— Como vamos conseguir o diário de Anton? — perguntou José.
— Adoniran me disse em um sonho que devemos arrancar a última folha do diário que contém o nome de Anton, mas somente uma pessoa pode fazer isso, somente uma pessoa tem poder para isso. Quando a pessoa arrancar a página com o nome, deve citar esse verso.
A luz é maior que a escuridão E o horizonte pode ser visto.
— Que coisa louca. Lógico que a pessoa escolhida é a Isabel. — disse Mariana.
— Talvez não, Adoniran disse que seria a pessoa menos provável.
— Eu que não sou. — Afirmou José.
De repente, a porta da prisão se abriu. Isabel reapareceu, e disse:
— Não podemos perder tempo. Anton está dormindo e eu consegui pegar a chave dessa prisão.
José e Ágata levantaram-se rapidamente. Isabel conseguiu um acesso para o lado de fora da casa com uma porta invisível que tinha perto da cela. Os quatro correram para fora do castelo.
— Teremos de voltar por onde eu vim? — questionou Mariana.
— Não poderemos voltar por lá. Anton irá nos achar.
Pegaram o caminho de uma pequena estrada, ainda coberta pela névoa. O chão estava com várias rachaduras, o dia estava quase a nascer, e o que podia ser visto era apenas as grandes rochas que davam caminho a quem ousasse estar ali.
— Por onde iremos agora? — perguntou José, um tanto preocupado.
— Seguiremos as raízes das árvores. — respondeu Isabel.
— Árvores? Que árvores? Não estou vendo nada. — disse Mariana, em tom de preocupação.
— Você não pode ver por conta das névoas e de toda ilusão que se tem nesse lugar. Devemos nos apressar, pois Anton está quase a descobrir tudo!
As árvores pálidas ficavam próximas a um penhasco com cerca de duzentos metros de altura. Todos tiveram de pular para voltar à realidade. Como num susto, um choque, Mariana voltou a seu corpo.
José estava deitado ao seu lado na praia.
— José, é você mesmo? — perguntou.
— Acho que sim.
Os dois se abraçaram e puderam sentir pela primeira vez, depois de muito tempo, o calor do sol. Isabel não estava ali. Quando, de repente, aquela névoa apavorante voltou a flutuar nos céus. As crianças de sangue surgiram e começaram a cantar sua música de ninar.
Bem-vindo ao seu novo lar,
Daqui não irás sair; Ninguém irá te encontrar,
Dê adeus ao seu doce rir.
Seus sonhos estão perdidos,
Estás preso no mundo sem cor,
A escuridão guiará teus passos, Dê adeus ao sublime amor.
Bem-vindo ao seu novo lar,
A morte te alcançou, Prepara-te para o ensaio
Do teatro do formoso horror.
Novamente, ao fim da música, Anton e Isabel estavam ali, a menina a sorrir em seus braços com seu rosto macabro, parecia desfigurado, mas seus olhos não denotavam mais tristeza, talvez nem fosse ela, ou talvez apenas um disfarce.
— Ah, vocês realmente acreditaram na história da Isabel? — disse Anton em um tom sarcástico enquanto fitava os olhos de Mariana.
— O quê? Era mentira esse tempo todo? — perguntou José.
Nesse momento Ágata surgiu da névoa mais escura, parecia confiante.
— Veja que engraçado, a menina prometida acha que vai vencer alguém muito superior.
Enquanto José e Mariana se jogavam do penhasco, Isabel segurou Ágata com muita força, que já se preparara para pular.
— Por que você me puxou? — perguntou Ágata. Com pressa, Isabel disse em poucas palavras:
— Vamos, não há tempo, conto-lhe tudo no caminho. Não podemos perder tempo.
Correram com uma rapidez abissal, as árvores pareciam desprender o caminho, como que as ajudando a chegarem mais rápido.
— Veja, eu montei uma armadilha para Anton. Contei-lhe que Mariana havia armado tudo, e que ela continha um poder de ilusão muito grande. Contei-lhe que vocês tentariam voltar para a realidade. Anton está esperando a todos!
— Como assim? Explique-me direito.
— Voltaremos ao castelo, pegaremos seu diário e arrancaremos a última folha que contém seu verdadeiro nome, seu verdadeiro nome de demônio. Demorei bastante tempo para conseguir um poder de ilusão que pudesse enganá-lo.
As meninas entraram no castelo, muitas almas perdidas estavam em todos os cantos. As duas conseguiram ver como era antes de Anton matar a todos. Uma imensa sala, uma orquestra que estava a tocar as músicas de Beethoven, uma mesa de jantar repleta de pessoas da nobreza, e um homem que parecia algum rei, ou alguém muito rico, dando uma espécie de sermão para todos ali mesmo. Parecia muito ser Anton ainda quando estava vivo, estava a propagar sua revolução.
O clima da casa parecia mais real, ao subirem as escadas de madeiras, viram várias crianças descendo as escadas alegres, com a camisa que simbolizava a revolução de Anton. Ninguém parecia enxergá-las.
Chegaram ao último andar e o diário de Anton estava em cima da cama.
— Vamos rápido, ele está chegando, posso sentir. — disse Isabel.
Ao abrirem na última página, tinha um nome esquisito feito com a página rasgada, o nome escrito estava assim:
MOLOCH
— Você deve rasgar essa página e recitar o verso. — disse Isabel.
— Eu? Mas não é você quem tem o poder?
— Sim, mas quem está nesse ciclo é você, você é a escolhida de Anton. Vamos, rasgue logo a página.
Sem hesitar, Ágata arrancou a página, e teve um severo corte em sua mão, seu sangue cobriu o nome
‘Moloch’.
— O sangue puro tem poder contra o mal. — enfatizou Isabel.
Correram em direção ao penhasco e se atiraram.