Saíram então a passear pela cidade, o relógio marcava três
horas da tarde, e o sol estava escondido sob a sombra do infinito,
ao lado da enseada onde eles estavam indo, havia um arbusto
que disfarçava uma escadaria, ultrapassaram este arbusto num
túnel de árvores. As árvores estavam coloridas, e desciam na
escadaria feita pelas raízes das árvores, estavam dentro dos seus
sentimentos, estavam a um caminho sem volta.
SENTIMENTOS
Nossos sentimentos são como as nuvens
Que escondem o sol ao dia e a lua à noite,
Do nada pode vir a chuva, ou a neblina,
Até mesmo uma tempestade invisível.
São como o canto dos pássaros,
Como o grito dos bufos na floresta escura,
Como o sinal do apocalipse que se cumpre,
Como os ventos que sopram as árvores
E depois ecoam suas vozes impuras.
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Bem no fundo do miocárdio estreito
Existe em um canto semiempoeirado,
De uma voz liberta os escombros
Erguidos pelos enganos amordaçados.
Agora estou triste e angustiado,
Agora, feliz e um tanto enfeitiçado,
Depois racional e escamoteável,
Depois sensível e um pouco amável,
Depois fera, raso e, finalmente, amargo.
Quando a névoa que cobre o telhado
Perceber que bem do seu lado
O eixo da abscissa ensina a imagem
Que à sua imagem quer a nova coordenada.
Quando o teorema estiver abalado
Procure Pitágoras para acalmá-lo,
Procure-me para esconder tuas dores
Nos meus versos que buscam temores,
Na conclusão que está embaixo da cama.
No auxílio da estadia de quem ama
É normal programar-se no drama,
Com medo de perder-se à derrocada
Dos instintos que estão no anagrama.
Com certeza tudo isto era muito confuso, mas o que fazer?
Atravessaram a trilha por cerca de quinze minutos, então se
depararam em um lugar afrodisíaco, com cachoeiras envoltas
sobre pedras que estavam lá há milênios, havia um riacho e uma
pequena ponte que atravessava ao lado onde havia infinitas
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cachoeiras, deviam ter uma queda d’água de no mínimo trezentos
metros de altura, com árvores entrelaçadas entre ao final de onde
caíam as águas.
George e Megan ficaram admirados com o que estavam
vendo, era tudo muito diferente, e na cidade não havia um lugar
assim, ninguém conhecia, parece que eles encontraram por um
acaso. Atravessaram a ponte e começaram a ter outra ótica, as
correntezas ficaram mais fortes e não seria bom que alguém
caísse lá. Perceberam, portanto, que enquanto iam se
aproximando do outro lado, o clima ficava fechado, como se fosse
acontecer um desastre natural, um tsunami ou um terremoto.
Quando puseram os pés no outro lado, ambos levaram um
poderosíssimo raio, e desmaiaram. Sentiram que seus corpos
estavam em transição para outro lugar, para outra dimensão ou
algo parecido. Quando abriram os olhos, depararam-se dentro de
uma imensa rocha úmida, estava um pouco escuro e frio, de
repente ouviram um estrondoso barulho.
— Você está ouvindo esse barulho que vem bem distante? —
perguntou George a Megan.
Megan estava assustada, abraçou George bem forte, e disselhe:
— Sim, o que será que pode ser isso? George, por favor,
proteja-me!
— Proteger-te-ei com minha alma, amor! — valentemente,
disse George.
O estrondo se aproximava mais e parecia destruir tudo, quando
perceberam vinha um enorme tsunami em sua direção, as águas
tinham uma coloração diferente, percebendo isto, George gritou:
— SEGURE-ME FORTE, MEGAN!
Megan abraçou-lhe com todas as forças e as águas levaram
imediatamente os dois para um local desconhecido, eles estavam
sendo puxados pelas águas naquela caverna enorme, ao abrirem
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os olhos perceberam vários desenhos e vários momentos de suas
vidas, parecia a eles também uma constante sensação de déjà vu
acorrentando-lhes o presente.
