Capítulo 6

George pegou no sono, e amanheceu com muita febre, com
gripe e não poderia ir à escola, teria que faltar hoje, justamente
no último dia de aula, no final de julho. Agora ele pensara em
como se comunicaria com a moça, e como será que ela reagiu à
carta que George colocara em sua bolsa.

L E N T A M E N T E

Não mais que lentamente
As circunstâncias se acorrentaram
Dentro de uma bolha, de repente,
Não mais que lentamente, se mataram.

Dentro da morte viram sua alma,
A essência de sua filosofia profunda,
A bolha está longe de estourar
E me levar para a realidade escura.

Não mais que lentamente
O choro regou a fonte dos olhos,
De repente o vento despertou
E de sua cor surgiu o remorso.

Não mais que lentamente
O espelho das águas se inundou
E não refletiu nada além de dor,
Não mais que lentamente, lentamente.

Suas bordas sangrentas e destruídas
Fizeram-me acordar deste sono letal,
De repente, o mundo real fez sentido,
Das vestes do engodo retirei a agulha.

Não mais que de repente
Das profundezas as forças surgiram,
De repente me libertei das sombras,
Não mais que lentamente, sumiram.

Escrevera este poema logo ao acordar e ao refletir sobre sua
noite de núpcias ao contrário, e de repente teve a ideia de deixar
(lá no mesmo lugar onde os carteiros deixam) mais um poema no
nome do Sir. Desconhecido, mas precisara usar as palavras
certas, com o jogo de palavras contundentes para fazê-la vir à
sua porta atrás de sua presença, como naquele dia. George
desconfia que Megan o seguira até lá para descobrir onde
morava, para assim promulgar um encontro à moda atrapalhada.
Então George pensara que sua principal agonia era não tê-la,
por mais que parecesse muito, não era uma ilusão, não era uma
paixão de momento, e George não vê isso como algo a dar
apenas prazer a ele, não vê a possibilidade de tudo dar errado
por ser a primeira vez; ele tinha a convicção de que aquela seria
sua primeira e única para toda a vida.
Por mais que pareça exagero, ou simplesmente imaturidade
para os que não confiam nem em si mesmos, para os que são
desiludidos, aos que relativizam um erro, pondo a culpa de seu
fracasso nos homens, nas mulheres, na igreja, no cristianismo,
no capitalismo — entre outros — em tudo, menos em si mesmo
(e não vê outra maneira de enxergar a realidade sem as amarras
de um pensamento pré-moldado); para George tudo aquilo além
de mágico era o que Deus tinha mandado para completar o seu
espaço ora vazio.
Entretanto, teria que caprichar tanto no poema quanto no
estilo, e deveria ser rápido para que ninguém o visse, o relógio
marcara nove horas da manhã, suficiente para Megan estar na
escola, e na frente da sua casa um silêncio ensurdecedor,
necessariamente no tempo exato para executar seu plano.
George começou a escrever e demorou exatamente vinte minutos
escrevendo esta carta.
George encaminhou-se vagarosamente à saída de sua casa e
andou em passos largos e rápidos. Ao
chegar à calçada de pedras notou que tudo
estava vazio, uma ótima oportunidade para
sua fuga, portanto acelerou os passos e
chegou à última casa:


Residência 117, família Hill.
Rapidamente colocou na caixa de correios da casa sua carta um
tanto diferente, uma segunda poesia para a moça que
representava uma nova fase na vida de George; representava o
que Deus estaria levando a ele: uma parceira para a sua vida,
para acompanhar-lhe nos dias fáceis, nos dias difíceis, dando-lhe
uma família, um porto seguro.
Agora era apenas esperar, o tempo iria dizer de maneira mais
segura o modo em que essas duas poesias impactaram a moça;
com convicção, George acreditava que Megan já sabia que ele É
o Sir. Desconhecido, ou que pelo menos achava aquilo, ou que
preferiria acreditar — fato esse que comprovaria o porquê de ela
tê-lo acordado, de estar em sua casa de maneira inesperada
sendo que nunca esteve lá, e ainda por cima querer inventar a
desculpa esfarrapada de que acreditara que a casa era mal
assombrada — de modo que aguçasse a imaginação, que se
repetissem os contos de amor.
Diante de tal acontecido, George foi sorridente contar ao
Senhor Beethoven o que tivera feitos há instantes, mas ao chegar
lá estava um clima pesado, com muitos carros de polícia ali na
frente, e logo a notícia de deixar George com o coração partido:
o Senhor Beethoven foi assassinado impiedosamente há minutos
atrás, fora torturado por horas e em seu corpo estava escrito:
VIVA A REVOLUÇÃO!
George saíra dali e fora chorando para a sua casa, desolado,
muito emotivo e lembrando-se de cada momento que passara
com este que considerava um pai, cada ensinamento, cada
conselho, cada filosofia compartilhada com o seu velho amigo
fora profunda, George fora encorajado por Beethoven todos os
dias a não desistir, a não deixar que o mundo interrompesse o
crescimento cultural vigente dentro de si a cada livro lido, a cada
ensinamento adotado, a cada sabedoria adquirida por meio do
tempo, por meio do cosmos.

 
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