Capítulo 5

— Ei, o que está acontecendo com você? — Megan sacudiu-o
assustada.
George abriu os olhos e percebeu que a sala estava vazia.
— O que houve? — perguntou ele fazendo-se de
desentendido.
— Você adormeceu e agora tocou o sinal da saída. — disse
ela.
Então os dois saíram juntos e conversaram sobre o universo,
sobre física quântica, sobre política e George a acompanhou até
sua casa, e ela o deu um abraço, e disse:
— Obrigada por ter me acompanhado até aqui, você mora
muito longe? Meus pais podem te dar uma carona.
— Não precisa, sou bem grandinho já. — brincou George.
— Engraçadinho… — respondeu Megan, e com um tom mais
à vontade, disse-lhe:
— Então amanhã nos vemos. Certo? — enfatizou Megan.
— Sim! — respondeu-lhe George, com uma microexpressão
facial de satisfação.
George foi para casa feliz, quase certo de que prevera naquele
sonho, o futuro, a única diferença estava na casa e em como
começaram a conversar, as questões científicas também foram
uma exceção, George era leigo nesta área, mas sabia muitas
coisas sobre filosofia e política, agora sabia fazer poesia e tinha
o certo dom com o jogo de palavras.
O senhor Beethoven pediu para que ele interpretasse uma
poesia, apenas para testar o funcionário, para ver se realmente
ele falava a verdade ao dizer quer era bom em interpretação.
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— George, leia e interprete isto: — desafiou o senhor
Beethoven com um semblante de descrença.

A IGNORÂNCIA E A LUZ

As trevas vieram me acariciar a ignorância,
Indeciso, não pude deixá-la partir,
Pois a dúvida está na escuridão das nuvens
E a chuva dá lugar à lágrima perdida.

Nas vestes da extensa clausura do dia
Busquei respostas no obscuro da alma,
E delas, soaram o profundo silêncio,
Inquieto e triste, que gritara, em calma:

Não me prenda em liberdade!
Tive que deixá-la partir lentamente,
Um ósculo perdurou na mente;
Um raio separou-me dela
E de repente pude viver…

Encontrar-me-á vestida de cetim,
Ignorar-te-ei com a profunda solidão;
A verdade está acima do sol, que clareia
O fim do túnel, na interna prisão.

Não me prenda em liberdade.

— Não vou rir se você não souber. — ironizou Beethoven.
— As trevas representam a ignorância, que prende a pessoa.
Isto explica bem a frase central: não me prenda em liberdade; a
liberdade é a luz, a luz é a verdade; ou seja, muitas vezes a
pessoa está acorrentada em uma mentira, e alguém quer libertála desta mentira, e automaticamente, não mais que de repente,
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está nas entrelinhas que esta pessoa está reverberando: Não me
prenda em liberdade. Foi esta a interpretação bem superficial que
consegui, pela macrovisão, perceber logo de cara no tema
central, na conclusão que o autor teve sobre o mundo ao seu
redor. Isto é interessante! Afinal: quem é este autor? —
respondeu assim George, com as palavras seguras; com o
semblante calmo e bastante lapidado, esperando uma resposta.
— Genial! Falaste com poucas palavras o que demorei horas
para entender, talvez você seja um prodígio e tanto no meio de
tanta gente vazia, sem perspectiva de vida, cuja única e
derradeira maneira de enxergar tudo o que vê é por meio de
estereótipos, falácias e pelo marxismo cultural (mesmo sem ter a
mínima noção de que está sendo usado como massa de
manobra, pois é idiota útil, e idiota demais para saber que é útil e
quem o utiliza) proposto por Gramsci. — disse em êxtase o
senhor Beethoven, orgulhoso de ter uma versão do neto que tanto
sonhou um dia!
E pensando naquela experiência que tivera, George (agora em
seu quarto) refletiu bastante, demorou um pouco e começou a ter
um turbilhão de palavras em sua cabeça, e transcreveu ao papel:

MODUS OPERANDI

Vi pela estreita de minha janela
Alguém falar: eu sou egoísta,
Um cartaz: o amor é uma mentira,
Um filme romântico a um terrorista
E um cartaz dizendo: morte aos fascistas!

Mas afinal o que é ser fascista
Senão discordar de ideias vermelhas?
Capitalismo é cruel e a família, vilã,
Principalmente se tem a base cristã;
Estereótipos do século de Dezinformatsiya.

Se o que te preocupas é o sucesso alheio
Calcado no velho argumento de desigualdade,
Se o que te preocupas é a moral da sociedade,
Preste atenção que o que pregas é miséria
E a destruição da vida, da esperança e dignidade.

Se fatos passados distorcidos no ar
Dizem-te que o mesmo é feito de sangue,
Efeito de sangue tu vais passar a usar
Para provar o que disse tua idolatria
Com o sensato estudo do próprio ego.