Quando perceberam, a caverna havia desaparecido e estavam
caindo em um rio caudaloso, e quando estavam em terra firme,
perceberam que se tratava da cachoeira, e voltaram no lugar
onde estavam quando foram atingidos pelo raio.
Eles caminharam por alguns minutos, aquela paisagem seria
única na mente dos dois, nem se deram conta de que estava
escurecendo, e perderam-se na trilha das raízes das árvores,
estavam apenas com o som dos rios e os últimos raios do sol no
espaço entre um galho e outro das árvores.
E agora, como voltariam para casa? Estavam perdidos e
andavam em círculos, chegavam a uma parte da trilha onde havia
cinco passagens (assim como no castelo medieval), já haviam
tentado três dessas passagens, porém voltavam ao mesmo lugar,
faltavam as duas passagens. Já estava completamente escura
naquela floresta, então disse George:
— E agora o que vamos fazer? — completamente preocupado.
— Estou com fome, George. — salientou Megan.
— Está muito escuro aqui, não podemos fazer nada. É o
seguinte: vamos ter de deitar aqui neste pedaço de grama e
esperar até amanhã.
Megan estava com medo e sempre estava abraçada sem seu
amado. Nestas horas difíceis que se vê quem é o verdadeiro
amor.
Novamente, com Megan deitada em seus braços, restava uma
luz lá no fundo, era a luz das estrelas daquela noite, certamente
a lua estava cheia, não se sabe, mas naquele momento denotava-se
uma noite mais especial, não eram as dificuldades do
momento que lhes desanimavam, nem o fato de que poderiam
morrer ali sem abrigo, sem amparo, longe de suas casas; o que
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tornava aquilo especial era a presença um do outro era o dia que
eles haviam tido, a primeira vez em tudo. O que realmente era a
força motriz que os movimentava era o verdadeiro amor, não
importam as circunstâncias, mas o que se pode tirar de bom
delas.
“As coisas boas hão de serem superiores às ruins” repetira
George, sua frase e seu dilema, em seguida, em sua cabeça
surgiram novamente inspirações nos versos, e desta vez não
tinha espécime alguma de papel, então os versos soaram:
ANOITECER
O alvorecer da tarde cai lentamente,
Dos meus olhos, gotas insensíveis,
Dos céus, o grito dilacerante,
E a gota da chuva invisível.
Das leves árvores, a trêmula tristeza,
Melancolia desponta o luar do abismo,
Diz-me: Não chore, não abaixe a cabeça,
Está noite sussurrará o passo seguinte.
Não diga adeus aos seus erros,
Eles machucam, mas te ensinam,
E teus acertos são reflexos deles,
A dor é a utopia da depressão,
Que quando vem, instaura a loucura.
Homens sábios deixam seus versos,
Os tolos, a inveja e a tolice;
A fraqueza, o egoísmo, a sandice;
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Terás de ser como esta tarde cinzenta,
Que sempre irá voltar, com sua beleza.
Faça do seu jeito cada passo,
As quedas serão degraus do futuro,
Por mais que digam que és louco,
Prove que és o melhor no que fizeres.
Não deixe que te deixem para trás,
Não tropece nas armadilhas dos ímpios;
Enfim, que o nascer do sol te inspire,
E do alvorecer, que surja a letra
Da canção que a muitos fará rotina.
Megan ficou deslumbrada com o dom que George tinha de
conectar uma coisa com a outra, por meio de metáforas, sendo
assim, George contou à sua amada uma história que o senhor
Beethoven tinha o contado, tratava-se de uma história que os pais
contavam às crianças quando estavam nos campos de
concentração nazista, ou no gulag soviético antes de serem
trucidados, torturados ou mortos (para distraí-las e aguçarem sua
imaginação).
