Um dia triste e nublado agonizava
Nos braços da chuva límpida,
Ele, debruçado nas nuvens da ilusão,
Caminhava sobre seus versos sem vida.
Não tinha nome nem esperança,
Seu melhor codinome era solitário,
Seu descanso era olhar para o nada
E procurar a escadaria para a enseada.
Escrevia com tristeza sua caminhada,
Era um ponto no vazio da multidão,
Não tentava provar ser o que era,
Talvez por isso lhe restaria a solidão.
Ele cantava à noite em seu pensamento,
Acompanhando o canto dos pássaros,
Atravessou mares, rios e florestas,
E sempre vagava sozinho, no espaço.
Sua melhor amizade era a do sabiá,
Que cantarolava todas as manhãs,
Ele continuava a caminhar lentamente,
Certo de que sua alma estava afã.
A rodovia do deserto que avistava
Não era nada comparada à imensidão
Que ele avistava no horizonte dos céus,
Andava sempre a favor da nova estação.
Suas rochas açoitavam as mentes fracas,
Quando finalmente conseguia falar
A verdade saía e assustava a hipocrisia,
Portanto, o silêncio é o que necessita seu ar.
Sua concepção sobre a sua vida
Era uma metáfora cheia de frágeis serpentes
Que nem conseguiam disfarçar seus venenos,
Sendo muitos, isolados por felizmente…
Saberem que o silêncio é a arma
E a cegueira é a total e bestial submissão;
Qualquer um que entendesse essa analogia
Teria um lugar guardado em sua atenção.
Mas eram dias difíceis e amargos,
Seus rabiscos saíam com uma rasura;
Tinha um vazio que só seria preenchido
Pelo luar de uma constante clausura.
Um dia triste e nublado agonizava
Nos braços da chuva límpida,
Ele, debruçado na aurora da madrugada,
Sem nada seguiria sua trágica ida.
Amanheceu com a tez da manhã
Banhada com o perfume das estrelas,
Ele continuava a vagar pelo invisível,
Ofuscado pelo amargor de sua maneira.
Era estreita a dimensão dentre a estrada,
Afastou-se do raio sua imaginação,
E do vendaval surgiu a pétala honrosa,
Soou-lhe aos olhos a derradeira perfeição.
Os cristais levaram-lhe ao abismo,
Vagando na superfície de seu ser
Apenas restou-lhe uma frase:
Estás perdida neste vazio também?
Uma ventania feroz surgiu na estrada,
E a voz macia, como a tempestade, disse:
Estou seguindo o eco de uma alma
Que sonda a tudo sem ser compreendida.
O solitário afastou-se para trás,
E disse que já havia visto aquele semblante
Em seus sonhos, sempre pedia complemento,
Talvez ela seria o resultado de seu sofrimento.
Dias se passaram e os dois a sós
Na imensidão da eternidade insípida,
As ondas beijavam a praia e eles acorrentados
No calor de seus planos para a realidade.
A cidade das pedras estava ali a frente,
Eles aproximaram-se e realizariam os sonhos,
O poeta solitário e a pétala inspiradora;
Uma família, formariam na bruma do encanto.
A pétala formosa se evaporou lentamente,
E sem saber o porquê ele ficou desolado,
E dos sonhos restaram apenas os retalhos
E um esboço de seu rosto na vitrola.
Com uma vida boêmia o solitário
Acorrentava-se no vício da insensatez,
Idealizou um amor com quem não existia,
Estava esperando chegar a sua vez.
Da vida noturna às calçadas da agonia,
Ele estava morrendo lentamente,
De suas lágrimas surgiu a chuva
Que representava a vitrine do sentimento.
Jogou seus poemas na latrina,
Ninguém ouvia seu desespero inacabado,
Era como se ele não existisse;
Herdado o peso da dor em seus braços.
Nada mais fazia sentido no respirar,
A melancolia lhe assola de modo contrário,
A angústia o fazia sentir frio à noite,
Sem dormir, sentia prazer na autodestruição.
A ilusão lhe tomara totalmente
E sua alma jazia sobre um inferno
Que a cada dia piorava mais e mais;
Alguém encontrou uns papéis velhos.
