— Veja que engraçado, a menina prometida acha que vai vencer alguém muito superior. — disse Anton com superioridade.
Ágata, com extrema confiança, respondeu:
— Tem certeza, Moloch?
Nesse momento os olhos de Anton se arregalaram.
— Co…co…como você sabe?
Antes que tudo desse errado, Ágata não perdeu tempo e fez recitou logo os versos.
A luz é maior que a escuridão E o horizonte pode ser visto.
Volte para inferno, ser da ilusão.
Moloch, expulso-te deste lugar,
Volte para as cinzas do esquecimento!
Quando todos pensavam que nada aconteceria, uma tempestade chegou e levou Anton para as profundezas do oceano. Uma intensa luz brilhou nos céus. As crianças, antes ensanguentadas, agora vestiam-se de branco com uma luz.
Todas as almas subiram lentamente por cima das nuvens, a realidade realmente pudera ser desfrutada.
Mas não restou absolutamente ninguém na cidade. — Será que podemos sair daqui para o mundo real? — disse com a voz um pouco cansada, Ágata.
— Acho que sim. — respondeu Mariana.
José ainda estava desacreditado no que havia acontecido.
— Vamos ao encontro de Adoniran. — disse ele.
Os três caminharam em direção à casa dos irmãos, as areias solitárias não esboçavam vida, e o sol estava um pouco fraco.
A névoa estava desanimada. A cada passo, eles podiam sentir o alívio. Sentiram que toda aquela vida que tinham era uma mentira, quase todos estavam mortos.
Ao chegarem na casa, perceberam que apenas a solidão fazia parte de tudo. O lago calmo apenas refletia a tristeza. A árvore estava um pouco encolhida, por lá entraram. Perceberam que o chão estava um pouco molhado, sem reflexo algum.
Passaram pelo portal, a pequena casa de madeira estava ali, um silêncio abrupto na montanha canonizava a energia de todos.
— O que vocês estão fazendo aqui? — perguntou o velho Adoniran.
— Conseguimos derrotar Anton com a dica que você nos deu! — afirmou Mariana.
— Que ótima notícia!
— Como iremos conseguir chamar atenção das demais pessoas por aqui? — perguntou Ágata.
Adoniran, contente, disse com toda certeza:
— Tem vezes que muitas embarcações passam por aqui, podemos aproveitar uma dessas para chamar atenção. Seria interessante contarmos nossa história ao mundo.
— Sim, nem sabemos como é o mundo lá fora, somente como os livros de história queriam que víssemos. — disse José.
— Por muito tempo nossa vida aqui foi uma mentira, foi literalmente como se não tivéssemos liberdade. — disse Mariana.
— Sim, ainda bem que vocês acordaram a tempo. Tempo suficiente para verem que há uma realidade que não conhecemos, uma realidade que nos é escondida. — disse Adoniran.
— Toda a população sumiu, isso tem a ver com a maldição de Anton? — perguntou José.
— Certamente sim, todas as pessoas estavam ligadas a Anton, nem se questionavam sobre nada. Assim, eram manipuladas por ele. Certo, Adoniran? — teorizou Mariana.
— Exatamente isso. Quando decidi me matar, foi exatamente para despertar várias pessoas. Era algo mais ou menos irreversível.
Alguns dias se passaram, um barco com alguns pescadores estava a dez metros da montanha.
AQUI! TEM GENTE AQUI! SOCORRO!
Assim gritaram todos na montanha, levantaram algumas tochas. Os pescadores do barco perceberam que haviam pessoas isoladas na montanha, totalmente isolada no meio do oceano.
— Venham! Entrem no barco. — disse um dos tripulantes.
José, Ágata e Mariana estavam muito cansados, Adoniran simplesmente sumiu no reflexo das águas; encontrou-se em paz na imensidão dos céus.
Os quatro pescadores ficaram intrigados com a situação que ocorrera ali.
— O que aconteceu com vocês? — disse João, um dos tripulantes.
— É uma longa história. — Disseram todos em um tom uníssono, com olhares angustiados e tristes.
Amanhecia em Lisboa, uma manhã chuvosa e fria. Em todos os veículos de comunicação noticiava-se um fato que ocorreu perto de uma montanha a alguns quilômetros da capital.
Tinha-se o relato de três jovens que afirmavam com toda a certeza que moravam em uma ilha amaldiçoada, onde todos os habitantes eram presos por meio de uma maldição secular que passava de geração para geração. Não se sabe ao certo como estes jovens foram parar ali.
Sabe-se que um grupo de pescadores em um barco conseguiu avistar os jovens, que imploravam ajuda. O grupo de pescadores ouviu a história contada por eles, do início ao fim. Suspeitam que a embarcação onde os mesmos se encontravam naufragou e, por passarem muitos dias ali, perderam a noção da realidade.
Os jovens afirmam com alto grau de veracidade que aquilo foi real, que tudo aquilo contado realmente aconteceu. Porém disseram que a tal passagem para a ilha ficava em uma casa de madeira, casa essa que não fora encontrada na montanha.
— Conte-nos toda história de como vocês ficaram presos nesta ilha. Conte tudo, com todos os detalhes. — disse o entrevistador de uma renomada rede de televisão de Portugal.
José, com receio de que as pessoas não fossem acreditar em sua história, resolveu ficar em silêncio por alguns segundos.
— Conte para a nossa audiência o que se passou nas montanhas, qual era o barco que vocês estavam que naufragou.
— Nenhum barco naufragou, eu já contei a história para um dos pescadores, ele não acreditou. É difícil fazer as pessoas acreditarem.
— Esclareça tudo isso, as pessoas ficaram curiosas pela história.
— Está bem, irei contar. Mas vocês têm que ouvir, não me interrompam em nada, o que irei falar é algo totalmente diferente, e não foi inventado!
O garoto José contou toda a história que tinha contado para o pescador, e as revelações serviram como base de confirmação para uns, como marketing para outros. Uns achavam que a história confirmava que existia um mundo sobrenatural; outros achavam que se tratava de uma tentativa de a imprensa ganhar destaque.