Esta história foi inventada única e exclusivamente para
amenizar a dor destes seres inocentes.
— Posso contar essa história a você, querida? — perguntou
George, com um tom enfático em sua voz a fim de lhe fazer
esquecer aquela situação.
— Pode sim, mas não me faça ficar com muito medo, querido.
— respondeu Megan, com a voz um pouco cansada.
— Bem, contaram-me esta história, assim:
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ois amigos eram caçadores e passavam temporadas na
mata, e lá se refugiavam por alguns dias, e voltavam para
casa com uma grande quantidade de produtos para
vender, assim só voltavam a executar esta tarefa quando se
acabava o dinheiro. Era setembro, e no meio da floresta
amazônica fazia muito calor, estava sendo um dia muito difícil, e
um desses homens disse:
— Ah como eu queria uma mulher para me ajudar!
— Você tem razão, ser homem é muito difícil, ainda sem a
tarefa dividida com uma mulher, sem uma casa arrumada e roupa
lavada, e uma comida gostosa ao chegar do trabalho. —
exclamou o outro amigo.
Eles não tinham nomes, então apenas por meio da
característica podemos diferenciá-los. Um era magro, o outro
gordo; um era alto, o outro baixo; um era corajoso e o outro
medroso. O corajoso houvera pedido primeiro uma mulher para
ficar ao seu lado, o medroso apenas havia salientado a ideia.
Passaram o dia todo fazendo a trilha e conseguindo artigos de
caça, alimentaram-se quando estavam com fome (aliás, eram
muito bons no que faziam). Estava na hora de fazerem suas
barracas, e ao chegarem ao local avistaram distante uma casa
até que bonita, com algumas roupas no varal, de dentro saiu uma
mulher majestosa, com o corpo belo e escultural, morena, com as
características das belas índias da Amazônia.
O corajoso apontou para o horizonte, e disse:
— Olhe ali, só pode ser sorte nossa!
— Não sei não, isso é muito estranho. Da última vez que
viemos não existia essa casa, nem sinal dessa mulher. Você não
acha estranho isso tudo aparecer logo após praticamente
gritarmos por uma mulher? — respondeu meio receoso, o amigo
medroso.
D
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— Que nada! Eu queria uma mulher, e surgiu uma mulher. Meu
amigo, eu sou é Deus! — ironizou o corajoso.
O medroso sabia que algo estava errado, mas esperaria o
tempo dizer se ele tinha razão ou não. Na verdade o medroso era
mais observador, mais técnico, enquanto o corajoso era mais
ligado às emoções.
— Então vocês estavam precisando de uma mulher para
ajudar vocês nos seus afazeres? — disse a bela índia, com o
olhar tocante.
O corajoso, portanto, disse:
— Sim, minha querida. Você chegou na hora exata. Não é, meu
amigo? — disse o corajoso com o olhar arrebatador para o
medroso.
— É… — disse o medroso, um pouco envergonhado.
— Então, vocês não querem entrar para comerem alguma
coisa, parecem famintos! — exclamou a moça, com um sorriso
encantador.
— Sim, vamos lá! — retrucou o corajoso.
Os dois jantaram muito bem, em seguida tiveram suas roupas
bem lavadas. O corajoso dormiu junto à moça, e o medroso
dormiu em outro quarto — certo de que havia algo de errado — e
deitou em uma cama um pouco desconfortável. No outro dia
voltaram a caçar, suas roupas estavam cheirosas, e eles
cevados, bem alimentados.
Mais um dia difícil, estava difícil de achar caça e voltaram
exaustos para a casa, no final do dia. Ela estava sentada à beira
de um barranco, olhando a paisagem de um belo rio, seus cabelos
brilhavam de longe. Quando avistou os homens, foi correndo para
recebê-los; mais um fim de tarde e noite como no dia anterior,
tudo se repetiu conforme o planejado.
