Visto-me com o retalho da madrugada
E vejo-te na aurora de minha janela;
Nesse momento as lágrimas, em caminhada,
Descem sobre a ilusão, que desespera.
E de desespero, torna-se constante
Esta imensa dor que me agonia;
Este suor que me descerra, errante,
Feito um doce soar de melancolia.
E a melancolia me tira a angústia,
Pois dela teus olhos vêm em desespero,
Contam-me como está triste a volúpia,
E do peito, apenas os retalhos de segredo.
Segredos que me acorrentam no delírio,
E deliberam dos venenos, seu mel,
Em tons do mais colorido martírio;
Deixam-me à deriva do perigoso céu.
Céu este que me vem nos dias
Em que a saudade invade minha loucura;
Invade feito uma rancorosa armadilha,
Como um deleite que me tem em amargura.
Teu límpido esboço amanhece
No jardim de meus olhos, que não veem
A realidade por detrás desta prece:
A que escurece aos teus lábios terem.
Ter-lhe-ei apenas no pressentimento,
E no pensamento hei de chorar
Pela tua insípida presença no vento;
Pelo teu invisível abraço a me consolar.
De dia, apenas ouço-te no horizonte;
De noite, sinto-te mais perto, meu norte;
De madrugada escrevo a ti, num singelo monte;
Ao amanhecer, apenas talvez, encontrar-te-ei na morte.
E assim poderei te amar, em teu vestido branco;
Onde, em prantos, imaginara ser o eterno altar.
Itacoatiara-AM, 14 de março de 2020.