Loucura IX

Deixa ser assim. Se for pra chorar, que chore; se for pra ser intenso, que seja; se for pra ser depressivo, que morra. Que seja tudo verdadeiro como um pôr do sol, ou nada como a escuridão que rodeia o bosque.

Se quiseres a mim, que me queiras como único; se quiseres a outro, não há sequer problema evidente. Apenas não venhas a mim quando porventura vier um arrependimento, ou as lembranças de algo que nunca existiu. Algo que não existe é algo que não se lembra, algo que não se discute, algo que percute perante as comportas do tempo. Certa vez tive um sonho tão real, mas tão real que não se concretizou, e fico me perguntando se não era um delírio de minha pobre mente.

Às vezes paro no tempo, lembro do passado, penso nas possibilidades futuras, e tudo parece tão duvidoso. Será que vou conseguir? Será que não serei mais um ser humano medíocre e superficial a pisar na terra? Será que deixarei algo de bom ao morrer? Será!? Será!? Será!? Olho ao meu redor e tudo parece errado, tudo parece corrompido. Ao olhar para as pessoas, vejo um medo entalado em seus olhos, vejo uma sombra amordaçada a gritar por socorro.

Ao olhar para meu próprio rosto, já não me reconheço. Ao olhar para meus amigos, não os tenho. Ao olhar para quem torce pelo meu sucesso, vejo poucas pessoas, mas tão poucas pessoas que a conta não sai da primeira mão. Tanta mediocridade faz sucesso, tanto alarde às coisas sem sentido, tantas mentiras para beneficiar a si mesmo, tantos exemplos maus de quem deveria ser exemplar, tanto sofrimento nos olhos dos pais, tanta ferrugem nas mãos dos avós… tanto vazio a preencher o abismo.

Fico pensando nessas coisas simples, fico sonhando acordado no dia do reconhecimento, mas apenas vejo retalhos de um esquecimento cada vez mais dolorido. Um poeta esquecido, um poeta enlouquecido, um prosador inquieto a mergulhar no oceano das próprias insatisfações. Tenho andado tão triste ultimamente, quase a me afogar nas lágrimas estendidas no silêncio; quase a banhar-me na armadilha do que não vejo.

Tenho andado tão sem graça, tão incolor, na penúria dos meus ossos frágeis.

 
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