As poesias de George eram usadas em muitas escolas de
ensino fundamental para interpretação de texto, a preferida era a
poesia Nictofilia Necrófaga, era uma crítica às pessoas que amam
viver na ignorância; aliás, muito melhor que a famosa Cálice,
tornou-se enfadonha de tanto que é usada para descrever a
censura durante o regime militar, aliás, censura tão boa que os
comunistas se infiltraram em todos os cantos; não que uma
censura seja boa, mas sejamos sinceros, censuraram até Carlos
Lacerda; aliás, eles (os militares) até financiavam os
esquerdistas, e tinham a velha tecnocracia, o velho positivismo
como ideologia; e os guerrilheiros não lutavam por democracia,
por justiça, queriam era uma ditadura do proletariado.
George discutia esses assuntos abertamente, não tinha medo
de expor a opinião, além do mais, lia muitos artigos de um rapaz
chamado Olavo de Carvalho, que sempre acertou em suas
previsões. Porém, deixando um pouco a política de lado, George
continuava produzindo, já estava com vinte e dois anos, e Alice
com vinte, ela já estava terminando a sua faculdade de psicologia.
George montou uma grande livraria, investiu cem mil reais
(R$100.000,00), e ela estava muito bonita, e tinha todos os livros
possíveis, tinha uma grande variedade, e os livros deles estavam
perto da gerência.
231
Nas paredes tinham várias pinturas com temática amazônica,
tinham muitos quadros, muita arte, tinha frases suas nos quatro
cantos; algumas frases de motivação, tinha vários setores com
todos os gêneros literários. A casa de George se situava na frente
da livraria, e no dia de inauguração não tinha mais onde colocar
pessoas.
O que chamava atenção nessa livraria eram os móveis antigos,
tinham um teor medieval, as paredes eram todas revestidas de
madeiras rústicas, os candelabros iluminavam de forma diferente,
dava a impressão que era um lugar para ricos. Depois de um ano
a Livraria Alvorada se destacava como uma das maiores do
Norte, já se igualava à Livraria Manaus (Livraria da Editora
Manaus).
Apesar da concorrência, o Senhor Cavalcante respeitava muito
o seu genro, que já tinha uma presença de empresário, eles
tinham uma relação muito boa, e Alice estava cada vez mais bem
de vida. E eles já tinham a casa dos sonhos, e haviam demorado
dois anos, a casa parecia um castelo, tinha uma estrutura muito
diferente, e tinha arquitetura clássica.
Juntos, conseguiram comprar um Mustang, outro carro
clássico. Com o passar do tempo viajaram para todos os cantos
do Brasil em busca de negociações, viajaram a lazer para os
Estados Unidos e pela Europa.
Quando completaram cinco anos de casados, George
completou vinte e seis, ela vinte e quatro; ele montou a Editora
Alvorada, e ela, a Clínica Alvorada. George tinha lançado seis
livros, e desses livros já tinha herdado a fortuna de dois milhões
de reais (R$2.000.000,00), já tinha trinta livrarias espalhadas pelo
Norte, e a intenção era aumentar; já tinha mil e setecentas
poesias.
George e Alice se amavam ainda mais a cada dia, e teriam seu
primeiro filho, Adam Cavalcante Wook; a alvorada chegou de vez
232
para ficar na vida de George Wook. Ele viu que sempre iria fazer
mais poesias, que tinha apenas seis livros, resolveu fazer um
megalivro, e juntaria quinhentas poesias, o seu próximo livro
depois desse iria ser uma história, um romance (que já tinha
começado a ser escrito, George tinha parado na página 250).
O seu livro com quinhentas poesias daria mil páginas, nesse
caso, como são muitas páginas, daria para fazer por cinco
centavos cada página, no entanto, um exemplar sairia por
cinquenta reais (R$50,00), e seria revendido por sessenta reais
(R$60,00). A diferença é que ele lançaria pela sua própria editora,
seria a primeira obra lançada pela editora. Ele tinha reunido bons
profissionais para o ajudarem nessa nova jornada.
A poesia que se destacara nesse livro de George era a Se eu
morresse hoje e O que restou da poesia? Elas chamariam mais a
atenção do leitor, eram elas:
SE EU MORRESSE HOJE
Se eu morresse hoje,
A tristeza iria descansar,
Os sonhos evaporar-se-iam,
Meus versos vagariam
No esquecido e eterno lar.
Se eu morresse hoje,
Deixaria alguma dor em alguém,
Mas diria que as lágrimas
Não passam de poesias áridas,
Que eternizam um passo além.
