Capítulo 4

O alarme tocou bem alto e George se levantou às pressas,
ficou mal quando percebeu que apenas estara sonhando e que
nada daquilo era real. Ele se comunicava com Megan, mas
aquela intimidade estava bem distante, e sempre sentia aquele
aroma maravilhoso vindo dos cabelos dela.
Certo dia George estava na biblioteca procurando mais sobre
seu país, sua história e de sua essência, Megan estava sentada
no canto daquele grande salão e sentiu um leve toque em seus
ombros, era George, um pouco receoso de ser ignorado.
— O que você está lendo? — perguntou George.
— O manifesto comunista. — disse ela, com indiferença no
rosto.
— Você concorda com essa teoria? — disse ele, receando a
resposta.
— Não, só preciso de mais argumentos para as discussões,
nada melhor que ler esta porcaria e saber como pensava este
doente! — disse ela, com bastante segurança.
— Ótimo, vou deixar-te concentrada então, até a próxima
disse ele em busca de uma resposta pedindo-lhe para ficar.

Dito e feito, e os dois ficaram conversando por horas e horas.
Seguindo a sua própria consciência, George resolveu colocar o
poema que teria feito transcrito num papel parecido com um
papiro, e colocou sua assinatura, ficando assim:
Sendo assim, ao Megan sair para a merenda, George colocou
esta carta em sua bolsa, escondido, esperando a reação da
menina ao ler o que estava lá dentro.
Estava escuro, e George se deparou com Winston, estava
sumido e por vezes não conversava mais com o seu melhor
amigo, George estendeu-lhe a mão e lhe deu um forte abraço e
mostrou-lhe:

PERGUNTE-SE
Sem saber o rumo de amanhã,
Não encontre na ilusão um refúgio,
Nem na demagogia do que é mais fácil
A derradeira sensação de sofisma
De que a vitória é a hipocrisia do fracasso.

Se na boemia dos pensamentos da vaidade
Houver um por que meio envergonhado,
Não se esqueça de usá-lo quando as estrelas
Caírem no autoexílio da estrada sem fim
Do pesadelo de ontem à noite, por fim:

O futuro é o presente de amanhã,
E o passado são as águas que não voltam,
Estou sofrendo sabendo o motivo inexistente
Nos cálices da noite aflita, ingênua e afã,
Nas bordas do oceano solar em enchente.

Acorde-me desta aflição quando o outono
Abrir a fronteira das flores que estavam mudas,
Quando a chuva inundar a alma dos moinhos
Da tempestade que destruiu o segundo em que
Meus olhos enxergariam as cores do ódio.

Pergunte de teu instinto onde estou
Para encontrar-me em teu coração…

Winston, Inglaterra, 1989.

— Então foi você quem fez aquele verso? Eu queria decifrar as
palavras enigmáticas, mas você agora me trouxe essa poesia, e
tudo faz sentido! — disse George, com as pupilas dilatadas e a
curiosidade aguçada pela sua imaginação.
Foi então que George se viu em cima de uma nuvem, e pôde
ver o sol se pôr. Um destino encontrou-lhe e disse-lhe que o
esperara numa realidade paralela, aquela mesma em que ele
gostava de ir para fugir um pouco da realidade, é muito difícil ver
que a noite está chegando e se encontrando com o dia para que
o ciclo das horas se complete da mesma forma que a mesma
água não se sustenta em um rio por menos de um segundo, da
mesma forma que o gelo derrete e torna-se a água que pode
evaporar quando secar a fonte de alegria, a força motriz que
equaciona todas as metáforas. Então George se inspirou na
morte, refletiu sobre seu gosto, e escreveu:

A MORTE

Será que a morte nasceu
Nos primórdios de sua irmã vida?
Será que, como Abel, ela sentiu inveja,
E para ser única a matou?

Qual será o destino que a morte
Lenta, dolorosa e tão bonita leva?
Qual será o gosto de seu beijo
E a força de seu toque?

Um dia sonhei com ela
E fui tão desprezado que chorei,
Tão profunda e dolorosamente
Que ela me abraçou e me disse
Com sua voz grave: Não é sua hora!

Perguntei-lhe:
Ora, quando voltarás outra vez?
Respondeu-me: Você irá saber!

E de teimoso, pus-me a perguntar
De todos o que significara aquilo
E o silêncio pôde manter seu costume
No túmulo da mais exaustiva dúvida
Pus flores e uma carta comprida
Com uma única e simples pergunta:

Não me esqueci do que me disseste,
Quando chegará minha hora?
Outra vez, sonhei, mas agora com
A calma, esbranquiçada vida,
Que era como a neve; enfraquecida,
Disse que minha dúvida estava a lhe
Matar, e que a morte a humilhara ontem.

