Megan estava com os olhos arregalados quando George
terminara de contar aquela história aterrorizante, e imaginara
como que um pai contava aquilo a um filho, certamente o terror
vermelho era real, e eles sentiam aquilo na pele.
— O que você achou desta história? — perguntou George.
— Uma ilusão que quando se tornou realidade foi muito ruim,
o corajoso idealizara aquilo, depois teve que fugir do que ele
mesmo desejara; assim é o socialismo, uma ótima metáfora essa
história, você sabe por quem ela foi criada? — refletira Megan
com um olhar de dúvida.
— Exatamente isso! Não se sabe quem foi o autor dessa
história, porém sabe-se que ele morreu enforcado por “trair” o
movimento revolucionário, acontece que ele era comunista,
depois voltou atrás quando realmente entendeu do que se tratava
na realidade, o corajoso o representava. — respondeu George.
Ficaram contando histórias para o outro e depois de um tempo
adormeceram. Quando acordaram, perceberam que a floresta
havia mudado de cor, e continuaram a caminhar até verem onde
aquilo iria chegar. Desta vez haviam escolhido a passagem do
meio, onde aquilo iria parar? Perguntavam-se constantemente,
quando finalmente depois de quarenta e cinco minutos viram algo
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diferente: era uma luz no fim do túnel, estavam a avistar uma praia
aparentemente desértica.
— Finalmente saímos desta trilha, e agora: onde estamos? —
Disse George, aflito demais para pensar em algo.
— Vamos procurar um pouco mais. Disse Megan, confiante de
que voltariam para casa.
E caminharam por mais quinze minutos, quando viram que
existia uma vala, um abismo logo na frente, não tinha ponte para
atravessar, e no abismo só existia escuridão, mas entrelaçadas
às areias estavam as pedras, que poderiam servir para uma
“escalada ao contrário, a fenda de areia tinha no mínimo cento e
cinquenta metros.
— Então, Megan, vamos descer até lá embaixo para vermos o
que tem lá, e se de alguma forma podemos escalar o outro lado.
Então os dois conseguiram descer lentamente, George quase
caíra no início, e Megan estava se saindo bem. A magia por trás
de tudo isso era o fato de os dois não desanimarem e continuarem
em equipe, certos de que iriam conseguir voltar para casa.
Megan estava preocupada com seus pais, em como eles
estariam nesse momento, e várias perguntas atravessaram-lhe o
cérebro. Não era para acontecer isso, George estava se
inspirando para mais um poema, como não podia escrever,
começou a recitar como se já tivesse escrito:
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CAMPO MINADO
Nossa vida é um campo minado,
Temos de dar o primeiro passo,
Porque o desconhecido é o incerto destino,
Pode-se eclodir ou explodir os sonhos.
Nas veredas dos arvoredos escuros
Há uma escada que leva ao infinito,
Há nas paredes ásperas e profundas
Excertos dos sangues de vários ritos.
No grito existencial da dor
Idealiza-se uma realidade paralela,
Onde as trevas nunca matam a luz,
Onde há apenas uma estrada reta.
Cruzam-se cidades que estão flutuando
Sobre as nuvens da própria existência,
Onde há a musicalização dos prantos,
Que em suma, no inverno muda a aparência,
Porque o campo minado está vazio
E a mente esboçou vários motivos,
Inundou e esvaziou seu amargo medo
Em suas mãos pôs-se o sol, e nasceu.
Logo que George terminou de recitar, quando iria dizer FIM,
uma tempestade de areia começou a surgir, e tudo ficou mais
escuro, fecharam os olhos depressa e começaram a sentir que as
pedras estavam desmanchando, teria chegado a hora dos dois.
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Então as pedras caíram e eles se abraçaram bem forte, e deram
o último ar de despedida.
— Megan, eu te amo.
Megan não conseguiu dizer nada, e os dois foram engolidos
pela fúria das areias, e de repente tudo começou a se acabar, os
corpos estavam estraçalhados pelas pedras e rochas. Tudo
escureceu ainda mais e não se sentiam mais em seus corpos,
tudo está fadado ao fim, e tudo se acabou de repente.
Os corpos estavam ali no chão, sem nenhum ferimento externo
abriram os olhos lentamente, a poeira havia baixado e restava
apenas o mesmo deserto, sem nada, com um sol escaldante, com
o céu sem nenhuma nuvem. Continuaram a caminhar, e depois
de quatro horas avistaram um pequeno lago, estavam morrendo
de sede.
