Assim como existo em dias onde não posso existir, assim como persisto onde não posso persistir, assim como desisto do que não devo desistir… e assim como escrevo o que não posso sentir… quem sabe apenas uma vez não deva ser sincero demais, sentimental demais, tendo que esconder-me perante as mesmas gramas onde possivelmente desenharia, tendo que querer algo que antigamente não quisera, tendo que deixar a vida fluir.
Quisera eu ter a mesma frieza dos outros, quisera eu plantar-me, para reluzir ao ambiente paz e oxigênio, quisera eu poder ser eu mesmo, quisera eu poder ser personagem de mim mesmo. Mas acontece que não posso disfarçar, não posso deixar de expor a ninguém o que sinto em tudo.
Às vezes nem me surpreenderia caso sumisse e as coisas melhorassem em meu entorno. Ou talvez, antes que debulhasse os anagramas sentidos, nem me importasse com sua essência, com seu drama. Mas isso tudo é muito difícil, ainda que haja sacrifício, ainda que morra perante a chama.
Desabafo todas minhas dores ao escrever, tão consequentemente, a voz emerge do luto e vira o grito de um ser humano. Por isso desabafo minhas dores, antes que elas desabem e me soterrem e me tornem cinzas, mais um personagem de mim mesmo, mais uma insignificância no universo.