A melodia da chuva apalpa-me os ouvidos, sem vinho, sem cerveja, sem cigarro, sem vício algum. Apenas necessito de silêncio para apaziguar meus ânimos “inapaziguáveis”; apenas necessito do sussurro das gélidas estrelas para viver sem mendigar inspiração.
Lá fora, a névoa escura ecoa sobre o ambiente e me vejo diante a um atônito sentir desesperado. À esquina, vejome em partes desiguais: uma a chorar no espaço, outra a chorar no céu. Caminho pela escadaria do que nunca vi, e sob o luar, sentome às nuvens macias.
Não há ninguém ali, não há ninguém à espreita da janela para me ver livre. A alegria dura pouco, como em milimétricos segundo estilhaçados no papel. Neste momento, um anjo triste aparece no horizonte, e se aproxima de mim como a pedir piedade dos próprios atos. Abraço-lhe, e lhe falo como míseras palavras o que estou a sentir, o que penso sentir, o que sofro ao sentir. As lágrimas passeiam pelas lacunas da alma, aprisionam-se na selva obscura que se encontra dentro de mim.
Perdemo-nos nas imagens atordoantes, como lírios perdidos no vácuo dos campos, sempre em tom acinzentado. Tudo preto e branco, tudo como se houvesse tudo e nada; tudo como se as folhas se preenchessem da tristeza mais pura, porém inacabada pelas palavras pueris. O anjo triste consegue suspirar seus últimos suspiros. Suspira no último vestígio de sua vida, cai em meus braços cansados, e embebeda-se com o amargor da trágica vida que insistia em se esconder debaixo dos sete palmos de terra. A solidão lhe vem no espelho, junto à caveira inexistente.
A solidão é como uma folha seca que cai da árvore em dias de ventania, é como o último suspiro doente de um miserável ser que está a partir, é como um milésimo de segundo quando estamos de frente com a morte e a beijamos pela primeira vez. Imagine-se em um espaço escuro, sem ninguém à sua volta – como naqueles dias tristes de inverno- e, porventura, sente-se sozinho frente às próprias ações. Haveriam motivos para sentir-se solitário?
Se sim, há um imenso espelho em seus olhos que vagam pela mente como um vagalume. Basta ter a interioridade suficiente para saber se isso é bom ou ruim frente às ações tencionais ou intencionais praticadas por si mesmo. Pegue aquele diário de bolso (caso tenha) e veja as anotações mais profundas, as mais tristes, as mais sombrias.