Uma melancolia intensa se abate em meu peito, pois até mesmo não nos acostumamos a pensar, não nos acostumamos a mudar. Dando pra viver, pra acordar cada manhã e vender as horas, pra chegar no fim de semana e depois repetir o mesmo ciclo… tá ótimo demais para mentes que se acostumaram com o simples.
Acostumar-se com o simples é, sobretudo, o retrato de pessoas vazias, de pessoas que não conseguem evoluir e, por conta disso, transformam sua passagem na terra algo simplório e totalmente sem importância. Não se mudam mentes, não se mudam vidas, não se mudam atos, não se mudam seres… seres reais que se tornam irreais.
É triste saber que por detrás de tantas possibilidades, nos acostumamos a não ser nada, a não produzir nada, a não prover nada; apenas ver e criticar pessoas que não se acostumaram com isso e, portanto, que são incompreendidas pela mediocridade do homem comum, da vida comum, da média risível e cega.
A essa altura, lembro-me do trecho inicial do poema ‘Tabacaria’, de Fernando Pessoa:
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
Nos acostumamos, sobretudo, a não acostumar-se com o sucesso, com a maturidade da sabedoria, com a evolução da mente que nos é proporcionada todos os dias pelas vivências na sociedade. Até quando?
Até quando mesmo as mentes vazias serão elevadas ao patamar mais supremo da popularidade? Até quando conseguiremos aturar coisas ruins para agradar uma meia dúzia de idiotas? Até quando fingir uma cegueira inexistente?