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Se eu morresse hoje,
Alguma luz pousaria no luar
E as estrelas diriam, calmamente:
Alguma vez na vida, eternamente,
Poderei finalmente descansar.
Se eu morresse hoje,
Não faria nada além do que faço,
Mas colocaria em uma carta
As direções exatas do mapa
Onde estaria agonizando no espaço.
Se eu morresse hoje,
Atravessaria todos os oceanos,
Iria ao túmulo de meus sentimentos,
Resgataria meu tempo, e diria
A quem me salvou: eu te amo.
Se eu morresse hoje,
Olhar-me-ia no incauto espelho,
Refletiria todos os meus atos
E pediria perdão pelos falhos,
Depois agradeceria ao esteio.
Se eu morresse hoje,
Esperaria até o doce dia
Para acordar em uma manhã,
Onde minha alma triste e afã
Trouxesse a derradeira melodia.
Se eu morresse hoje,
Poderia pedir que em meu caixão
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Tivesse uma única e dócil imagem,
Que mostrasse o esboço da paragem:
A passagem da vida a outra estação.
A poesia expunha bem seu íntimo, a mensagem que ele
passara era bem clara, e se fazia presente ainda mais em sua
outra poesia que completara aquilo, ele tinha um certo
descontentamento com o rumo em que a cultura nacional estava
seguindo, a sexualização precoce, e a tentativa maciça de
quebrar totalmente as bases da civilização ocidental.
Ele tentava deixar uma boa contribuição com a cultura do país,
que cada vez mais estava sendo implodida, e só tendia a piorar.
No entanto, George ainda queria resgatar um pouco daquela
magia, um pouco de perfeição no que fazia, podia não ser perfeita
aos olhos de muitos, mas para ele era, assim que ele via a poesia,
a busca pela perfeição, para que você possa tocar no coração e
na alma de quem está lendo, coisa que não se pode escrever
quando o que é escrito não está sendo sentido.
O que restou da poesia? Era o poema que completava este
que está descrito acima, mais ou menos uma parte dois, era mais
íntimo ainda, George via que escrever libertava um lado seu mais
bonito, um lado mais humano, um lado que contemplava a
antiguidade com outros olhos, era fascinado pela história das
coisas, ele queria saber a história de tudo.
Muito do que aprendia expunha em seus poemas, mas o que
ele sentia era muito mais complexo e extenso, o que poderia ser
visto nessa poesia:
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O QUE RESTOU DA POESIA?
Nas manhãs ensolaradas
Eu costumava escrever,
Costumava dizer nada,
Até o doce entardecer.
Olhava para o horizonte
Nessa manhã irradiante,
Contemplava o monte
Das cinzas do diamante.
Costumava me perder
Nas trilhas da esperança,
Os sonhos estavam a ler
As veredas da confiança.
Minhas vestes despidas
Nas doses da escuridão,
No abismo da convalescida,
Aurora da calma devastação.
Meu peito estava despedaçado
Na tempestade que passou,
Agora do gosto doce e amargo,
Apenas o insípido restou.
Inundaram meus anseios,
Esqueceram de meus sentimentos,
O que é superficial virou o esteio
Para quem há dias estava sofrendo.
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Disseram-me que não importava
Buscar a perfeição do dia,
Eu triste, apenas discordava
E juntava o que sobrou da poesia.
A poesia que me consolava
E escutava todas as agonias,
A poesia que até gostava
Daquela forte ventania.
A poesia presente nas pinturas
Trazendo traços da mente,
A poesia sem validade, que dura
Até a eternidade, brevemente.
A poesia que vinha das águas
Trazendo as cachoeiras do encanto,
A poesia que vinha da alma,
Que trazia seu desabafo no canto.
A poesia que iniciava a vida,
Presente no carinho de uma mãe,
A poesia presente na ferida,
Na aurora que a tudo compõe.
A poesia que apresentava o sopro
Do oxigênio que permeia o horizonte,
A poesia que se encontra no rosto,
Espelho das estrelas perdidas na fonte.
A poesia que traziam os poetas
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Dando beleza à clausura do romance,
A poesia das rosas na melancolia esbelta,
No passado e no presente distante.
A poesia das fortes chuvas,
Dos raios que partem as dores,
A poesia que tinha nas curvas
A estrada que prendia os temores.
Disseram-me que não importava
Buscar a perfeição do dia,
Eu triste, apenas discordava
E juntava o que restou da poesia.
E o que restou?

 
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