Olhando para o triste refletir
Em frente ao espelho de abismo,
Vejo-me sobre as nuvens a surgir
Diante de meu coração lírico.

E assim que o vento paira no soluço
Do leve rio que vai cantando,
O verso de agonia torna-se mudo;
Torno-me parte de meu pranto.

Um tanto a flutuar no céu,
Meu corpo paira quase distante,
E diante ao ciclo deste amargo véu
Torno-me, em um minuto, pensante.

E assim que suas vestes inundam
Parte de meu ser inexistente,
Este mesmo rio navega na verve
Deste verso que despertou, finalmente.

Olhando para o submundo do ar
Vejo-me no infindo plano
Deste mesmo segundo a sonhar,
Neste mesmo vestígio de engano.

E o pranto, mesmo a suspirar,
Ainda se encontra no largo peito;
Soa-me feito um lânguido amar
Que se perdeu ao achar-se imperfeito.

E a poesia vem, ao monte, surgindo;
Seu abraço me sufoca a alma,
Sua voz acorda o incolor ímpeto
E acalma a mais sublime mágoa.

Assim, reflito-me em suas águas,
Como uma desvairada treva ao dia;
Atiro-me nesta fonte de inspiração inata
Onde entardece a eterna poesia.

Itacoatiara-AM, 10 de abril de 2020

 
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