Minha voz se escondeu em teus braços,
Dela fora furtada a frágil emoção
E por um triz pensei que um abraço
A fizesse, novamente, encontrar-se no espaço,
Fazendo-a acordar do abismo da paixão.

Mas tudo tão de repente, tudo em vão;
Escureceu-se, e nem ao menos uma palavra,
Apenas um gemido de profundo sono,
Um profundo soar, um leve espanto,
De volta à caixa onde, em prantos, ficava.

Lentamente, um leve soluço
E um invisível verso fora dito em instantes,
Tão breves quanto o eclipse da luz,
Eternos como o brilho que conduz
Ao ínfimo gorjeio dilacerante.

Lamúrias internas quase fixavam-se
Em sua primeira e agonizante frase;
O vento parava de soprar, finalmente,
E em longos sons, dizia delicadamente:

Irás melhorar, é só uma fase.
A moça estendeu-lhe as mãos
E contou-lhe, vagamente, outra história;
De seus olhos as lágrimas desciam,
Seu incauto amor, desconhecia,
Apenas a dor guardava na memória.

Sua voz um tanto tristonha
Ecoou aos ouvidos do rapaz:
Essa apagada chama enganou-me
E com palavras vazias, entregou-me
A um desconexo sentir, que me tirou a paz.

Digo-te com verdade até o que minto,
Conheço-te e vejo-te diante de meus sonhos;
Peço-te que me dê a oportunidade de contar
O que representa este sentir a me transpassar
Dos imbróglios, demasiados agnósticos ao plano.

Diga-me o que tens de dizer rapidamente,
Pois nada já me tira a amarga tristeza,
Sinto-me rodeada de uma confusão
Que desconecta toda minha razão.

Congelo-me em mentiras e incertezas.
Por conhecer-te há tempos, confesso-te
Algo inconfessável por minha covarde voz,
Que se contenta com o silêncio,
Por se contentar, retrai o sofrimento,
E por retrair, afasta-te toda vez.

Diga-me em alto e claro som,
Pois a dúvida me toma o espírito;
Nunca tive coragem de expressar
Meu doce sentir a inspirar
Os impetuosos pensamentos líricos.

Pois diga-me o que tens de dizer,
A dúvida nos corrompe a alma;
Conte-me este teu quase segredo,
Este vasto e esplendoroso enredo
Que tens de segurar, em calma.

Como uma amizade pode ter segredo,
Se compartilhamos de todo universo?
Como podemos nos esconder
Por detrás deste irreconhecível ser
Que nos limita o sentir sincero?

Feche os olhos e imagine o luar,
Solte os pensamentos duvidosos
E alimente-se do que realmente sentes,
Sem a loucura, sem o que limita a mente
De desfrutar dos dias gloriosos.

A moça fechou os olhos lentamente,
A escuridão lhe tocou o devaneio.
O rapaz tocou (como na flor) em suas mãos,
Algumas carícias em seu rosto (na escuridão)
E não mais que de repente, deu-lhe um doce beijo.

As chamas congelaram o coração,
Em minutos, os olhos se entreabriram
Como um par de pétalas que exalam
Pelo florido campo no qual estavam,
Às estrelas, na mesma hora, sorriram.

Minha voz se escondeu em teus braços,
Dela fora furtada a frágil emoção
E por um triz pensei que um abraço
A fizesse, novamente, encontrar-se no espaço,
Fazendo-a acordar do abismo da paixão.

Porém somente quando ela reverberou
Pelo campo onde se encontrava um pranto,
Pelos cantos onde se escondiam os desejos,
Pelos límpidos sentidos carregados no medo:
Pôde-se encontrar, finalmente, um acalanto.

Itacoatiara-AM, 13 de fevereiro de 2020.

 
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