Capítulo III

José experimentou conversar com sua mãe, perguntou-lhe se ela sabia quem era ou quem foi Adoniran, algo totalmente negado. Segundo a mesma, Adoniran só foi o homem que tentou construir o barco para sair de Diamantina mesmo, não tinha como se ter muita informação sobre ele, pois vivia isolado, sem nenhum contato com a maioria das pessoas.
No momento em que ela terminou sua explicação, algo correu para a plantação de milho, e o senhor Estevão mandou José ir ver o que era aquilo. Um pouco com medo, José foi em direção ao espantalho, pois era para lá que a coisa estava indo.
Ao se aproximar cautelosamente do espantalho, percebeu que nada estava ali, foi quando sentiu uma presença nas costas, e sentiu que alguém o tocou, quando virou o rosto sentiu um baque muito forte lhe ultrapassando a cabeça, e desmaiou. Tudo escureceu, seu corpo ficou extremamente pesado e quase transpassou o chão.
José acordou em uma casa diferente, levantou-se e ninguém estava ali, saiu do local e percebeu que estava em uma formosa praia, porém estava mais para deserto que para praia; não existia mar, foi quando ele viu um homem no horizonte, este homem estava de preto, e conversou José.
Tratava-se de Adoniran, ele reforçou que José deveria ter muito cuidado, pois ele (o mal) tinha o poder sobre o mar, por isso que ninguém podia sair dali; esse mal se alimentava com o medo das pessoas, com a curiosidade pela história, com a perversidade das mentes; ele manipula a todos da maneira que quiser, poucas pessoas conseguem se livrar desta presença maligna.
Adoniran reforçou também que José deveria correr atrás de seus próprios sonhos, que por mais que discordasse dessa tentativa do jovem, não deveria desistir, pois se José conseguisse, todos estariam livres. De repente tudo ficou tempestuoso, parecia que os dois estavam dentro de um vulcão, e Adoniram disse: Tenho que ir imediatamente, ele está próximo, não pode me ver aqui contigo, eu desisti de tudo, matei-me, agora ele me mantém mais preso ainda.
Parecia que Adoniran tinha se sacrificado, por mais que em sua concepção fosse errado a pessoa se suicidar, isso seria uma bela atitude se servisse para salvar alguém, ainda mais tratando-se de aproximadamente cinco mil pessoas.
José acordou de verdade e seus pais estavam desesperados, preocupados com o filho, e a sua irmã estava até chorando, eles eram muito bons de coração; tudo ficou bem, mas quando estava abrindo os olhos lentamente viu um rosto desfigurado atrás de seus pais e deu um grito, um susto, parecia que tudo isto era um pesadelo, mas era apenas um presságio do horror que estava por vir, do desafio que teria pela frente.
A nebulosa e faminta estrela estava pairando nos raios do infinito, das janelas do quarto de José surgiam as sombras agonizantes no horizonte, haviam figuras surgindo por meio do pouco brilho que vinha da lua cheia, algo mexia-lhe os cabelos e lhe arrepiava a espinha, mas algo o prendia na cama, estava paralisado, sem nenhum meio de defesa.
A sombra começou a vagar pelas paredes num silêncio ensurdecedor, e se aproximaram de José, um resquício de ruído parou em seu ouvido e chamava seu nome; relutante, ele conseguiu se mexer e correr para fora do quarto, algo em sua mente dizia que estava sonhando; tudo estava escuro, e as luzes pareciam estarem fracas, as lâmpadas não acendiam, e um terrível suspense começava a vagar pelos polos de seu inconstante pensamento.
Um ruído vinha do porão, e algo chamou o nome de José. Impactado com isto, o rapaz caminhou lentamente até a escadaria que o levaria para seu terrível pesadelo, o clima estava tenso, todos da casa estavam dormindo, algo o chamara atenção até lá embaixo, algo desconhecido, o que poderia ser perigoso ou não.
