Capítulo 2

A lojinha fechava às cinco e quinze da tarde e George tinha o
costume de caminhar pela calçada com vista ao mar da Cidade
das Pedras, cerca de trinta minutos para tal ritual, quando de
repente ele avista entre o pôr do sol e o horizonte uma bela
garota, seus olhos eram como as esmeraldas e sua pele era tão
macia quanto à flor do orvalho que perfuma o jardim no outono.
Não era tão alta, mas da altura certa para um garoto de quinze
anos, ela passou bem distante de George, mas ele sentiu um
calafrio e uma sensação que nunca tivera sentido, não havia hora
mais exata para tentar fazer uma bela poesia; e foi para casa com
os olhos brilhando, como um imaturo adolescente que nunca se
relacionou profundamente com alguém além de uma onça e um
velhinho.
George estava quase louco, encaixando palavras para formar
versos… Depois de quinze minutos, a primeira estrofe:
Exalteis o homem que conquistá-la!
Vós exaltar-me-eis qualquer dia,
Se do sangue a batalha trouxer a alegria,
Prazer será meu de pela eternidade amá-la!
Imaginando-se um cavaleiro na época da idade média, ele a
via como uma princesa, e com uma voz eloquente repetia mais
alto e mais alto esta primeira estrofe. Guardou com carinho a folha
em que escreveu; acordou apressado, cinco minutos atrasado!
Ao chegar à sala de aula, como em qualquer enredo de livros, ele
esperava que ela estivesse ali, mas não estava. Aquele dia de
aula foi difícil, até a doutrinação da professora George ignorou,
todos ficaram surpresos, e ele não conseguia parar de pensar
naquela moça, via a sombra dela (como um fantasma) em todas
as partes de onde ia.
Mais uma tarde de trabalho (complicada), George estava com
vergonha de pedir conselhos do chefe sobre como reagir, mas
nada. O senhor Beethoven o olhou bem nos olhos, e disse com
veemência:
— Fale com ela, seja HOMEM, faça a diferença, não seja como
esses moleques que só pensam em sexo, isso fazia parte da
estratégia, quanto mais depravação, melhor para quem quer o
estado grande, faz parte da desestruturação da família, ou você
gostaria de viver em uma Sodoma e Gomorra? Tenha atitude, não
tenha medo de chegar à mulher por medo de ela ser feminista,
você irá respeitá-la, irá ser diferente, assim será melhor!
George deu um sorriso largo, mas nem parou pra pensar que
estava agindo como se a visse todos os dias, e se ela fosse uma
turista? Isso ele irá descobrir hoje! Ao sair do trabalho, ele
caminhou e a procurou por todas as partes, mas não a encontrou;
quando de repente… Ela estava em altas gargalhadas com um
rapaz (que era tudo aquilo que ele odiava, e ainda era
politicamente correto, sabia disso porque o mesmo era seu
colega de sala de aula), mesmo assim, George confiou em si
mesmo, não se intimidou e foi pra casa. Mais alguns minutos para
mais uma estrofe. Eis que saiu, gradativamente:

Encontrar-lhe-ei nas fúrias do oceano,
Na escuridão das florestas e dos castelos,
Soará meu canto como um poderoso martelo,
Formando sulcos no solo do majestoso encanto.

Aquilo combinava intensamente com o que estara
acontecendo, poucas linhas expressavam absolutamente tudo!
George adormecera na grande reflexão gerada pelas palavras do
senhor Beethoven. Ao acordar, uma surpresa: tinham algumas
palavras em sua mente, com muita pressa ele as escreveu no
mesmo pedaço de papel:

Chamar-lhe-ei, querida, ao meu encontro,
Teus olhos refletirão meu simples poema
Declarando a ti meu imenso e puro amor!

Se para conquistar-te houver um temor,
Destrui-lo-ei formando o que usarei
Para pedir-te a mão, como sempre sonhaste!

Então George resolveu não ir à escola e foi procurar
informações sobre a moça, ele sempre a via naquele mesmo
lugar, perto do fim da calçada com vista ao mar, então foi aí que
ele a viu sair de uma casa em rumo à escola, ela deveria ter por
volta dos dezesseis anos, ele a seguiu e descobriu que ela
estudava a três quarteirões da sua escola.
George pediu ao senhor Beethoven para transferi-lo de escola,
dito e feito, na outra semana ele já poderia frequentar sua nova
escola. Assim, ele mostrou ao seu velho amigo a poesia que
houvera feito à moça, na hora ele intitulou o escrito.

CANTO À DAMA

Exalteis o homem que conquistá-la!
Vós exaltar-me-eis qualquer dia,
Se do sangue a batalha trouxer a alegria,
Prazer será meu de pela eternidade amá-la!

Encontrar-lhe-ei nas fúrias do oceano,
Na escuridão das florestas e dos castelos,
Soará meu canto como um poderoso martelo,
Formando sulcos no solo do majestoso encanto.

Chamar-lhe-ei, querida, ao meu encontro,
Teus olhos refletirão meu simples poema
Declarando a ti meu imenso e puro amor!

Se para conquistar-te houver um temor,
Destrui-lo-ei formando o que usarei
Para pedir-te a mão, como sempre sonhaste!

– O que o senhor achou?
O velhinho, admirado, congratulou-o:
– Parabéns! Nada mais a dizer.
O senhor Beethoven deu a ideia de um pseudônimo, depois
de minutos de discussão chegou-se à conclusão que seria Sir.
Desconhecido.

 
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