Nas manhãs ensolaradas
Eu costumava escrever,
Costumava dizer nada,
Até o doce entardecer.

Olhava para o horizonte
Nessa manhã irradiante,
Contemplava o monte
Das cinzas do diamante.

Costumava me perder
Nas trilhas da esperança,
Os sonhos estavam a ler
As veredas da confiança.

Minhas vestes despidas
Nas doses da escuridão,
No abismo da convalescida,
Aurora da calma devastação.

Meu peito estava despedaçado
Na tempestade que passou,
Agora do gosto doce e amargo,
Apenas o insípido restou.

Inundaram meus anseios,
Esqueceram de meus sentimentos,
O que é superficial virou o esteio
Para quem há dias estava sofrendo.

Disseram-me que não importava
Buscar a perfeição do dia,
Eu triste, apenas discordava
E juntava o que sobrou da poesia.

A poesia que me consolava
E escutava todas as agonias,
A poesia que até gostava
Daquela forte ventania.

A poesia presente nas pinturas
Trazendo traços da mente,
A poesia sem validade, que dura
Até a eternidade, brevemente.

A poesia que vinha das águas
Trazendo as cachoeiras do encanto,
A poesia que vinha da alma,
Que trazia seu desabafo no canto.

A poesia que iniciava a vida,
Presente no carinho de uma mãe,
A poesia presente na ferida,
Na aurora que a tudo compõe.

A poesia que apresentava o sopro
Do oxigênio que permeia o horizonte,
A poesia que se encontra no rosto,
Espelho das estrelas perdidas na fonte.

A poesia que traziam os poetas
Dando beleza à clausura do romance,
A poesia das rosas na melancolia esbelta,
No passado e no presente distante.

A poesia das fortes chuvas,
Dos raios que partem as dores,
A poesia que tinha nas curvas
A estrada que prendia os temores.

Disseram-me que não importava
Buscar a perfeição do dia,
Eu triste, apenas discordava
E juntava o que restou da poesia.

E o que restou?

Itacoatiara-AM, 19 de julho de 2019.

 
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