Não, eu não sou perfeito.
Não porque alguém me diz,
Ou porque eu seja humano,
Ou porque tudo seja relativo,
É porque há um eterno engano.
Quando eu olho pro horizonte,
Nem sempre vejo uma luz ofuscada;
Às vezes vejo um relógio calmo,
Angustiado com a pressa das horas,
Com o peso de seu embrião cortado.
Quando eu passo pelo subconsciente
Sei que na esquina há um pensamento,
E mesmo cansado, ele me alcança
E seu abraço é tão apertado, um lamento;
É porque, mesmo sem por que, há confiança.
Não, eu não sou perfeito.
Não porque a imperfeição me tenha,
Ou porque eu esteja cansado deste mundo,
Ou porque a tristeza invade bem no fundo;
Há um cemitério de silêncio que grita.
Quando a noite desce em meu quarto
As paredes gelam, e pela janela
Vejo o reflexo do que não existe;
E um pouco embaçado, o solstício da lua
Devora meus versos, em soluço, insiste.
Não, eu não sou perfeito.
Não porque minh’alma está rabiscada,
Ou porque meus pecados me acompanham;
O café está amargo e a poltrona velha
Da ilusão começa a murmurar de dor.
Itacoatiara-AM, 10 de maio de 2020.