Capítulo VII

Querida, estamos passando por um momento complicado agora, você sumiu de minha vista e eu não sei onde estás, se estiveres me vendo de algum lugar, entre em contato comigo. Chegaste em minha vida num momento muito especial, quando te vi senti algo muito forte, algo que eu nunca havia sentido.
Fomos unidos por algum motivo, não acredito que tudo foi por acaso, cada momento que passei contigo
(apesar de pouco) valeu a pena, fez com que eu me tornasse um homem feliz, um homem completo, mesmo que isso seja um sentimento novo, algo sublime.
Não sei se irei te ver novamente, escrevo tudo isso com sinceridade. Contigo tudo tem cor, o medo passa a ser tolerável, não sei se irei conseguir sobreviver se não estiveres aqui, só a possiblidade de te perder torna-me um ser solitário, a tristeza corrompe minha alma e me cega, muito pior que um pesadelo.
Tornaste meus dias mais felizes, deixaste-me com mais coragem e com mais vontade de nos tirar daqui, quero formar uma família, é muito profundo esse sentimento. Por mais que seja nestas circunstâncias, sinto que este é o momento exato para lhe dizer que sinto isto.
Sei que além do oceano deve existir algum lugar melhor que essa prisão, não sou poeta, mas te faço este verso:

SEM TI

Sem ti, meus olhos cegam,
Minha mente esvazia em lágrimas,
A ternura se esconde no vazio
E rega a dor da triste madrugada.

A tempestade deságua em si mesma,
Os raios se esbarram e formam o dia,
As flores sangram no escuro luar
E aprisionam o ardor da melancolia.

O arrebol acompanha as horas,
Que nem me deixam dormir,
Sinto o silêncio me ensurdecer
Com a saudade do que nem vivi.

Traga-me de volta os doces anseios,
Até a angústia de às vezes não sorrir,
Pois as correntes que semeiam o medo
São bem mais frágeis que o de viver sem ti.

Espero que estejas no horizonte de meus passos, guia meu sono e entra nos meus sonhos, espero-te aqui, nem que se passe um milênio, nem que esteja no leito da morte, hei de te amar até quando não houver mais amor; hei de te amar até a morte bater em minha porta e me levar para o além; hei de te amar para sempre, até depois da eternidade, até quando acabar o infinito.

Enquanto escrevia, de seus olhos saíam lágrimas devastadoras, Mariana presenciou tudo e também estava chorando, estava abraçando e consolando seu irmão; nada mais o fazia sentir medo, agora Anton se enfraqueceria pela saudade.
Ágata estava desaparecida, todos da cidade a procuravam incansavelmente, havia uma operação com quinhentas pessoas que a procuravam por todos os cantos; já se passava uma semana e José estava jogado em sua cama, nem ao menos comia, estava muito doente, a tristeza imperava em seus olhos, e até escrevia alguma coisa que de repente surgiu no ar, e se emancipava do invisível.

