O prelúdio das preces evocava dentre as vestes das
profundezas do oceano o caminho de volta à reminiscência dos
desfalecidos caminhos antigos, onde a perfeição fazia-se
presente em cada acorde, cada verso ou cada romance. George
percebia que alguns queriam destruir a tradição, que a Europa
estava sendo invadida (quem estuda sabe) por mentes maldosas
e cruéis.
O que George queria era passar por meio do seu livro uma
volta no tempo em que havia alta cultura, onde as aberrações não
eram saudadas, onde a única revolução que acontecia era
musical ou poética. O que ele queria era se destacar
intelectualmente, e junto de sua esposa conquistar um espaço
cultural juntamente com diversos escritores conservadores.
Ainda faltava muito para George chegar ao lugar onde queria,
pois, ser conservador é estar sobre constante evolução;
sobretudo, George ainda andara nos solos do próprio
pensamento, naquela tarde calma, na familiar névoa pairando
sobre seu rosto, sob a ótica do que a natureza pode oferecer de
melhor. Juntamente com Megan, ele ia de vez enquanto à mata
buscar inspiração, e sempre surgia aquele lindo castelo medieval,
e uma mensagem:
Bem-vindo à origem de sua essência.
Tudo era diferente quando ele estava lá, não importava se ele
fracassasse, se nada desse certo… Ele estaria ali para dar à sua
lamúria um gosto de sua essência, de subcamadas moldadas à
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raiz do que nenhuma modernidade vazia pode alcançar e
explicar.
Sob seus olhos, as comportas empoeiradas e enferrujadas de
tanta vida, estavam sobre o chão os séculos, e sob a luz, a
eternidade. George adentrou com Megan a uma sala com um
clássico piano, e ensinou-a a tocar o prelúdio em mi menor, de
Chopin. Enquanto eles tocavam, a aurora da tarde e o canto dos
pássaros davam à música um fundo quase celestial, uma grande
paz.
Todos deveriam ter esta experiência, de ao menos uma vez ao
ano entrarem em seus castelos e desfrutarem do que há de
melhor em suas essências, o que há de melhor no que em um dia
foi valorizado e amado, sendo hoje alvo de ataques, sendo usado
como termo pejorativo para realçar o nível de insignificância em
quem o despreza.
Dentro do piano havia uma janela, Megan resolveu abri-la, de
repente, e se deparou com uma forte luz. O piano era maior que
o normal, George resolveu entrar nesta janela para ver o que
continha lá dentro.
George, ao entrar juntamente com Megan, pôde perceber que
havia apenas um infinito horizonte, e que tudo estava escuro, uma
versão lenta e triste do prelúdio em dó maior de Bach estava em
ressonância ao infinito, havia um luar, e um lago caudaloso que
só podia ser visto pelo brilho oriundo da lua que vagava pelo
espaço. Conforme a melodia ia acabando, uma tempestade com
a cor dos olhos de Megan se aproximava, e uma voz marcante
recitava uma poesia de George, agora com a canção de Liszt
Sonho de amor:
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MELANCOLIA
O veludo desta noite escura
Reflete em minha emoção,
Que transborda nessa clausura
Tudo aquilo que está preso no coração.
Meus versos pobres de sentido
Entram nas paredes cálidas,
Buscam formas onde é mais bonita
A rima que porá melodias áridas.
Love story hovering in the moonlight,
The melancholy’s song, in my whisper
Get the mission to float in the night
And conquer your hole as a dreamer.
Apenas estes três versos do poema que George fez após a
morte de Beethoven o fez perceber que seu grande amigo estava
ali naquele momento, após estes três versos, ecoando do abismo
a aguda voz disse:
Seus livros serão um sucesso, as coisas boas são superiores!
Use o recurso que lhe dei como ajuda do pagamento da
segunda edição…
Nesta noite George fez sua poesia a poesia que o destacaria
em seu terceiro livro: Ode ao invisível (p. 63).