Quando as lágrimas transbordam
Encontro-me perdido, em ascensão,
No estopim de uma atemporalidade
Que me cega, e depois traz a visão.
Quando as lágrimas transbordam
Vejo-te no espelho das profundezas
Que se encontram na escuridão,
Sem o vestígio da amarga beleza.
Quando as lágrimas transbordam
Minha mente se inunda na agonia,
Os dias se desconstroem nas noites,
E a luz nada faz; entrega-se à melancolia.
Quando as lágrimas transbordam,
Fico parado, quase a me afogar,
Elas tocam em mim, e me desfaço,
Acordo, e discorro sobre um olhar.
Quando as lágrimas transbordam,
Transpassam as correntes da alma,
E ainda desfazem o riso da solidão,
Que sai flutuando, morrendo, em calma.
Quando as lágrimas transbordam
Costumo olhar para o doce horizonte,
E vejo as fagulhas do medo destroçarem
A sinfonia discreta do algoz monte.
Quando as lágrimas transbordam
Lembro-me do dia que nem passou,
Das horas em que escrevia a triste poesia,
Nas horas em que procurava o que dela restou.
Quando as lágrimas transbordam
Vejo as cinzas da palavra que morreu
No cárcere do que parecia ser liberdade,
Mas depois de dias, algo à dor, enalteceu.
Quando as lágrimas transbordam
Vejo-me no espelho das profundezas,
No estopim de uma realidade onde
O que se enxerga é somente tristeza.
Quando as lágrimas transbordam
Acho-me ainda perdido em ascensão,
Que se encontra em algum verso,
Sem o vestígio da amarga ilusão.
Itacoatiara-AM, 25 de julho de 2019.