Nesta madrugada fria
Vou furtando os versos empenhorados
No jardim da manhã que floria,
Na noite em que a luz estava afogada.
No risco seguido de um raio,
Na canção composta pela perfeição,
No tempo em que o infinito tem seu esteio,
As vozes falam ao inquieto chão.
Ultimamente não tenho inspiração,
As bordas da alma dão lugar ao vazio;
A maré não completa seu ciclo,
Seus olhos brilham no silêncio febril.
Nas eternas músicas clássicas
Vou retirando à força um sentimento,
Arrancando das raízes a essência
E plantando aos rabiscos, juramento.
Versos aleatórios debruçam pensamento,
Na exposição de miragens, ponho seu reflexo,
Contar-te-ei uma história estarrecedora
Para saberes o real significado do que escrevi.
Há tempos o sol está perdendo o sentido,
Porque não chega ao seu final destino,
Apenas ao meio da chama ardente
Que constrói a derradeira fonte de palavras.
Veja minha sombra opaca
Nas cinzas do velho cigarro
E repita: como é aleatória a mente!
Itacoatiara-AM, 10 de janeiro de 2019.