Não sei o que houve,
Apenas ouço, relutante,
Os últimos vestígios da dor
Desvirginando meu peito.

Não sei o que houve,
Aquela cor atônita e dançante
Agora está incolor e escura,
Como se estivesse distante.

Não sei o que houve,
O céu reflete a amarga chuva,
Que parece perfurar meu rosto
Como o infinito espinho.

Não sei o que houve,
O espelho, opaco e sombrio,
Ecoa as lágrimas lentamente,
E num segundo desfigura o riso.

Não sei o que houve,
As estrelas brilham com tristeza
Revelando o outro lado da lua,
Tão perto e presente do nada.

Não sei o que houve,
Vejo-me na tortuosa morada
Onde estão meus íngremes segredos,
Dicotômicos à solidão da madrugada.

Itacoatiara-AM, 22 de março de 2020.

 
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