A pergunta central estava centrada
no que restou da poesia, e realmente,
o que restou dela? Pode-se presumir
que promoveram o desvirtuamento da
mesma, resumindo-a em apenas
palavras secas, com a promessa de
acabar com as palavras difíceis para
um melhor entendimento.
Logicamente que é opção do
poeta, escolher as palavras que
melhor serão encaixadas no poema,
mas usar isso para deixar tudo de
maneira tacanha, de maneira
simplória? George não concordava
com isso, para ele a poesia deveria
ser especial, deveria ter uma linguagem diferenciada, pelo menos
uma significação especial, porque se for usada qualquer
linguagem tosca que qualquer criança consegue fazer, nem
adianta fazer, na opinião de George, por isso ele era criticado por
alguns escritores.
Alguns dias se passaram e ele estava vendendo muitos
exemplares, em três dias tinha vendido quatro mil exemplares, e
a lista para livros a serem lançados estava imensa, tinham quinze
livros para a Editora lançar em até seis meses, era um trabalho
muito corrido; George não tinha tempo, assim como Alice também
atendia muitas pessoas em sua clínica; o casal era bem amado
na cidade, e enriqueceram naturalmente depois de anos de
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trabalho, depois de muitos esforços, depois de muitas
dificuldades sanadas, depois de muito suor.
Um rapaz chamado
Abraham Monteiro, de
dezesseis anos, queria
lançar seu primeiro
livro Ri, palhaço, que
contava a história do
palhaço descrito na
música e montou um
enredo brilhante,
lembrava muito a
escrita de George; ele
se deu bem com o
dono da Editora
Alvorada.
George ajudá-lo-ia
bastante e investiria no
menino, faria esse ato
de altruísmo, o livro
estava muito bom, e o
poeta gostava muito
daquela música, e
acreditava que na
parte mais esperada
na música, aquelas
quatro notas seriam as
mais bonitas em toda a história.
As coisas são como devem ser.
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Brincava assim, Abraham, parafraseando a frase de George, o
rapaz ainda disse que se inspirou muito nas obras do poeta para
escrever as suas. Abraham dizia que George tinha sido o
inspirador de sua escrita, que tinha despertado nele seu interesse
pela poesia; disse ainda que quem apresentou, ainda no ensino
fundamental, o livro de Alvorada fora seu professor de português.
Nada poderia estar melhor para George, ele sempre sonhara
no dia em que ao menos uma pessoa iria encontrá-lo, e dizê-lo a
grande importância que o mesmo teve para o início da carreira
dela; pode ser um grande almejo à maioria dos escritores, seria
muito bom se todos que fossem realmente bons no que
escrevem, fossem reconhecidos pela grande massa de pessoas.
É um lisonjeio em dobro, se o livro de qualquer autor servir
como uma passagem desse universo para o da literatura, sendo
ela de qualquer gênero.
No entanto, nas paragens de seu pensamento, George se
encontrava em um lugar já clareado, não havia mais escuridão,
não havia mais devastação, já se encontrava com trinta anos, seu
filho estava com quatro anos.
Já sabia ler, tinha a melhor educação estava aprendendo a
tocar piano, sua primeira música seria Marcha Turca, de Mozart;
tinha um professor de piano, a casa da Família Wook morava em
uma mansão, toda revestida da arquitetura medieval, pareciam
estar em um palácio, e era um luxo por dentro.
A família era muito altruísta, praticava muitos atos de bondade
e davam emprego ao invés de dividir riquezas, tinham um parque
muito bonito atrás de sua casa. Ainda tinham a vitrola antiga, que
ficara ainda mais bonita com o passar dos tempos; o ano era dois
mil e seis.
No silêncio da madrugada, num sopro um tanto invisível dentre
as estrelas que flutuavam nos céus, havia nas cinzas das nuvens
uma poeira que rabiscava um espelho, que no soluço da chuva
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reverberava nas rochas um tremor da tempestade que estava por
vir. Os pássaros e demais seres vivos estavam acoplados nos
oceanos de suas mentes e temiam uma incógnita para o fim de
suas vidas, metaforizada na tempestade que chegara há
segundos.
Uma mensagem por meio de uma energia trouxe ao mundo
uma nova forma de compreender a conexão entre os seres, e
nessas misturas as concepções da vida surgiram, George se
interessava pelo estudo do universo, da cultura, das artes, da
história, da filosofia; sempre que possível inventava em sua
mente um universo paralelo para escapar da realidade, observara
há tempos que não se encaixava com o padrão, segundo ele, de
jovens medíocres, superficiais, que somente formam grupos para
obedecer a um comando que padroniza a todos um estilo
robótico, tirando-lhes a essência. Ao caminhar nas nuvens, vira
que havia algo já fazia sentido, que por mais que ele continuasse
a ter dúvidas, já sabia que a essência de sua existência era não
mais fugir da realidade.
Acorde-me desta aflição quando o outono
Abrir a fronteira das flores que estavam mudas,
Quando a chuva inundar a alma dos moinhos
Da tempestade que destruiu o segundo em que
Meus olhos enxergariam as cores do ódio.
Os moinhos da tempestade estavam ali, e as cores do ódio se
transformaram em um paraíso, logo após a metamorfose das
lágrimas, num renascimento.

 
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