Sonhei contigo ontem, e minha solidão até sorriu…
Para ti guardo meus sonhos e meu destino incerto, mesmo que
As frases emergiam da devastação, não importava o tempo que passasse, nem os dias que morressem, José sempre lembraria de sua amada até o fim.
Assim, José prometera a si mesmo que iria achar Ágata. Talvez seria impossível conectar-se com sua amada, mas faria o possível. Uma ideia surgiu em sua mente e, correndo para fora da casa, essa mesma ideia ia se fortalecendo, Mariana o seguia.
Quando olharam para trás, perceberam que no lugar da casa de madeira, havia um espaço vazio.
— Não pode ser! — disse aflito, José.
— Não entendi absolutamente nada, quer dizer que isto foi uma armadilha? — questionou Mariana.
— Acho que sim. — respondeu José.
Um silêncio tomou conta do ambiente, as areias começaram a voar, dificultando a visão. Quando tudo ficou claro, José e Mariana estavam dentro de uma floresta com várias trilhas. Haviam três trilhas, uma levava ao leste, outra a oeste e outra ao norte; depois de uma leve conversa, resolveram escolher o caminho a oeste.
Algumas folhas caíam lentamente, e as raízes das árvores formavam uma escadaria, tudo calmo e em leve som, o caminho ficava cada vez mais estreito e um pouco escuro. Quando se deram conta, estavam próximos a uma pequena queda d’água, cerca de um metro, era o início de uma obscura cachoeira.
Caminharam por algumas cavernas, sempre parecia haver algo de errado, Mariana comentou que parecia já ter visto um lugar assim, não parecia em nada com a vila, ninguém ainda teria descoberto um lugar assim. Parecia vir de um sonho que a mesma teve quando criança.
Em cima das rochas, os dois avistaram o abismo que estava em baixo, e uma cachoeira de ao menos cem metros do outro lado. Mariana recordou que aquilo vira de um sonho seu. Foi quando a sombra de um homem pareceu cair na água, que parecia cristalina.
Aquela sombra pareceu subir lentamente, quando chegou perto desapareceu. De repente tudo escureceu e ao olharem para trás estavam na casa de Adoniran mais uma vez.
— Consegui resgatá-los a tempo, tentem não cair na ilusão que Anton os põe. — disse Adoniran.
As respostas vieram em uníssono:
— Mas como? Parece tão real!
— Quando vocês virem algo impossível de acontecer, tentem não acreditar tanto, ele consegue fazer com que o sonho de vocês se torne realidade.
No caso, vocês tinham três trilhas, cada uma entraria no subconsciente ou de José, ou de Mariana, ou de Ágata.
— Mas por que o de Ágata? — perguntou José.
— Porque vocês três têm um laço em comum, e devem salvá-la, com o tempo tentarei dar o caminho para que possam encontrá-la.
— Pera aí, mas como você irá nos comunicar? — perguntou Mariana.
— Vejam bem. Anton tem informantes, eles são vistos por meio de sombras, então você nunca pode contar algo que pode fazer quando um deles estiver por perto. Você pode saber que alguém está por perto quando houver uma mudança de temperatura, quando uma leve ilusão vier, quando pensamentos estranhos surgirem. — alertou Adoniran.
Todos perceberam uma diferença no tom de voz de Adoniran, na repentina mudança de clima, a escuridão mais uma vez chegou e quando uma luz pôde ser notada, a areia lá estava. Voltaram para o mesmo lugar de onde estavam, e a casa não estava lá. Tiveram o aviso de que a ilusão que Anton punha na cabeça tinha resultado naquela tragédia.
O relógio marcava quatro horas, hora de ir para casa. Eles não poderiam contar do sumiço de Ágata para seus pais. Mas não contariam que o pai dela estivesse lá com os mesmos. Ao chegarem, conversaram um pouco na mesa, era hora do jantar. — Ela gosta muito de você. — disse o pai de Ágata.
— Eu preciso contar algo para o senhor depois. — disse baixinho, José, em tom de preocupação.
— Ela passou o dia todo normal hoje, voltou da investigação com vocês e contou os detalhes do que investigaram na casa. Acho que ela reagiu bem.
Então José e Mariana se entreolharam assustados, e uma falha na luz deixou por milimétricos instantes o local escuro. Quando as luzes se acenderam, o pai de Ágata não estava mais lá. Sentados na mesa, perceberam que nada havia na mesa e que o local estava completamente vazio.
Passaram a procurar desesperadamente pelos pais, que não respondiam aos seus chamados.
— Será que aquilo está acontecendo? — indagou Mariana.
— Não sei, parece tão real.
— Vamos fechar nossos olhos e contar até três, tudo bem?
Um, dois, três…
Quando abriram os olhos, desesperaram-se ao notar que aquela maldita trilha os cercava, ainda com as três passagens.
— Não pode ser, isso é muito forte, vamos tentar novamente! — disse Mariana, sem nenhuma esperança.
Um, dois, três…
Quando abriram os olhos, nada mudou. Alguns minutos em silêncio, e decidiram escolher o caminho leste. Logo no começo, notaram que o chão não continha raízes de árvores e que das árvores estavam a entrar em um túnel, esse túnel tinha muitas curvas e os sussurros eram ouvidos agonizantemente.
Logo esse túnel era revestido de corpos humanos, quando perceberam que o mar separava parte da caverna e que no seu fim havia um resquício de luz vindos de cima, um pequeno espaço por onde poderiam sair. Escalaram as pedras e subiram à superfície.
Almas pareciam vagar, e pela primeira vez entraram em contato com o que poderiam chamar de cidade. Porém, tudo estava destruído, uma névoa cobria tudo, uma energia extremamente negativa. E logo a poucos metros havia a imensidão do mar.
Tudo parecia com a descrição da cidade de Lisboa, na parte onde construíram a arca para fugir dos revolucionários. Alguns soldados caminhando por ali, e em sua farda tinha o símbolo da revolução. Um corpo estava rastejando pelo chão e chamou a atenção dos dois.
Ao se aproximarem, o tal corpo masculino se desfez em pedaços, e com esses pedaços, uma letra se formou: a letra A, de Anton. Avistaram um pouco distante um palácio enorme, parece que era lá que Anton ficava. Estava trancado, e a porta do palácio se assemelhava bastante com a que Ágata entrou.
— Era essa mesma porta que se formou naquela parede! — exclamou José.
— Isso! Lembrei-me agora deste detalhe.

 
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