Capítulo 3

George foi para a biblioteca municipal, desta vez pegou outro
livro do Sir. Cavalcanti.

NICTOFILIA NECRÓFAGA

Não tenhas medo de se molhar na chuva,
Porque a chuva só adoece quem já está doente,
Não temas a tempestade que vem amanhã,
Apenas à treva que está escondida nos cantos da mente.

A imensidão do estreito e invisível infinito
Está em quem vê além do que é digno de atenção;
Sem pensar no real, mas no subjetivo,
Quem vê as estrelas apagadas não vê a luz.

Não veem a profundidade de algo,
Apenas o que parece e o que reluz,
Entregam-se à fúria do amargo beijo
Por pensarem que seus anseios terão sossego.

A belicosidade ao verem no horizonte
As subcamadas dos ludibriosos esteios,
Suspiram a dúvida da própria essência,
Na realidade dos labirintos alçados pelo enseio.

Suspirarás ao veres as trevas à tua frente,
Nictofilia com a pele do outono dourado ao inverno,
Necrofagia política polida de ilusões mitomaníacas
Com pinceladas de sangue retaliado pelo lorde paterno.

Atalhos despercebidos na luz do sol…

Sir. Cavalcanti, Inglaterra, 1910.

Desta vez George ficou meio receoso quanto à interpretação
da poesia, mas moldou-a a sua realidade, e encarou aquilo como
uma palavra de incentivo, logo após ler mais umas cinco poesias
com variados temas, lembrou-se do sopro invisível daquela triste
madrugada onde a tempestade estivera a chegar, e os pássaros
estavam acoplados em suas mentes, ele agora representava os
pássaros, a tempestade representa um sentimento
desconhecido, um novo pensamento acerca de determinados
assuntos de uma nova realidade que ele não poderia escapar, o
que ele estava ignorando era o fato de que seu pseudoamor
exacerbado não se encaixara em seu modo de ser.
Uma semana passou como um raio na velocidade da luz, e
agora chegara o esperado dia em que em sua nova escola
conheceria a garota que fora a razão de sua poesia, o dia estava
esquisito, as nuvens carregadas com as lágrimas da ilusão, e na
insensatez das horas que pareciam não passar George
caminhava lentamente, carregando no peito algo desconhecido,
sabendo que esta seria a maior loucura que já fizera em sua vida.
As árvores permeavam ainda mais a escuridão, e de repente o
céu soltou suas comportas lacrimais enxaguando tudo ao redor,
inundando as chances do jovem poeta de ter a chegada decente
em sua nova escola.
Caminhava com passos lentos lutando com a ventania e com
as gotas de aço lhe martelando a pele, e finalmente se deparara
com aquele palácio gigantesco onde há dias avistara o sonho
destemido sonho passar. Adentrou as portas da escola e logo
alguém lhe ofereceu uma toalha para que se enxugasse. George
ainda por cima estava atrasado e foi acompanhado (pelo porteiro)
por aquele corredor com o dobro de armários que estava
acostumado, subiu as escadas rústicas e logo avistou uma porta
verde: sala doze.
Ao abrir a porta, cumprimentou sua nova professora, que logo
lhe apontou a única cadeira que estava sobrando, George
inclinou a cabeça e congelou. Ali estava a bela garota, à frente de
sua cadeira, ele mudou de cor e quase não parara de se admirar
com a esmeralda, com aquele brilho que pairava sobre seus
cabelos, com aqueles lábios que pareciam macios como a bruma.
Sentou-se e fingiu que nada de anormal estava acontecendo,
mas ao passar de algum tempo, percebeu que a moça
reverberava em seu aroma, o mais belo perfume de uma rosa, o
puro e sedutor charme ao transpassar as mãos pelos cabelos, a
sensibilidade ao escrever, e a suavidade de sua voz. George
descobriu que seu nome era Megan Hill, filha de um médico e
uma advogada.
Megan estava um pouco estranha, George chamou seu nome,
e disse:
— Acho que já vi você em algum lugar.
Megan, assustada e curiosa, retrucou-lhe:
— Onde?
— Nos meus sonhos (Estratégia de George para manter-se
relaxado o suficiente para conversar adequadamente).
O que deu muito certo, pois Megan sorriu, e respondeu:
— Nossa, que bela cantada!
George para não perder este progresso, disse:
— Brincadeira! Vi-te um dia na grande calçada de frente para
o mar.
E Megan:
— Ah, eu moro na última casa da calçada.
George, sabendo de tudo aquilo, deu um sorriso de leve (como
se não soubesse e nunca tivesse seguido a moça), e disse:
— Um prazer lhe conhecer, me chamo George Wood.
Nada mal para uma primeira vez com a razão do primeiro poema
do rapaz…
Desta vez encontrava-se perdido nas comportas de sua mente,
outra vez passando nas subentradas de um castelo medieval, em
uma das entradas deparou-se em uma ilha, e no fim desta ilha,
às profundezas, bordas de uma bolha infinita, só poderia sair de
lá quem refletisse o sol em um espelho que estava quebrado.
George poderia sentir-se sozinho, mas nas gravuras de sua
imaginação, pairando no ar, um esboço de um leão, que lhe
dissera: não tenhas medo de amar.