Ao acordarem, perceberam que a mulher não estava lá, o
medroso começara a estranhar, porém, tudo ficou por isso
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mesmo. Passaram o dia ralando para acharem uma caça, e
perceberam que ainda não havia nada de reserva para levar para
casa. Mas tudo estava ocorrendo naturalmente, até que voltaram
quase ao fim do dia para o lugar onde teriam a noite de descanso.
Ao chegar lá, o medroso percebeu que nada estava como nos
dias anteriores, as roupas estavam um pouco bagunçadas, a
comida estava um pouco ruim, e a aparência da mulher mudara;
ela estava um pouco descabelada, havia caído um dente de sua
boca, e suas unhas estavam sujas, porém, para o corajoso tudo
estava maravilhoso.
Portanto, o mesmo ciclo se alçou no outro dia, mas ao
chegarem à casa, nenhuma roupa estava lavada, a comida
estava podre e a mulher estava com o cabelo totalmente
desfigurado, com os olhos negros, e com as unhas imensas, a
casa estava fedendo, então o medroso perguntou ao corajoso:
— Você não está vendo isso?
— O quê? Está tudo ótimo, temos mulher!
Então o medroso fez o que qualquer medroso faria: pôs-se a
correr!
Então o corajoso começou a perceber que a mulher estava
horrível, com os dentes todos podres e os olhos negros.
— Amor, eu irei caçar uma carne na mata para nós e já volto.
Tudo bem? Asse logo a carne que tem aqui. — disse o corajoso
tentando não fazê-la perceber a fuga que iria acontecer.
Ao sair da vista dele, esse homem correu, e correu tanto.
Estava anoitecendo e não parava de correr. De repente ouviu um
pouco baixo reverberando sobre a mata: A carne está assada, a
carne está assada! Desesperou-se logo e aumentou ainda mais
seus passos, estava morto de cansado, e ressurgia de cinco em
cinco minutos que a carne estava assada.
Agora aquilo estava se aproximando cada vez mais, e o
corajoso estava morrendo de medo, não sabia o que era aquilo,
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só conseguia ouvir um som de destruição. Aquilo estava
destruindo tudo que estava ao redor; quando de repente o
corajoso pôde ouvir um ruído vindo a duzentos metros:
A CARNE ESTÁ ASSADA!
Estava completamente escuro e surgia uma luz, um monstro
gigantesco, que ao falar ressurgia um fogo mais destruidor que o
próprio monstro. E agora? O corajoso viu que a árvore mais alta
que poderia existir estava à sua frente e subiu corajosamente e
rapidamente ao topo.
O monstro se aproximava ainda mais, até que estava debaixo
da árvore. Estava sentindo um cheiro, e de repente olhou pra
cima, e disse:
— Então você está aí, né? VOCÊ NÃO PODE SE ESCONDER
DE MIM! — disse o monstro com suas asas enormes, e ao dizer
isto o fogo chegou perto dos pés do corajoso.
A árvore tinha mais de duzentos metros de altura, e o monstro
subiu tudo rapidamente, e dizia que iria pegá-lo e matá-lo, e ao
tocar em seus pés, o galo da manhã cacarejou: cocoricó! Então o
monstro despencou e de costas no chão acabou-se na queda.
Mas o monstro levantou-se e disse:
— VOU TE PEGAR E TE MATAR LENTAMENTE!
O monstro subiu, e quando tocou nos pés do corajoso,
novamente cacarejou o galo: cocoricó. Então despencou mais
uma vez daquela altura, e já estava amanhecendo. O monstro
olhou pra cima e disse:
— Nunca mais deseje NADA quando estiver na FLORESTA!
E assim o monstro foi embora derrubando tudo à sua frente. E
quando desceu da árvore chegara ao mesmo instante o medroso,
juntamente com a equipe de resgate. Seguiram os rastros da
destruição e acharam um terreno com vários buracos com cerca
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de cinco metros. E neles se encontravam estes monstros, já
mortos.

 
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