Logo, dos olhos de Jones se florearam e esbaldaram-se gotas
insipidas sobre o ar, lembrara-se de sua mãe. A mensagem que
a poesia queria passar tocara-lhe solenemente, deixando-o
reflexivo.
Em seguida, lia rapidamente cada poesia que estava presente
nos papéis, era tudo muito profundo, Jones pensara até num jeito
de ajudar o garoto, aquele livro seria um sucesso, George teria
algo mágico em sua vida: conseguiria tocar com palavras o que
nenhuma ferida pode alcançar, alcançaria a alma como nenhum
terrorismo psicológico poderia abalar. Adjetivações não faltavam
aos olhos de Jones.
Até que Jones chegou a uma poesia que se identificara
demasiadamente:
MANHÃ INCOMUM
Hoje estou como há dias não estara,
Hoje o sol já está brilhando
E a maciez a minha pele tocara,
Que queimara de dor, clamando…
Talvez com a prole do pranto
Tenha despertado a piedade escondida
Entre o fel e o mel da algoz saída
Plantada e colhida nas vestes do encanto.
Os pássaros trouxeram-me, agora,
O canto que estava me incomodando,
121
A suavidade que meus ouvidos precisam,
Depois de dias, preso nos cantos.
Cantos da própria inatividade defensiva,
De entregas à dor que é anterior,
Para saber que hoje, simples gestos estão,
Dando-me o que negara: amor.
— George, isto aqui é fantástico! Simplesmente tocante e
emocionante. E algo nem tão importante no ponto de vista
humano: esse livro seria um sucesso de vendas, porém não
podemos ter a mentalidade fracassada de que dinheiro é ruim,
temos que nos destacar porque nos negócios não existe
igualitariedade, se pensarmos assim alguém nos ultrapassará. —
salientou Jones.
— Muito obrigado, Sr. Jones. É muito importante para mim,
receber esse tipo de elogio, ainda mais vindo de alguém como o
senhor. — respondeu respeitosamente George.
— Então vamos fazer o seguinte: eu lhe ajudo, podemos
começar com cerca de mil exemplares, cada página vale cerca
de dez centavos, ao multiplicar-se por duzentas e vinte páginas
teremos um valor de vinte e dois dólares, multiplica-se por mil, e
sai cerca de vinte e dois mil dólares. Posso lhe ajudar nisso,
portanto, para ser justo devemos fazer uma troca de favores.
Você poderá revender por trinta dólares, e o valor total ficará
setenta por cento com você e apenas trinta por cento comigo.
Portanto, você ficará com uns exemplares para vender, ou nós
poderemos vender para você em nossas livrarias (como fazemos
sempre), o valor total será de trinta mil ao todo, e ficará vinte e um
mil para e apenas nove mil para nós. — explicou Jones.
— O que senhor acha? — perguntou George ao Sr. John.
John ficou muito feliz com a oferta sensata, e disse:
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— Perfeito! Proposta humana e totalmente racional. Ninguém
vai sair perdendo, a empresa não vai sair no prejuízo, muito justo.
Mil exemplares já é um número significativo! — respondeu John.
Jones olhou bem nos olhos de George, e deu-lhe um conselho:
— Veja bem, você tem um talento muito raro para sua idade,
não que a idade importe, mas no nosso contexto atual é raro. Fica
a reflexão: estou lhe dando uma oportunidade, você irá pagar a
próxima edição, vou fazer com trinta por cento de desconto, cerca
de seis mil e seiscentos, ficando um total quinze mil e
quatrocentos. Saiba render este dinheiro, saiba multiplicá-lo.
Então eles continuaram conversando, o Sr. Jones explicou um
pouco de como funcionava a economia; conversaram também
sobre política, os dois pensavam da mesma maneira, o que era
engraçado é que George gostava de coisas que os mais velhos
gostavam, era uma alma antiga, tão conservador quanto os que
eram e não sabiam.
O Sr. Jones continuou a ler os poemas de George, e cada vez
mais ele ficava impressionado com o talento deste jovem; quando
de repente se deparou com uma poesia bombástica, cheia de
sentimento e mistério, tratava-se de um pesadelo que George
tivera, estava tudo escuro, as névoas caminhavam sobre o
horizonte frio, trêmulo e envergonhado com a escuridão da noite.
Alçava nos céus a floresta da morte, com vestígios sangrentos,
o ímpeto cálice da madrugada espúria, na lamúria dos ventos que
soavam a ecos de distância, o que estava escrito naquele simples
pedaço de papel dava um livro, um filme, o que fizera Jones
pensar.
Afinal: O que tinha de tão especial neste poema? “Leia tudo!”
Ecoava Jones a si mesmo. Portanto, o poema dizia o seguinte:
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O QUE RESTA DE UM PESADELO?
Era madrugada, uma noite obscura e sombria,
Estava frio e a melancolia da tristeza estava ali,
Depois de minutos em pensamento, percebi
Que estava só e que alguém me observara.
Com os olhos banhados a sangue, sem empatia,
Com um olhar cheio de ódio e sem nenhuma vida,
Pegou uma faca e caminhou para o abismo,
E eu, sem entender continuei escrevendo.
Estava na janela de meu quarto, admirando
Toda a beleza que a escuridão estava a trazer,
E compondo meus versos entristecidos
Pude sentir um orgasmo ao ouvido à 1ª melodia.
Não lembro ao certo se alguém me acompanhara,
Mas no fundo sentia uma presença indesejável,
Um sussurro pedia-me para sair correndo,
E a briga da razão com a emoção é indispensável.
A encruzilhada eu avistei, e estava sem rumo,
Os olhos começaram a se desligar do ambiente,
Os passos vinham lentamente, em direção,
Com uma profundidade opaca destruindo o caminho.
Encolhi-me no que intitulei a segurança
E o barulho se aproximava, era desconhecido,
Ninguém estava comigo para uma fuga,
E sem saber o que fazer, corri, escondido.
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Uma voz a quilômetros de distâncias, disse:
Não fuja, pois sei onde tu estás e não enxergas nada!
Pude ouvir como se estivesse enterrado por dentro,
Não havia o que fazer, senti nos pés águas ferventes.
Então ouvi meu instinto mais racional,
Peguei o violão, meus rabiscos e sai de onde estava,
Mas a presença estava lá fora, olhando-me…
Com seus traços psicóticos correu para matar
O que restava de bom em mim: a vida.
Corri em sua direção pra ver se era isso mesmo,
Mas de repente não estara mais ali,
Ao meu lado alçou suas armas e perfurou
Meu triste anseio e depois não senti mais nada.
Era uma paz, era uma dor inexistente,
Vi meu corpo jogado no chão, sem vida, e chorei,
E um raio atingiu-me os olhos e retornei
À grande dor, em um corpo a agonizar…
Não pedi a Deus nenhum tipo de piedade,
Porque lembrar apenas nessa hora é idiotice,
Então seria ele quem decidiria meu destino:
Céus coloridos, ou desertos escuros e sangrentos.
Alguém teria de encontrar-me nesse estado,
Sentia-me assim, não a ponto de sofrer,
Quando vi, uma sombra no horizonte:
O sol sorriu para mim e explicou a metáfora
Daquilo que houvera acontecido há instantes.
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— Em dois meses está pronto. — rapidamente Jones decidiu.
— Tudo bem, Senhor Jones. — disse George.

 
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