Amanheceu, tudo parecia normal. Estava frio, Mariana levantou-se da cama e olhou pela janela (como de costume), foi ver seu irmão. Percebeu que ele não voltara, tentou reanimá-lo, mas nenhum resultado. Não perdeu tempo, e rapidamente correu até a árvore, correndo chegou até a casa de madeira.
Ao chegar lá, gritou por Adoniran.
— O que houve, filha?
— Aconteceu algo muito sério!
— Diga-me! — respondeu Adoniran, preocupado.
— José está inanimado desde ontem, creio que apenas seu corpo está aqui, não sei como isto foi acontecer.
— Projeção astral, já li algo sobre isso, mas nunca presenciei. Uma barreira foi criada e não posso voltar à ilha, não sei como lhe ajudar.
— Mas o senhor não tem ideia de como posso encontrá-lo?
Estevão, seu pai, saiu por detrás das árvores, e preocupado, disse:
— Filha, você está aqui! (Abraçou-a). Como que isso aconteceu com José?
— Não sei como, nós estávamos abatidos por aquilo que aconteceu com o senhor, José estava parado por algum tempo lá fora. Assim, perguntei-lhe algo, e ele subiu as escadas rapidamente. Quando o vi depois, estava aparentemente dormindo. Hoje, tentei acordá-lo, fiz de tudo, mas não esboçou nenhuma reação.
— Mas ele respira bem? — indagou Adoniran.
— Sim, até se mexe algumas vezes.
— Isto é muito sério, vi um caso parecido na infância.
Passaram um tempo refletindo, mas nenhuma conclusão foi tomada. Aliás: Onde estava José?
Anton estava tocando uma valsa naquela sala obscura. José e Ágata tinham de dançar no centro da sala. Como expectadores, os corpos mortos. Os dois estavam em uma dissonância de sentimentos: ora felizes por estarem juntos, ora aterrorizados por aquele lugar. Não tinha para onde correr, agora as portas estavam trancadas, só ficaram abertas para a emboscada.
O mal tinha o controle de tudo, e os espelhos foram espalhados por todo o palácio. Ao fim de cada música, os dois tinham de curvar-se ao “deus”, assim era a sua vontade. O jantar estava à mesa, Anton gostava de jantar a carne estragada de suas vítimas, além de cozinhar seus ossos com vestígios de carne. Obrigava os dois a comê-los, senão eram chicoteados por um longo tempo, as costas de Ágata eram marcadas. Deviam ser subservientes ao mal, essa era a primeira regra.
— Sabe por que é bom viver eternamente?
Todos os dois tinham de perguntar o porquê ao mesmo tempo.
— Porque irei continuar matando eternamente mais e mais pessoas, e continuarei a aprisionar aqueles idiotas da ilha.
Anton também gostava de pintar o rosto de sofrimento de Ágata, disse ele que quando ela estivesse pronta, plantaria nela a semente do mal. Era especial.
A mãe estava sentada na cadeira de balanço, nada lhe restara da sanidade, tinha o olhar confuso, nada dizia; de seus lábios, apenas um zunido melódico. Não saía mais daquele lugar, não queria mais se alimentar, definhava com o tempo. Agora, só restava Mariana para ajudar a todos.
Andando pelas areias, tudo parecia mais vazio ainda, as pessoas não saíam de suas casas mais, cada vez mais deserto. Olhando ao mar, era como se somente ela estivesse ali: sentada, pensativa e sem saber o que fazer.
— Senhor, dê-me alguma ideia!
Algumas sombras vinham do horizonte, de um lugar onde a mesma nunca teria ido, parece um novo espaço. Os ventos carregavam-lhe os cabelos, passos lentos e largos, o mar beijava seus pés. Ao aproximar-se, as sombras ficavam cada vez mais intensas, em um tom azulado; o céu, como de costume, fechava-se, avisando que mais uma tempestade iria cair.
