Megan, com a vista toda embaçada abriu os olhos lentamente
e percebera que estava em um lugar diferente, George estava
observando-a e tentando acordá-la desesperadamente.
— Querida, chegamos à caravela! — disse George, exaltado.
— Como chegamos aqui? — perguntou Megan, atordoada e
sem se lembrar de nada além do momento em que o barco virou
tempestuosamente.
— Foi algo muito louco, o que importa é que estamos aqui, é
enorme, veja! — disse George, eufórico e admirado com um
barco tão grande.
A caravela não tinha nenhum móvel, apenas uma madeira
rústica e medieval, era muito resistente, e aparentemente tinha
apenas a cabine onde guiava o barco. Olharam tudo em volta, e
nenhum sinal de terra, um verdadeiro deserto aquático, onde
estavam apenas num barco vazia e atrás um inferior afundando
lentamente.
Então resolveram dar uma volta pelo barco, que tinha vários
detalhes em desenho, apesar de não ter nenhum móvel lá em
cima, era muito bonito. E tinha uma única porta: a porta da cabine.
Entraram na cabine, e nada demais. O barco tinha aquele
tamanho todo para ter apenas uma cabine? Investigaram isto, e
não conseguiram achar nada, a noite estava chegando, e eles
famintos, estava uma só escuridão, pelo jeito era aquilo mesmo
que tinham para hoje.
Não tinham noção de tempo e de espaço, para eles, estavam
em alguma hora da noite do dia de domingo, George percebendo
87
isso, resolveu conversar com o tempo por meio de um poema,
que dizia:
INJUSTIÇA DO TEMPO
Perdura acima das nuvens de melancolia
Todas aquelas vezes em que chorei em silêncio,
Vezes em que murmurei o teu nome;
Às vezes sem voz, sem canto, sem pensamento.
Na calmaria da sinfonia do vento
Fixei na tempestade, um rascunho vazio;
Representava o frio e a minha solidão
Em busca do passado, futuro sombrio.
Em contrarresposta veio um raio
Que destroçou tudo; representava o presente,
Disse em voz baixa a verdade e a agonia:
Morrerás, o tempo vencerá e serás esquecido.
Se o que dizes não é refletido à realidade
A fantasia conseguirá te entregar uma escadaria,
Que te levará a um túnel de maldade
No codinome pífio de liberdade e igualdade.
Às vezes sem voz, sem canto, sem pensamento,
Murmurará a ti, como a seda da rosa da eternidade,
Como o beijo da morte dirigida à doce paz,
E de ti oscilava o desprezo e o tormento.
Perdura acima das nuvens de melancolia
88
O futuro em que chorarás em silêncio,
O passado em que não me respondeste,
Às vezes com ódio, com desafeto e agonia,
Mas sempre em mente, que me ajudaste.
Oh, tempo! Se tanto desprezo e angústia
Trouxeram-me as respostas de dúvidas profundas,
Por que em teu aposento há quem diga
Que de ti apenas vem dor e saudade?
Por que a ti é atribuído o fim?
Por que os dias transfiguram a antítese?
Porque é mais fácil censurar-se em dor,
Achar consolo em uma culpa invisível
E em mim, descontar o próprio desamor.
Os dias transfiguram o espelho da vida.
Megan tinha um poeta como namorado, e estava orgulhosa
disso, não precisava expressar absolutamente nada, pois o
poema já dizia tudo.
— A carne está assada! — brincou George.
Os dois riram, estavam morrendo de fome, aliás, fazia um dia
que não comiam; George e Megan começaram a orar, a pedir
bênçãos de Deus, a pedir alimento. Tomar água até poderiam
(mesmo que salgada), mas preferiram dormir para tentar
descobrir alguma coisa no dia seguinte.
Eles acordaram com um vento muito frio, o mar estava agitado,
então foram para dentro da cabine, logo perceberam que havia
uma madeira um pouco fora do lugar, e quando a puseram no
devido lugar, uma espécie de minielevador surgiu no canto da
cabine.
89
— Mas o que é aquilo, que coisa estranha! — disse Megan.
