Já não sei o que esse miserável corpo abriga, já não sinto as manhãs de verão, nem as de inverno, nem as que me esqueço; tampouco as que lembro. Voluptuosamente expostas na alma, estão assim, sem fogo, sem imã, as subcamadas iludidas da minha mente.

Aguardo perante a revestida onda de devastação, os resquícios meus de verdade, de liberdade… onde eu não precise andar mais tão triste sem motivo algum, tendo ao menos alguma hora para gozar dos prazeres da vida, de preencher o vazio impreenchível da amargura.

Essa tristeza que me enluta é a mesma que consome meus demônios mais profundos, minhas mágoas mais submersas, meu oceano disperso na fagulha inexplorável do sentimento; é a mesma que me acompanha no vale da sabedoria, no abismo da ignorância. Essa tristeza afaga meu ego, corrobora com meus versos sem sentido, sem reflexo do que deveras deveria sentir. Embora isso, essa tristeza me ensina que tudo é real, que nada é fácil e, que por ventura, não sou nada, nunca serei nada.

Sei que até mesmo essa tristeza que narro não chegará a ninguém e, se por acaso chegar, pode até tocar no fundo do peito, mas nada além disso. Tudo que escrevo é real, às vezes parte de uma realidade paralela. Mas enquanto estiver vivo, com essa tristeza que não acaba, continuarei escrevendo sem pensar no amanhã.

Não escrevo por escrever, tudo faz sentido no meu ponto de vista, seja ele racional ou não, inteligível ou não. Cada estrofe, cada verso, cada parágrafo, cada milímetro de palavra é um desabafo, é uma tempestade invisível. Cada coisa escrita, cada coisa pensada é realmente vivida, é realmente ferida, é realmente amarga.

Nem tudo é amargura, pois o amargor está nas pessoas e no modo em que não conseguem entender sequer um milímetro da emoção transpassada nessas palavras. Por essa incompreensão, muitas acham que não faz sentido, e muitas até acham que sou louco.

Se é pra ser louco por descrever tristeza, que seja. Se é pra ser louco por ser sincero, que seja. Se é pra morrer incompreendido, que morra. Mas eu sei que as poucas pessoas que entenderem essa desabafo irão dar razão à tristeza, pois sem ela, nada além de nada eu seria.

 
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