— Olhe ali, Megan. Água!
— Graças a Deus, estamos mais vivos que nunca! — vibrou
Megan.
— Posso te mostrar uma coisa? — perguntou George, logo
após os dois beberem muita água.
— Pode sim, aliás: DEVE! — exclamou Megan, com
curiosidade.
Em seguida, George tirou um pedaço de papel de seu bolso.
CLEPSOLIS
Tu és o grande sentido da minha vida
Não ser um deserto de uma alma viva,
Decerto és tu o meu grande amor.
Lembras que éramos um projeto,
Conversávamos com o desejo aberto
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E de repente sentíamos calor?
Sentia-me atordoado quando ias
Distanciando-se de minha alegria,
Do meu sangue, a poesia de imensa dor.
Até que a coragem surtiu efeito
E do pedaço da alma veio o primeiro beijo.
Então, o retalho vazio encheu-se de realidade,
E não tem quem me faça perder esta eternidade.
Ter a ti prolonga o meu tempo
E a tua voz ecoa como a seda mais lisa,
Como a rosa plantada no mural da beleza
Em meus mais profundos sentimentos.
Ter a ti dá-me o oxigênio,
E me sinto um gênio ao ter-te no final do dia,
Ver-te dormir e acordar; sorrir e chorar,
Tendo como conforto o calor dos meus braços.
És tu o relógio que marca meu fim.
Então George leu para Megan este poema, e em seguida,
disse:
— Te disse um dia que saberíamos o dia certo. Então:
Namoras comigo?
— Sim, esperei por isso há meses, querido! — respondeu
Megan.
Então os dois começaram a acariciar-se como na primeira vez,
se imaginaram naquele sonhado castelo, com o quarto de frente
ao mar, que está calmo, e ao som de Clair de Lune, no calor do
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momento foram ao céu e em seguida voltaram, tudo estava indo
às maravilhas, no ápice das chamas voltaram ao deserto onde
estavam e deitaram-se exaustos no lago, e aproveitaram um
pouco que as águas estavam ali para tirar um pouco da areia
grudada em seus corpos.
Descansaram um pouco e voltaram a caminhar, cerca de duas
horas depois avistaram um imenso mar, agora estavam em uma
praia, estava anoitecendo e esta noite dormiriam ali, não havia
coqueiros lá, então tiveram que buscar comida naquele oceano
agitado, conseguiram pegar três peixes, em seguida fizeram uma
fogueira e puderam finalmente alimentar-se.
— Querida, essa noite está muito romântica, ignoremos o fato
de estarmos perdidos e vamos aproveitar que estamos salvos,
andamos muito hoje e passamos por vários lugares exóticos,
vimos desde ontem coisas que ninguém vira (aparentemente). —
disse George, com um largo sorriso.
As nuvens estavam carregadas de estrelas, a lua estava maior
que o normal e com um brilho intenso, que ao entrar em contato
com os olhos de Megan, os deixavam ainda mais azuis.
— Realmente, meu amor, temos de aproveitar bastante, pois
isso ficará marcado para sempre em nossa memória. — atenuou
Megan.
As nuvens caminhavam lentamente, como se fossem melodias
de uma música calma, como se estivessem mandando uma
mensagem, quando de repente George apontou para cima, e
disse:
— Olha ali, querida, você consegue ver o que está escrito nas
estrelas?
— Parece um anagrama, não sei muito bem. — disse Megan.
— Não querida, está escrita uma frase: Sejam Felizes! — disse
George, surpreendido.
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E Megan sabia que Deus havia os juntado por algum motivo, e
que de agora em diante poderiam guardar-se para o casamento,
para uma família. Adormeceram gradativamente entrelaçados um
ao outro, e sentiram um calafrio como se alguém tivesse os
tocando, no meio de tudo aquilo reverberara uma névoa sobre o
espaço, uma espécie de bruma, mas com uma coloração mais
brilhosa, era mais um fim de dia especial.
Acordaram-se junto com o sol, e puderam vê-lo nascendo, ele
surgira no horizonte daquele infinito oceano, mas as nuvens o
abraçaram resultando num dia de trevas, estas trevas eram um
pouco claras, deixando tudo num contraste meio nublado, mas
um nublado incomum, um nublado que não existiria no mundo
normalmente.