Desceu às escadas como num soluço, e as névoas da escuridão ultrapassaram os olhos. A partir desse momento ele ligaria o lustre que estava em suas mãos, estava com o coração acelerado, estava com o corpo endurecido, e viu que tudo estava vazio.
O medo sumiu repentinamente e a calma esboçou um leve sorriso em seus lábios, pelo visto tudo era imaginação dele, pois estava focado nisso, e sua mente poderia estar criando coisas que o assustassem. Ele resolvera pensar desse modo, mesmo sabendo que havia algo de errado bem a fundo, tudo estava muito claro, mas ao mesmo tempo muito incerto.
Voltou para seu quarto e agora as luzes funcionavam perfeitamente, respirou um pouco e voltou a dormir. O dia iniciou muito bonito, mas parecia melancólico, parecia que estava triste, carregado de enigmas, tomado de nuvens incólumes, nuvens que pareciam metais hiperbólicos.
José resolveu caminhar até a praia para refletir um pouco. Embora não tivesse medo do mar como as demais pessoas do povoado, ele até sentia um pouco das ondas sobre seus pés, sentava um pouco nas caudalosas areias e às vezes até conduzia a elas algumas perguntas que nem sequer precisavam de respostas.
O término do amanhecer acordava alguns sentidos do jovem, e no espelho das árvores seu reflexo lhe mostrava algumas mudanças, as marcas do tempo que se passava. José, conversando consigo mesmo, chegou à conclusão de que conseguiria resolver esse mistério, e prometeu a si mesmo que continuaria tentando.
Levantou-se do insólito de ideias e vestiu-se com o manto da coragem, e também começara a enxergar algumas sombras que configuravam-se a sangue a cada olhar fixo, algumas vozes estavam caminhando sobre o subconsciente, e José não tinha a quem contar, pesquisou diversos temas na velha casa de Adoniran, uma semana se passava e ele descobria mais novidades a cada dia.
Descobriu, portanto, que Adoniran sabia do antepassado de sua família, e que todos foram desaparecidos gradativamente, apenas teria sobrado ele, e estendendo-se no varal do tempo, foi o último a conduzir uma praga secular que foi lançada ao decorrer das gerações; acontece que esse mal ia se alastrando, as famílias iam diminuindo e eram totalmente esquecidas, ficavam invisíveis.
Isso também poderia acontecer com José, o mal colocava sua doce face por um lado e atacava pelo outro. Talvez algumas pessoas da ilha soubessem disso e por algum motivo não procuravam mais informações; José estava sentado no antigo sofá de Adoniran, pensando em uma solução.
De repente, ouve passos vindos do além, parece que está destruindo toda a mata em volta, José se esconde e logo percebe que há uma garota se aproximando, era bem afeiçoada, sua pele era esbranquiçada como a neve, seus olhos eram tão verdes quanto as folhas que caíam dos arvoredos, seus esvoaçantes cabelos tremulavam aos céus como o segundo movimento da sétima sinfonia de Beethoven, perdurado até a última gota da tempestade.
A moça assustou-se ao notar que José estava escondido, perguntou-lhe quem era (como em todo o início de conversa), José respondeu-lhe e em seguida devolveu-lhe a mesma pergunta, sendo a mesma respondida com uma entonação suave, doce, defenestrando o subsolo do medo. Seu nome era Ágata dos Anjos.
José tinha quinze anos e a moça, quatorze. Conversaram por alguns minutos, coisas pessoais do tipo “Quem são seus Pais?”, “Onde você mora?”, “O que estás fazendo aqui?”, “Onde você estuda?”; perguntas estas que foram “polograficamente ” respondidas.
Ágata era filha de comerciantes, estudava em uma pequena escola perto de sua casa, o Centro de Estudos Platão, e estava ali naquele exato momento por curiosidade. Seu pensamento foi instigado a ir ali ao saber da história de Adoniran Coelho, a moça disse sentir muitas dúvidas acerca dessa história e também disse que queria ver o que estava além do oceano.

 
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