Nossos corpos um pouco distantes,
Um tanto sem cheiro, sem emoção…
Por que não olhas pro horizonte
Como em uma constelação?
Por que não vês que o coração
Está corrompido pela ilusão?
Como uma armadura que acorrenta
A voz, e que chora em solidão.
É um frio que congela a voz,
Que destrói cada doce nó
Como um trovão de sentimentos
Que deixa no labirinto, seu tormento.
E o suspiro deste tormento
Deságua como a eterna foz,
Caminha pelo eterno vento
E pela eternidade se esvazia, só.
Como num suspiro,
Sem vento, sem abismo algum,
Sem forças, sem grito nenhum
Vai desabafando, andando e caindo;
Recaindo, sorrindo e construindo…
E assim vem nascendo o sol
No horizonte em que habita, sem dó,
Destruindo seus raios sem luz
Como se em sua alma, sem nada,
Repousasse o que lhe conduz.
Assim, toco em suas mãos,
Sem ar, minhas amargas ilusões;
Em teus olhos, remotos, um beijo
Refletindo o incauto desejo, um suspiro.
Apenas um suspiro.
(Poesia inspirada na música ‘Un Sospiro’, de Liszt)
Itacoatiara-AM, 30 de janeiro de 2020.