, talvez essa seja uma porta de entrada para a mediocridade, o fim da própria essência. Nesse país você tinha que medir as palavras para determinadas “classes”, mas não tinha que se defender quando as mesmas atacavam, sendo essas hipócritas, que não vivem nada daquilo que pregam. Esse é o lugar perfeito para a fantasia.
A fórmula musical e poética deste país é simples: você apenas tem que formar uma música chiclete para rodar nas caixas de som com o máximo de volume, tem que injetar muito dinheiro (não importa a fonte), e o mais importante: se tudo for feito de maneira criteriosa, poderá ir para todas as mídias, que alimentarão os milhões de idiotas que consomem coisas vazias, sem conteúdo, que os emburrecem ainda mais.
Por fim, este é o drama de fazer alguma arte no país, neste caso estamos falando apenas de um jovem escritor (pois a dor é menor), imaginando-se as questões das bandas que realmente têm qualidade e dão a alma pela perfeição (se fazes parte disso, certamente seus olhos estarão quase cheios de lágrimas). Para um escritor, é difícil ver a intelectualidade ir por água abaixo quando uma historinha medíocre compõe o núcleo da maior venda nas livrarias.
É difícil olhar o estrago que fizeram com esse lugar, culturalmente falando, e certamente nasceram e ainda nascerão vários artistas que farão jus aos que se destacaram no passado, mas estes terão que viver nas sombras, viver humilhados vendo que a busca pela perfeição “não traz bons frutos” (tanto faz, quando se está querendo ganhar dinheiro para sobreviver, tem que dar ao rebanho a aberração que querem); deturparam até a arte da enigmática poesia, área do garoto. Prega-se, portanto, que as palavras não devem ser tão escolhidas, que qualquer coisa pode ser arte, que qualquer coisinha escrita (não trabalhada) pode virar uma obra de Shakespeare.
A engenharia social foi bem-feita, e beneficia na propagação de um dialeto mental de doutrinação, de inépcia interior, sem nenhum tipo de transcendência, sem nenhum tipo de beleza, apenas o talento nato de ser eternamente ruim, não buscando nenhum tipo de melhoria. Lógico que isso não se aplica a todos, mas esses podem dizer o quanto isso dói, o quanto desanima. Qualquer semelhança com o Brasil é mera coincidência.”