Falou-me de Deus e calmamente
Deu-me um livro intitulado ‘Bíblia’,
Disse repetidamente: Leia!
Ele que fez minha existência,
Tudo que nesse mundo há.

Ele criou a morte, mas ela
Não está fazendo seu papel,
O mal a coagiu, e lhe recrutou…

Agora apenas tu podes salvar a si
E a todos a quem tens amor.
Perguntei-lhe: Como faço isso?
Ela respondeu: O tempo saberá te informar
O que não se vê e não se sabe (aprende);

O que se nega e se suprime saber,
A ter conhecimento à luz deste livro.
E no outro dia refleti bastante,
Dando-me conta, vi nos cantos da sala,
Bem escondido, um papel envelhecido,
Com determinados dizeres:

Não temas a mim, sou a morte e a vida;
O ar, o fogo, as águas. A lâmpada
E a luz para teu caminho é minha palavra;
Não tenhas dúvidas extremas,
Pois sou o caminho e a verdade.

E a verdade é a tua libertação,
Não se preocupe com o que virá
No dia de hoje, de amanhã, mas
Em como farás sê-lo infinito
Na vida mais bela, eterna.

Depois de sonhos e sonhos vendados,
Finalmente pude entender e compreender
Que nada dissolverá as dores senão a morte,
Muitos estão mortos, sem espírito e empatia,
Muitos já sem alegria sorriem automaticamente.

Para onde iremos depois de mortos?
Onde estamos quando há a perda autêntica,
Culminando em nossa robotização?
Em nosso corpo, espírito, razão,
Onde estamos? Aonde querem?
Somos ou apenas queremos parecer?

Onde está a vitrola que ouvias
Suas prediletas e imutáveis músicas?
O espelho que refletia sua infância
Está na memória ou no esquecimento?
Vives da modernidade ou da tradição?

Se sua essência morre, as lágrimas
Viram a infelicidade que destinará-te
A uma imensa crise existencial,
Que de cicatrizes irá açoitar-te até o fim.

Se fores minado de infinitas cicatrizes,
As feridas cessarão ao tu olhares para o horizonte,
E começares a perceber no invisível:
Trar-te-á o destino (Paz ou sofrimento)
Dependerá da poesia exposta na alma.

— Como você conseguiu escrever tanta coisa, assim tão
rápido? — disse Megan ao ver que George estava concentrado
escrevendo este poema.
— Sou amador ainda, tento escrever, mas não sei se minha
escrita é boa!
Disse George, humildemente.
— Posso ler? — pediu sutilmente Megan, com um rosto
totalmente amigável.
— Sim, seria até bom! — retrucou George.
Megan demorou um tempo lendo, analisando e pensamento
bastante, e chegou à seguinte conclusão:
— Se você continuar assim será maior e melhor que
Shakespeare! — elogiou Megan.
— Não é pra tanto, ainda sou amador e preciso melhorar muito!
— respondeu ele, tendo no fundo de sua mente a ideia de que ela
saberia que era ele o autor daquela carta.
Megan chegou à sala e George estava como se nada
houvesse acontecido, lendo um pouco de filosofia e refletindo,
desta vez estava dentro de um poema que houvera feito há uma
semana:

COMPREENDA ESTA CANÇÃO

Garanta-me estadia em teus olhos,
Coloque-os no pedaço do rabisco nunca feito,
O pedaço da escuridão me persegue
Perguntando-me onde está tua presença.

Garanta-me um lugar, mesmo que apertado,
No autorretrato de tua mais íntima vontade,
Nos toques mais leves dos teus cabelos,
No sorriso mais espontâneo da verdade.

Dos teus doces lábios profundos,
Espero que saia o mais instinto segredo,
Tuas angústias, teus sonhos, teus medos,
E que soe a tempos o sinal de ‘eu te amo’.

Que a eternidade não se resuma em cinzas,
Que a distância deixe a certeza mais exata
De que sem ti não poderei fazer nada
Além do que sentir o teu sublime calor.

Digo em versos que estão perpetuados
No longo varal pendurado ao tempo,
Na perfeição humana inacabada e incólume
Do sentimento refletido nas profundezas
E na pureza dos passos que levam ao fim da estrada.

Ele estava acorrentado na primeira estrofe, entre os galhos
da escuridão e a presença de alguém que nutria a ele uma
esperança de equivaler-se aos versos.
Versos estes que estavam no fim da estrada em conexão com a
realidade. O desejo sublime dele era tornar verdade os contos de
amor; sentir na pele que o mundo não estava tão corrompido, e
apesar de novo, já mantinha suas metas de vida e precisava de
alguém para acompanhá-lo nesta missão, George era um tipo de
jovem que já estara amadurecendo precocemente, tinha pouco
afeto em sua vida, apenas interagia com o senhor Beethoven,
com Winston e agora com Megan, e claro, com a sua imaginação.

 
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