A morte visitou-me ontem,
Tinha o cheiro de uma pétala invisível
E o gosto de seu sangue era familiar;
Um tom de ódio e olhar de delírio,
Um horizonte inapto, sereno, porém frio.

Consumiu-me o semblante dolorido,
Levou-me à raiz de uma escuridão
Que ficava escondida debaixo da alma;
Assim, meu corpo se debateu, e em calma
O último suspiro encontrou sua solidão.

Vi-me debruçado sobre os ossos no chão,
Um receio, um castelo de maldades,
Meu corpo ardia sobre o ácido de dor;
Minh’alma, arrancada pelas correntes
Que vagavam pela floresta de horror.

De gritar, fiquei mudo, a garganta cortada
Como as asas de um pássaro sem vida.
Estático, o coração batia violentamente,
Enferrujada, a espada de ilusão atravessou
Os olhos que, sem voz, pediam piedade.

As sombras me atormentavam na escuridão,
Perdido sobre as águas, uma prisão escondida
No subconsciente de meu incauto desespero;
Um sentimento que rasgava minha pele
E queimava minha esperança, um cinzeiro.

Vários gritos amordaçados pela crueldade,
Perdidos, vagando pelo abismo do esquecimento,
Como se a ventania, a tempestade, o tempo
Tivessem paralisado seu futuro inexistente;
Tudo estava a flutuar no nada, devastadoramente.

Meus batimentos finalmente pararam
E a morte tinha o cheiro do enxofre,
O gosto de seu sangue era mais amargo;
Um tom de ódio e olhar de melancolia,
Um horizonte devastado, sem melodia.

Vago pelas ruas, sinto-me mais vazio,
A raiva alimenta meu desejo de vingança,
Apenas queria mais sangue, para adoçar
Minha escuridão e retirar essa amargura,
Esse gosto de saudade do que foi interrompido.

Assim nasce uma eterna maldição.

Itacoatiara-AM, 27 de janeiro de 2020.

 
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