Cultivo versos qu’inda não perdi
Do poeta que existe aqui dentro,
Aqueles versos que vagam nas profundezas
Deste labirinto que me vem como relento.

Como se pudesse existir, encontro-me
Em busca de teus ramos silenciosos,
Deflagro-me no subsolo de tua solidez
E me encanto em teus trilhos rochosos.

Minh’alma antiga ainda suspira
E por isso idealizo a dama do luar
Que me vem como acalanto aos olhos,
Que petrifica cada suspiro no ar.

Avisto-a nos montes de meu submundo,
Tão bela e enigmática quanto o pôr do sol,
Tão reluzente quanto a derradeira alvorada,
Tão frágil quanto as pétalas de um girassol.

És adornada de uma fidúcia angelical,
És tão melancólica que de sua voz
Soam as mais tristes palavras de silêncio
E um murmúrio inaudível de tormento.

Quem me dera conhecer tua essência,
Teu abismo, o cosmo de tua ideologia;
Conhecer teus castelos, teus anseios;
Ver-te sobre meus braços ao fim do dia…

Sento-me à espreita da calçada suja,
A noite reluz nos céus o esboço
De tuas ondas espectrais
Como fantasmas e outras coisas mais.

Na escuridão sepulcral de tanto devaneio
Vens a mim num espectro cinzento.
Dizes ternuras, tocas o profundo esteio
Como véu da tempestade ao pensamento.

 
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