Desabafo todas minhas dores ao escrever, visto que estão contidas em meus versos, em minhas palavras, em meu olhar, em minha entranhas, em meu tudo. Quiçá, esteja pendura no varal das emoções; quiçá, grudada nas paredes áridas das lembranças que persistem em perturbar minha calma a todo instante.
E nisso, desabafo ainda mais quando estou triste, e mesmo quando finjo uma dor que de fato existe. Embora não haja perigo à vista, quer no que a tem, quer no que a crucifica: Há uma corda entre o real e o irreal, entre a vida e a morte, onde está contido o futuro inesperado.
Sendo assim, quase enfim, seus traços corrompem meu ego. Nas sombras da pálida noite, sublime como a aurora, firme como a terra, tendo a estar à beira do abismo, à espreita da morte, à luz da eternidade. Porém, ao desabafar todas minhas dores, avisto (mesmo que nas sombras) uma outra versão minha a banhar-se do desvario. Em suma, contendo vestígios de meus eternos rios; outrora, contendo vestígio de meu sangue pecador, pútrido e incolor perante a luz do dia.
Desabafo todas minhas dores ao escrever, porque faço delas objeto de leitura de quem sofre, de quem precisa de ajuda mesmo quando quer que tudo acabe rapidamente a ponto de achar que esse término vá diminuir uma dor constante que invade as camadas do ser. Desabafo, simplesmente por desabafar, para não mais morrer, para não mais chorar, para conseguir enxergar meu próprio rosto ao espelho.
Mediante ao contexto das horas, mediante aos fatos desconexos, enquadro-me no quadro circular do mundo como alguém desconhecido, onde as dores pouco importam, onde os desabafos nem sequer são necessários, porque nem sequer são vistos. Não julgo as pessoas por não vê-los, nem tampouco alguns por não entendê-los, não sei.
Não devo, apesar disso, contentar-me em não ser alguém; talvez, deva quem sabe surgir diante das nuvens e desenhar minha poesia nos vastos campos, quem sabe na época do outono. Assim, veriam, mesmo que com medo, meus sentimentos esverdeados, talvez com vida.