O QUE DIZ UM POETA?

Um diamante cortado na lucidez da ilusão,
Um escombro que busca em seu lado
O vapor de cinza que está angustiado,
Sozinho, isolado em meio à multidão.

Um silêncio que busca calado
Um meio de em sua voz haver atração,
Quando surtir um leve e esbranquiçado
Caminho moldado à submersa desilusão.

Não grite quando minha voz apagar
A mensagem que há em meio à corrente
Ainda esbelta sob a serpente.

Quando no passado o concerto
Consertou as cordas que desenrolaram
O futuro, perdeu o tempo neste deserto.

O leão mostrara este poema que George faria de noite, ao
dormir, e de repente George tirou este espelho de seu bolso, e
refletiu no sol ardente abrindo totalmente a borda daquela bolha,
formando uma escadaria para a praia, e desta praia ele deveria
construir o barco, para atravessar as fúrias do mar e chegar ao
seu destino incerto. O que foi mais fácil, pois ele já houvera
passado por este plano, naquele castelo, naquelas subentradas;
agora restaram apenas infinitas subentradas, pois na vida há
infinitas subentradas que levam a um mesmo lugar, dependendo
da entrada, o futuro pode ser ou não uma bolha, uma confusão,
ou o que George começara a sentir. Isto tudo ao olhar
profundamente o labirinto.
Então, ela perguntou-lhe:
— Onde você mora?
Ofegante, George disse:
— Última casa da Rua Infinite Highway.
O sinal tocou e eles foram para casa. Ao chegar perto de sua
casa, George ouviu alguém gritar por seu nome: George! George!
George! E quando olhou para trás viu que Megan havia o seguido.
Megan disse a ele que queria saber mais sobre sua vida, que não
conversava com ninguém em sua escola, pois os garotos
estavam idiotizados e animalizados, pensando apenas em sexo,
mas gostara da conversa que tivera com ele, que queria saber
seu ponto de vista sobre as coisas, suas expectativas, ou seja,
queria uma amizade. Para George, isso era completamente um
milagre, a moça era da forma que ele imaginou, faltava agora a
convergência política, convergência cultural, etc.
Megan então perguntou:
— Você ficou sabendo da revolução na fazenda da cidade ao
lado? Qual sua concepção sobre a ideologia dos porcos: O
animalismo? Você concorda com tudo isso?
Os olhos de George brilharam, um assunto que ele gostava
bastante, então respondeu:
— Sim, fiquei sabendo, não concordo com o que houve, nem
com o animalismo, nem com a forma com que os porcos tratam
os demais bichos, nem com o dilema que todos são iguais, mas
alguns são mais iguais aos outros.
Megan ficou surpresa, pois não tinha ninguém com quem ela
entoasse esse tipo de conversa. George perguntou:
— Você conhece o Sir. Cavalcanti? Megan ficou exaltada e
respondeu:
— SIM, é um dos meus poetas favoritos, o melhor poema dele
é FÜR BLUME, sempre fiquei me perguntando quem foi esta
moça que o fazia ter esse sentimento tão profundo, deveria ser
muito bonita, misteriosa…
— Assim como você- disse George em seu pensamento.
— Como você vê a concepção de mundo sob o ponto de vista
da liberdade sexual? Perguntou Megan, com um tom veemente.
— Uma porcaria, isso é o que um teórico marxista planejou,
pois para ele um dos pilares do capitalismo era a família e essa
libertação sexual poderia ajudar a destruir a família, isso explica
partes da modernidade atual tomada de imbecilização, balbúrdia
e imoralidade coletiva.
— Nossa, penso assim mesmo, achei você muito inteligentedisse Megan, empolgada com resposta do novo amigo.
Ao chegar à frente da casa de George, Megan surpreendeu-se
intensamente, não acreditando que George morava em uma casa
abandonada.
— Você vive aqui?- disse Megan, abismada.
— Sim, acho que preciso lhe contar minha história- disse
George, um pouco envergonhado.
— Não precisa se preocupar. Tudo o que você disser ficará
apenas entre nós!- disse Megan, entusiasmada e sensibilizada
com a situação.
— Bem, tudo começou quando…

 
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