Quando a névoa fizera com que seus olhos enxergassem algo
além do que o olho humano pode enxergar, perceberam que
estava ancorada a centenas de distância uma pequenina
caravela, então deveriam conseguir uma forma de chegar até lá,
pois o pedaço de praia era aquele, e para trás somente aquilo
deserto escaldante. O mar estava calmo e eles teriam de nadar
de alguma forma.
— Querido, como vamos conseguir chegar lá? — Perguntou
Megan.
— Não sei como, mas vamos conseguir. AS COISAS BOAS
HÃO DE SEREM SUPERIORES ÀS RUINS! — gritou George,
emocionado e em seguida segurando as mãos de Megan.
Na hora, George fez um poema em sua cabeça, e iria declamar
de maneira enfática, é tudo ou nada, é vida ou morte, coragem!
George então pegou nas mãos de Megan e pediu para ela o
seguir.
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THINK ABOUT IT
Don’t forget me today,
Don’t hurt me without reason,
I think that you are inside me,
As a universe in fusion.
If in darkest hour I dead,
I hope your presence on the tempest,
Wizard of the love declaims the darkness
And says what painest silence can’t to try:
To look at itself in the mirror of emptiness.
Somewhere there’s a stairway to prison,
We enter into thinking that it’s freedom,
But there’s inside of the endless solitude
A space where the tears are being restructured.
The threat is real and touched me last night,
Don’t hurt me without reason, darling,
The unforgiven just is destroying us,
I think that you are inside me,
So true the reality that you’re completing.
Somewhere there’s on the wall,
Echoing that I’m still crying slowly,
Death is calling me in hiccup:
Tell me your feelings and secrets…
And I: Darling, don’t tell me goodbye.
Don’t remind of what I lived,
Just if my heart was still alive
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I could read this, in the mirror,
In your eyes, in stairway to eternity,
The fusion has to give me your sonority.
Your beats draw the palest forest
And the most tears of the hardened hour
Are here, in the moonlight of the tempest,
Of the silent verse that just woke up.
The crossroads brings us to infinity…
— Vamos ao infinito, meu amor! — enfatizou George.
Megan vibrou e também se encorajou, até que o mar começou
a ficar agitado, e a antes “ancorada” caravela agora estava
caminhando em pressa com o ritmo das gigantescas ondas.
George com as mãos na cabeça, desesperado viu que a
cinquenta metros da praia tinha umas madeiras entrelaçadas nas
outras, uma “prancha” de mais ou menos cinco metros de largura
e dois de altura, serviria de barco para que eles chegassem à
caravela.
Então com a ajuda de Megan George colocou o barco para o
mar, e já estavam em cima dele, agora bastava muita fé, muita
oração para aquilo não virar e eles morrerem afogados. A
ventania estava muito forte e o barco ia para cima e para baixo
violentamente.
— Meu amor, segure-se em mim, teremos sorte! Vamos ficar
aqui, protegidos, vamos orar! — disse George, corajoso e
confiante.
Megan nada conseguia dizer, parecia que estavam na melodia
da música Storm (Tormenta), de Vivaldi. Adormeceram de tanto
medo, passaram cerca de três horas adormecidos e petrificados,
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quando acordaram perceberam que estava tudo calmo, e que
estava um pouco alagado o barco.
— Deu tudo certo, não afundamos, não morremos. Agora
vamos nos levantar lentamente para ver em que lugar nós
estamos e se chegamos ao lugar onde está mais próximo de
casa. — sussurrou George.
Megan não conseguia falar absolutamente nada, reluzia sobre
seu rosto que George era seu porto seguro, como deveria ser por
toda vida.
De repente, um estrondo impetuoso chegou, e o barco virou
totalmente, jogando os dois no mar. Com o susto, Megan
desmaiou, e George não sabia o que fazer, ela estava afundando
rápido. Depressa e bravamente George pegou em rapidamente e
puxou-a para cima, colocou-a em suas costas e seguro no barco.
Viu então que a caravela estava ali, cerca de dois metros de
distância.
Megan parecia morta, mas George não a deixou sozinha ali,
então nadou até próximo à caravela, que não era nada parecida
com que vira de longe, era uma embarcação muito maior que o
normal. Devia ter cerca de vinte metros de largura e quinze de
altura, cento e cinquenta de comprimento. Tinha nas bordas uma
escadaria que levava até dentro do barco, com Megan em suas
costas, George chegou ao lugar seguro.