Só sei que, apesar de tudo que finjo, ainda há algo realmente interessante a se fingir ainda mais, ou a libertar-se para o reino da verdade. As pálpebras inundam, os gritos internos se devastam ao lembrarem de algo ainda mais corriqueiro no dia a dia:

Nos acostumamos com o fracasso, com o pesar do que poderia acontecer, de como as coisas seriam diferentes se mudássemos alguma ação, alguma fala, algum gesto, alguma coisa sequer. Nos acostumamos com o simples, com o “da próxima vez consigo”, e com o “foi melhor assim”.

Nos acostumamos a não tentar pela segunda vez, pois achamos que a primeira foi um livramento. Nos acostumamos a desistir porque “fulano tentou outra vez e não deu certo”. Um ciclo vicioso de pensamentos inúteis, de não saber medir o exacerbado erro de se ter uma mentalidade materialista versus o infantil erro de se continuar medíocre pelo medo de tornar-se alguém que “só pensa em dinheiro”, que só “liga para bens materiais”.

Com isso, muitos acostumam-se com o fracasso, com a covardia, com a mediocridade e, sendo assim, restam-lhe a única opção de acostumarem-se também com a pobreza.

Essa pobreza não é só material, é de espírito também. Ou seja, nos acostumamos a estar sempre na média, mantendo o status, mantendo uma mentirosa satisfação com a vida que se tem para “não reclamar de tudo à toa”, para “agradecer o lado positivo”, às vezes inexistente.

Nos acostumamos a nos espelhar no funcionário público, no empregado bem afeiçoado, enfim, no emprego que só vai pagar as contas. Uma mentalidade até que razoável, visto que isso é dito nas escolas, nas praças, nas casas, em tudo quanto é canto. Porém, não consigo ver um lado positivo em vender horas de trabalho para “viver bem”, para pagar apenas os boletos, para se desgastar em algo que não te retorna o merecido.

Nos acostumamos com isso: a não se destacar em nada, em não saber nada na área financeira, a não compreender como funciona a mente de um empreendedor; não se dá atenção ao que se diz um empresário bem-sucedido, mas ao mesmo tempo torna-se relevante idolatrar alguns sanguessugas do estado, ou até mesmo artistas medíocres e sem talento algum. Nos acostumamos a dar credibilidade a quem só pode oferecer fracasso.

 
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