Eram as lamúrias do solitário,
Tão profundas que a depressão
Bateria à porta de quem as lesse
E estivesse calcado na desilusão.
Então saiu na rádio da cidade
Os trechos de sua depressiva carta
Que à morte pedia uma piedade,
Com eloquência, e música clássica.
E em toda a cidade procuravam solitário,
Ele estava à beira do precipício,
Pensativo e contemplando o imortal
Que havia nele por ser fraco…
Às vezes a fraqueza é necessária
Apenas para vermos nossa fragilidade,
Porém quando se pôr o infinito sol
As forças surgirão na casualidade.
Sob o canto dos pássaros
Ele adormecera em seu sentido,
Imaginou-se em um lugar eterno,
Onde não havia dor, nem estaria perdido.
Pediu ao eco de sua razão uma saída,
E uma voz em seu subconsciente
Gritou como uma tormenta à escuridão:
Sempre há tempo para recomeçar.
A voz transpassou seus sentidos,
E uma forte luz tocava-lhe o olhar;
Acharam o solitário sobre as pedras
Pedindo ajuda ao próprio reflexo.
Acharam que ele estava louco,
Porém com a voz rebuscada, disse:
Um dia triste e nublado agoniza
E o pôr do sol liberta-me da escuridão.
Todos perplexos com o ocorrido;
Todos os jornais sensacionalistas
Quiseram criar a narrativa torpe,
Que ele só queria atenção, que era golpe.
Então solitário renasceu das cinzas,
Como símbolo de si usou uma fênix;
Lançou-se no universo da literatura,
Seu livro era o codinome de sua cura.
O pôr do sol tirou-lhe da boemia,
Contemplando a tarde na praia desconhecida,
Ele viu passar a flor do oceano,
Versos insaciáveis circundam-lhe a vida.
Saindo um pouco da repetição,
As características da beleza não importam,
Para ele o que importa é a imaginação,
Agora é realidade, e no horizonte estava.
Logo saiu a melodia do querer,
Como a reverberação das cinzas do fogo,
Ela vinha em sua ríspida direção:
Você é o poeta? Disse suavemente.
Então ele respondeu suas perguntas
E conversaram a tarde inteira sem intenções
Apenas na terceira que resolveram sair
E na quarta sairiam para alguma coisa.
Chegou a quarta-feira de glória,
Ele falava sobre política e ela, história;
Os dois se completavam assustadoramente,
Não eram tão diferentes, nem tão indecentes.
Passou-se um ano e o brilho das estrelas
Arraigava os seus passos lentos,
Um menino estava a caminho,
E o caminho alçava o incauto vento.
No entanto tudo iria acontecer
E a poesia pairava sobre a realidade,
E a história dos dois se espalhava
Como o giz da manhã pela cidade.
A família foi feita e com palavras simples
Tudo aconteceu como premeditado
Pela mente do homem solitário,
Que de falsário tornou-se amável.
Um dia triste e nublado agonizava
Nos braços da chuva límpida,
Ele, debruçado nas nuvens da ilusão,
Caminhava sobre seus versos sem vida.
Um dia alegre e nublado agonizava
Nos braços da chuva límpida,
Ele, debruçado nas nuvens da estação,
Caminhava sobre seus versos com vida.
Assim foi a história do solitário
Que se tornou um grande poeta,
Assim iniciou-se a família, que um dia
Tinha como melodia a tristeza seleta.
Assim iniciou-se a morada
Entre o ímpeto e a madrugada;
Assim iniciou-se o dia em que
O pôr do sol deu luz à alvorada.
Agora tem nome e esperança,
Seu melhor codinome é doutor,
Seu descanso é sob esbelta luz,
Procurando o que o induz para o amor.
Escreve agora sua alegre caminhada,
Um ponto no vazio na multidão,
Não tenta provar ser o que é,
Não precisa desse tipo de apelação.
Ele canta à noite em seu pensamento,
Acompanhando o canto dos pássaros,
Atravessou mares, rios e florestas,
E agora com cristo, fará um compasso.
Compasso esse que deixará em sua pele
A marca do tempo e o gosto do futuro,
Se bem que não importa o que aconteça
O pôr do sol sempre será o porto seguro.
Natal-RN, 03 de julho de 2019.