Vi pela estreita de minha porta escura
Um cartaz: mais amor e menos ódio,
Alguém citando uma matéria nem lida,
Alguém citando argumentos repetidos
Pelo imenso exército de almas sem vida.

No entanto esse amor parece tão concreto,
Um grupo seleto fica imune à difamação,
Restando a carga de culpa aos opressores
Que são os que não têm tempo de discutir
Porque o boleto vai vencer no final do mês.

O melhor contra-argumento de um filósofo
Quando cessada a sua ilustre razão:
Primeiro é vestir-se do bom-mocismo,
Depois negar toda a contraproposição:
“Isso é apenas falácia e ad hominem”.

O melhor meio da erudita refutação
É pegar um parágrafo ou trecho qualquer,
Misturar tudo o que se pode confundir,
Ser sofista, ter que citar qualquer bebum,
Invejoso, hipócrita, demagogo, até assassino.

Se disseres não à vida como se fosse objeto,
Se caíres na fantasia das ultramulheres,
Empoderadas que constroem até relevos
E substituem o que é pra se completar:
Sinto em dizer, tu serás prisioneiro eterno.

Apenas escondido vejo tudo isto
E calado, cansado, acabado, solto um grito.
Os versos fluem como as águas em nascentes,
As palavras vêm como os desastres naturais,
Que não se comparam ao que estou combatendo.

Agora me deixe ver se eu esqueci minha casa aberta,
Por algum motivo poderia se tornar improdutiva,
Vou conseguir meus bens e o mais importante:
O ódio daqueles, cujo amor atrasaria a fonte
De produção, de amor, de luta pelo meu país!

Não tenho deus político nem ideológico,
Se eu mudar de ideia amanhã ou agora
Posso ter o alívio de contribuir com a sanidade
E ter minha figura pendurada no mural da história,
E Deus guiando meus passos conservados.

Então é isto, meu amigo: vais encarar?

Do nada ouviu um estrondo em sua porta, e George foi olhar
meio receoso com medo de um assalto. Desceu as escadas, e
quando avistou, Megan estava caída ao chão, tropeçou num
cômodo antigo.
— Megan, o que você está fazendo aí? — perguntou George.
— Nada, eu só queria ver como era aqui dentro dessa casa
abandonada, me disseram que é mal assombrada. — disse
Megan, um pouco envergonhada.
— E o que você faz aqui essa hora? — enfatizou Megan, em
seguida.
— Eu moro aqui. — entoou George ainda com um pouco de
dúvida sobre o que ela fora fazer ali.
George ajudou Megan a se levantar, e tocando em sua cintura
(não a beijou) respeitosamente deu-a um abraço para tentar
perceber se a linguagem corporal seria positiva ou negativa. A
noite estava bonita e o céu estava cheio de estrelas, com as
nuvens escuras, com um brilho luzindo o vidro da casa
abandonada, refletindo no espelho, reverberando a luz meio
azulada nos olhos azuis de Megan, os dois entreolharam-se e
ficaram alguns segundos deste jeito, e de repente ela olha em seu
relógio:
8:30 p.m.
— Estou atrasada, tenho que ir para casa agora! — disse
Megan, com medo.
— Quer que eu lhe acompanhe? — atenciosamente, disse
George.
— Não, meu pai pode pensar outra coisa. — retrucou Megan.
Assim, Megan deu um leve beijo no rosto de George, e disse:
— Até amanhã, George! — e sorriu representando em sua
expressão facial um incômodo, pois não queria ir nesse momento.
— Até amanhã, querida. — disse George com um suspiro de
insatisfação (também) e com um sorriso, viu sua amada virar as
costas e sair lentamente, ela tinha um belo corpo (não necessita
descrever com palavras aqui), isso chamava atenção sim, ele não
era hipócrita de negar isso. Mas não era apenas na carne, não
era apenas desejo sexual, não era apenas volúpia e fogo; era algo
suprassentimental, não necessariamente um globalismo, uma
‘ONU’ exercendo poder maior sobre ele, esse
suprassentimentalismo não representava um poder, mas o
resultado de uma força maior, que é o verdadeiro amor. Então o
amor era a força motriz que supria esse sentimento, que se
tornava algo transcendental; que não era apenas por bens
materiais, ou pela carne, mas pela alma, e a alma é infinita e
carrega em si toda a essência vigente num ser humano. Para ele,
o amor é a entrega de uma parte de si para a outra pessoa, e, no
entanto, passaremos a amar essa parte nossa que completa a da
outra pessoa, e passamos a amá-la, tudo isso nas suas devidas
circunstâncias, desde amizade até o romance; desde os filhos
aos pais e do amor ao próximo esboçado nos ensinamentos
cristãos. Tudo isso é muito profundo, podendo até se tornar uma
tese filosófica chamada: Suprassentimentalismo, inventada por
George, em uma reflexão sobre suas crenças.

 
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