Isabel sentira um pouco de medo, mas lembrouse que seus pais não foram covardes e lutaram até o fim.
— Sim, temos que tentar fazer algo! — respondeu Isabel, um tanto confiante no plano que estava a se traçar.
— Lembre-se que meu irmão está preso em algum lugar do submundo. Acredito que Anton esteja ocupado com ele.
— Temos que ter cuidado com as almas perdidas, basta não olharmos fixamente em seus olhos.
Suspiraram em concentração e saíram pela porta da casa. Ao caminharem, sentiram que o chão parecia se formar com ossos apodrecidos. A pequena igreja estava com a porta entreaberta, mas aparentemente apenas tinha uma grande mesa em uma sala.
— E agora? O que pode significar esta mesa aqui? Não era para ser uma igreja? — questionou Mariana.
— Sim, isso que todos da vila perguntaram, mas nós nunca tínhamos a real noção de onde isso poderia nos levar.
— Como que iremos conseguir a passagem por meio dessa sala?
— Calme-se, só temos que achar o lugar certo para pisar, em algum lugar do chão tem uma madeira solta. Meus pais disseram que conseguiram acesso, que há um túnel. Isso que me lembro. — disse Isabel, um pouco confusa.
— Vamos tentar achar esse lugar secreto então! — disse com confiança, Mariana.
— Não é fácil assim. Dizem que um dos demônios de Anton habita nesse local.
O estrondo que vinha do quarto de Anton era diferente, José sentia-se preocupado com os planos do mesmo para daqui a algumas horas, ou alguns instantes agonizantes. Qualquer segundo era sofrimento naquela cela onde nem sequer podia-se sonhar.
— O que podemos fazer para sair deste lugar, querida?
Ágata, em estado de choque, nada disse por alguns instantes. Cada minuto que era passado ali simbolizava o inferno ali vivido.
Alguns passos desfolhados, quando achavam que não iriam conseguir, Mariana e Isabel sentiram algo solto em seus pés.
Mariana abaixou-se, retirou um pedaço da madeira, e debaixo de uma camada de terra havia um botão de ferro que foi pressionado.
Instantaneamente, as paredes moveram-se para o lado e uma escada de pedra dava caminho a uma passagem subterrânea.
— Ali está a passagem que os meus pais descreviam pra mim. — lembrou-se Isabel.
— Não é a primeira vez que vejo uma passagem secreta, mas essa é bem intrigante. — disse Mariana, admirando-se.
— Vamos, não podemos deixar anoitecer de vez, é quando as almas caçam os corpos. — alertou
Isabel.
Desceram as escadas silenciosamente como se estivessem a levitar, e no túnel sombrio vários corpos estáticos estavam a sorrir.
— Esse lugar é do mesmo jeito que meus pais contavam a mim, eu posso sentir cada detalhe.
— Isso seria incrível se não fosse tão trágico.
De repente, um violino desafinado começou a soar por meio da escuridão que era iluminada pela pequena lanterna que estava nas mãos de Mariana, uma voz grave sussurrou no ouvido das duas meninas:

EU VOU PEGAR A ALMA DE VOCÊS!

O desespero se espalhou pelo ambiente e as duas correram em direção ao nada, apenas seguindo a direção reta da razão. Até que os passos fortes cessaram sua força quando uma pequena luz pôde ser vista perto da escada que as levariam para cima.
— Essa foi por pouco, quase a entidade pega uma de nós. — disse Mariana.
— Sim, vamos prestar mais atenção da próxima vez.
Ao subirem a escada, notaram que estavam em uma trilha de árvores. Havia uma placa fixada em uma delas, onde continha uma informação.

SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, PREPARE-SE PARA CONHECER O MUNDO DE ANTON!

— O que seria esse mundo de Anton? — perguntou Mariana.
— A partir daqui, Anton já pode controlar nossas emoções por meio da ilusão. Por isso, não podemos ir em direção a algo que nos chame atenção.
— Vamos tomar cuidado, temos de não chamar atenção destas almas que estão perto das árvores.
Subitamente a escuridão da noite se arraigou pela trilha, e a pouca luz da lanterna as guiava. Alguns passos pareciam ir em direção a elas, vozes e lamentos também.
— Temos que ignorar, pois o medo entregará que ainda somos vivas. — disse em um sopro, Mariana.
Uma voz vinda de uma árvore ao lado que parecia muito a de Adoniran, perguntou:
— O que vocês estão fazendo aqui no mundo de Anton?
— Não responda nada! — disse Isabel.
— Irei tentar, mas é difícil.
— Os demônios do mundo de Anton sabem tudo sobre nossas vidas e usam isso para nos levar para armadilhas. Assim como meus pais me disseram.
A entidade deu um riso profundo, e ironicamente disse:
— Cadê seus pais, Isabel? Você precisava ver os rostos desfigurados dos dois, fui eu quem os atraiu!
Os olhos de Isabel encheram-se de lágrimas e um profundo ódio lhe corroeu, mas não poderia se embriagar com aquilo, não poderia nem interagir, nem acreditar naquele demônio.
— Vocês duas são bem novas, como vieram parar aqui?
— Eu sei, foi para procurar José. Anton já deve ter dado um fim naquele moleque, junto com a namoradinha dele.
— Vamos mentalizar que este demônio não está aqui, que não existe. Meus pais sempre me diziam que isso os afastava por algum tempo. — disse Isabel, ainda ao lembrar dos pais.
— Vamos, temos que conseguir uma forma de não cair nas armadilhas.
Ao caminharem mais alguns metros na escuridão, perceberam uma parede imensa repleta de folhas.
Havia um verso no meio delas.

Meu mundo irá te mostrar o silêncio, Tua dor será o assombroso passado. Junte-se a Anton neste sacramento, Vamos mudar o mundo, um estado!

— Estes eram os versos que Anton e o líder da vila diziam a nós quando terminava o culto. Não lembro de meus pais me citarem esse detalhe.
Mariana ficou em silêncio, nada a dizer diante de algo tão programado pelo mal. Até que decidiu perguntar:
— Como passaremos pela parede?
— Teremos de escalar essas raízes em volta das plantas.
Pensaram alguma outra forma, mas decidiram escalar as raízes. Quando subiam uma raiz, a outra era consumida para o abismo.
— Vamos continuar a subir, isto é apenas uma ilusão! — disse Isabel com imensa certeza.
Chegaram na última raiz, quando perceberam que existia uma caverna do outro lado, mas que para chegar lá, teriam de atravessar o mar.
— Vamos ter cuidado com esse mar, meus pais disseram que ele nos puxa para dentro de Anton, fortalecendo-o ainda mais, alimentando-o.
— Vamos ter que atravessar por essas árvores, certo?
Com muito cuidado, atravessaram o caminho pelos galhos das árvores.

 
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