A morte

Será que a morte nasceu
Nos primórdios de sua irmã vida?
Será que, com Abel, ela sentiu inveja,
E para ser única a matou?

Qual será o destino que a morte
Lenta, dolorosa e tão bonita leva?
Qual será o gosto de seu beijo
E a força de seu toque?

Um dia sonhei com ela
E fui tão desprezado que chorei,
Tão profunda e dolorosamente
Que ela me abraçou e me disse
Com sua voz grave: Não é sua hora!

Perguntei-lhe: Ora, quando voltarás outra vez?
Respondeu-me: Você irá saber!
E de teimoso, pus-me a perguntar
De todos o que significara aquilo
E o silêncio pôde manter seu costume.

No túmulo da mais exaustiva dúvida
Pus flores e uma carta comprida
Com uma única e simples pergunta:
Não me esqueci do que me disseste,
Quando chegará minha hora?

Outra vez, sonhei, mas agora com
A calma, esbranquiçada vida,
Que era como a neve; enfraquecida,
Disse que minha dúvida estava a lhe
Matar, e que a morte a humilhara ontem.

Falou-me de Deus e calmamente
Deu-me um livro intitulado ‘Bíblia’,
Disse repetidamente: Leia!
Ele que fez minha existência,
Tudo que nesse mundo há.

Ele criou a morte, mas ela
Não está fazendo seu papel,
O mal a coagiu, e lhe recrutou…
Agora apenas tu podes salvar a si
E a todos a quem tens amor.

Perguntei-lhe: Como faço isso?
Ela respondeu: O tempo saberá te informar
O que não se vê e não se sabe (aprende);
O que se nega e se suprime saber,
A ter conhecimento à luz deste livro.

E no outro dia refleti bastante,
Dando-me conta, vi nos cantos da sala,
Bem escondido, um papel envelhecido,
Com determinados dizeres:
Não temas a mim, sou a morte e a vida;

O ar, o fogo, as águas. A lâmpada
E a luz para teu caminho é minha palavra;
Não tenhas dúvidas extremas,
Pois sou o caminho e a verdade.

E a verdade é a tua libertação,
Não se preocupe com o que virá
No dia de hoje, de amanhã, mas
Em como farás sê-lo infinito
Na vida mais bela, eterna.

Depois de sonhos e sonhos vendados,
Finalmente pude entender e compreender
Que nada dissolverá as dores senão a morte,
Muitos estão mortos, sem espírito e empatia,
Muitos já sem alegria sorriem automaticamente.

Para onde iremos depois de mortos?
Onde estamos quando há a perda autêntica,
Culminando em nossa robotização?
Em nosso corpo, espírito, razão,
Onde estamos? Aonde querem?

Somos ou apenas queremos parecer?
Onde está a vitrola que ouvias
Suas prediletas e imutáveis músicas?
O espelho que refletia sua infância
Está na memória ou no esquecimento?

Vives da modernidade ou da tradição?
Se sua essência morre, as lágrimas
Viram a infelicidade que destinará-te
A uma imensa crise existencial,
Que de cicatrizes irá açoitar-te até o fim.

Se fores minado de infinitas cicatrizes,
As feridas cessarão ao olhares para o horizonte,
E começares a perceber no invisível:
Trar-te-á o destino (Paz ou sofrimento)…
Dependerá da poesia exposta na alma.

Itacoatiara-AM, 05 de março de 2019.

 
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