Escrevo sobre a morte,
Não pelo medo de morrer,
Mas pela lembrança do que não passou
E pela eternidade que hei de ver.
Escrevo sobre a vida,
Não porque vivo, mas porque sou real;
Escrevo sobre o que vejo, sobre tudo,
Mas porque tenho a certeza que não sou nada.
Escrevo sobre amor, sobre a guerra,
Sobre os conflitos internos de um louco;
Escrevo com intensidade, mas sem deixar
Faltar verdade até nos versos poucos.
Escrevo a filosofia do irracional,
A inteligência que rasteja no ignorante
E os mútuos emblemas do universo
Que se reconstroem a cada fonte.
Escrevo sobre o que não existe,
Não por imaginação, mas por hipótese:
Aquela onde o inverso reproduz a mente
E a mente, por si só, não se destrói.
Escrevo sobre a solidão, mas sim,
Porque o lado solitário está em mim;
Sou fruto da poesia feita na noite,
Na madrugada, no suicídio dos versos.
Não sou nada além do que escrevo,
Pois se sou aquilo que invento,
Não passo de uma fraude egocêntrica
Criada pela própria loucura lançada ao vento.
Pois que a selva obscura e angustiada
Tem em mim augusto enleio;
Pois que as vozes quase inacabadas
Completam o mais singelo peito.
Mas sou aquilo que grito,
Embora ninguém pareça ouvi-lo.
Ao menos os pássaros respondem
E as flores perfumam o caminho.
Por mais que eu ande pelo vale
E a sua sombra nem sequer exista,
Hei de ver seu brilho, hei de ser seu trilho;
Hei de chorar ao tocar sua pele limpa.
Escrevo sobre a morte,
Não porque temo sua chegada,
Mas porque a sinto presente ao sono
E, embora fria, à luz apagada.
E embora eu saiba que isso não importe,
Falo com voz grave e entoada:
Não há nada melhor que escrever,
Mesmo em dias onde as trevas têm morada.
Itacoatiara-AM, 08 de janeiro de 2020.