— Vamos ver o que é! — respondeu George, curioso.
Então quando entraram lá no elevador, viram que tinha uma
alavanca indicando três andares, e que aquele era o último,
puxaram a alavanca para o andar II, desceram rapidamente.
Não tinha nada ali, era apenas um salão muito grande, um
campo de futebol e meio em questão de comprimento. Rodearam
aquilo tudo e não avistaram nada fora do comum. Voltaram para
o elevador e puxaram a alavanca para o andar III, também
desceram rápido, e lá continham móveis luxuosos, uma mesa de
jantar vazia, poltronas chiques, era como em um palácio, as
paredes eram rodeadas de ouro e começaram a admirar aquilo,
e chegaram a uma parte que havia outra alavanca.
Ao puxarem, ouviram um pequeno barulho de parede sendo
arrastada, surgiu uma trilha de rosas, com uma mensagem:
Andem mais um pouco para chegarem a casa
— Que ótimo! — vibrou Megan.
— Será que isso pode acontecer outra vez? — disse George,
um pouco chocado com aquilo, pois parecia que alguém estava
fazendo aquilo acontecer.
Então caminharam por cerca de quinze minutos naquela trilha
que não acabava mais. Surpreso, George perguntou.
— Como ainda podemos estar caminhando aqui, o barco não
é tão grande assim.
Megan estava estupefata, porém também queria saber o que
tinha no final.
— Nossa, por que será que isso está acontecendo com a
gente? Isso será único em nossa vida, mas acredito que já fui
declarada desaparecida, estamos no quarto ou quinto dia
90
perdidos em um lugar onde não sabemos onde vai parar. — disse
Megan, satisfeita, mas ao mesmo tempo preocupada.
— Calma querida, vamos conseguir voltar pra casa. —
encorajou-a.
Olharam para trás e estava tudo escuro, apenas para frente
existia luz, e assim eles foram, o espaço foi diminuindo e tiveram
que se ajoelhar. De repente foram sugados rispidamente, e de
dentro do caule de uma árvore antiga saíram. Caíram no meio de
uma mata macia, e quando avistaram para frente, ali estavam,
novamente, cinco passagens.
Bem, agora lhes restava uma última passagem. A entrada do
meio valera muito a pena, pois passaram por momentos intensos,
e aprenderam o sentido mais derradeiro e profundo da palavra
união, sem se importarem com as circunstâncias, com os troncos
que lhes atrapalham as passagens. No entanto andaram sobre as
raízes das árvores.
Andaram por cerca de quinze minutos, e um pouco distante
havia uma árvore caída escondendo o que teria à sua frente.
Caminharam rapidamente, quando se aproximaram viram que
estava escrito bem no meio:
Linha de chegada!
Foi então que eles ultrapassaram aquela árvore e perceberam
estava escurecendo. Voltaram finalmente para a cidade das
pedras!
— Não acredito que voltamos pelo mesmo lugar que viemos!
— disse George.
— Tampouco eu, meu amor. — disse Megan dando-lhe um
abraço e um leve beijo, demonstrando mais afeto que nunca.
— Que dia é hoje, será? Deve ser dia seis ou sete, o relógio ali
marca seis e meia. — disse George um pouco pensativo.
91
No momento ia passando um casal de idosos, George
resolvera perguntar, portanto:
— Senhor? O senhor poderia me informar que dia é hoje.
O senhor, bem simpático e educado, respondeu:
— Sim, meu querido. Hoje é dia primeiro de Agosto.
— Obrigado, senhor. Tenha uma ótima noite!
George e Megan entreolharam-se completamente
horrorizados com aquilo que acontecera, havia algo de errado,
algo não se encaixava.
Até tentaram entrar novamente, mas uma força empurrava-lhe
para fora, impedindo-os de ao menos olharem novamente.
George acompanhou Megan até sua casa, e estavam
conversando sobre esses cinco dias que se passaram em três
horas, como isso poderia acontecer? Poderia ser outra dimensão
onde tudo se passa muito rápido, ou podia ter sido uma
experiência divina, ninguém sabia o que era. Sequer conhecia-se
alguém que teria passado por isso.