Ao chegar às sombras, nada acontecera por alguns instantes, até que as areias a engoliram, sem piedade. Seus olhos, fechados, e sua mente não faziam ideia do que estava a acontecer. Quando se viu em um lugar ainda mais sombrio, parecia que estava a anoitecer, coberto de uma névoa um pouco leve, e uma casa de madeira após uma ponte.
Atravessou a ponte, embaixo passava um furioso mar. Estava tipo em uma trilha, árvores rodeavam o caminho. Subiu três degraus de uma pequena escada e abriu lentamente a porta da antiga casa, apenas aparecia um armário vazio. Caminhou lentamente e passou pela primeira parede, duas mulheres estavam sentadas em um sofá (estáticas), mas não notaram nenhuma presença. Mariana chegou a pensar que eram bonecas de cera.
Subiu lentamente uma escada que levava ao andar de cima, mas não tinha nada lá. Na casa não tinha nada demais, e a mesma queria mais informações sobre José, mas na primeira casa não conseguira nada. Saindo da casa, Mariana viu que no caminho ainda existira uma trilha que levava, aparentemente, a nada. Deu alguns passos e algumas pessoas apareceram em sua frente com o passar do tempo, mas também estavam paradas.
Mais uma casa igual a primeira, mas esta estava completamente vazia. Então, continuou a caminhar pela trilha, quando uma imensa porta com um símbolo estranho foi notada. Era um pouco pesada para abrir, mas lentamente, Mariana conseguiu. Ao olhar para frente, deparava-se com uma pequena vila, tinha apenas cinco casas pequenas, porém haviam algumas pessoas jogadas pelo chão, estavam sem vida.
A primeira casa era normal, só tinha um quarto e uma mesa dentro, nada fora do comum. Na segunda casa, haviam dois quartos, nada mais, porém, várias manchas de sangue e cheiro de sofrimento. Na terceira casa, apenas um vazio, mas nos cantos da parede uma garotinha estava chorando. Mariana, um pouco assustada, perguntou-lhe:
— O que aconteceu, menina?
A menina, que aparentava ter oito anos, virou e, com os olhos cheios de lágrimas, disse:
— Eles mataram todo mundo, estou com saudades dos meus pais. É perigoso lá fora.
Mariana viu que em suas mãos havia um pingente. Intrigada, fez uma pergunta à menina:
— O que é isto em suas mãos?
— É um pingente que minha mãe me deu antes de morrer, ela pediu que eu me escondesse aqui no porão de casa e que segurasse bem forte.
— Porão? Onde?
— É só você pisar nessa madeira em falso que descerá automaticamente ao porão, mas não tem nada lá, é só para me proteger.
— E como é seu nome?
— Isabel.
— Bonito seu nome. Quando que isso aconteceu com o vilarejo?
— Semana passada, Anton enganou há algum tempo o chefe do vilarejo, enganou com uma chamada revolução, prometeu que iria deixar todos os povos com os mesmos direitos, todos seriam iguais, pois estamos em uma área rural da Europa e, segundo ele, não tínhamos os mesmos direitos da cidade grande, sempre tivemos vontade de conhecêla. Assim, o chefe da vila nos traiu.
— Como assim, traiu vocês?
— Pois acreditou na utopia de um revolucionário que matou milhões de pessoas, ficamos sabendo disso quando quase todos estavam mortos.
— Já ouvi a história da guerra. Como fazemos para sair daqui?
— Se eu não me engano tem uma igrejinha ao fundo, temos que tomar cuidado para eles não nos verem.
— Eles quem?
— As almas perdidas. Anton nos colocou no submundo, por isso você pode ver tantos corpos parados, quando eles veem alguém, correm para tomar sua alma. Seu corpo deve estar parado em algum canto.
— Deve estar naquela praia… — pensou Mariana.
Mariana ficou um pouco parada, pensativa, e fez a pergunta decisiva:
— Vamos tentar achar meu irmão? Não custa tentarmos.