Tinha uma amiga,
Mas por ela o coração
Batia forte feito um comboio de cordas
Que desenfreava a mente, a paixão.
Lembro-me do que queria:
Viajar para o descanso
E levá-la na boemia
E no exterior, cair em “prantos”.
Iríamos à Paris velejar
E viajar no além
E ela alegrou-se tanto
Na felicidade que a luz provém.
Surgiram-me ideias com a ventania
E me fizeram pensar no que fazer:
Passaríamos um mês na melodia
Mas mil anos sem esquecer.
No aeroporto chegávamos
Com ansiedade desatinada na mente,
Mas será que em um mês
Consigo traçar um futuro presente?
Passaram-se alguns instantes
Vendo a beleza que no peito lança;
Aquele perfume exalado
Faz-me encher de esperança.
Avistando a bela cidade
Peguei em suas mãos macias
E dos seus lábios a maldade
E a paisagem que refletia.
Um suspiro de leve
E jogamo-nos do avião,
Ao avistar a beleza de perto
Enchemo-nos de emoção.
Porém, eu teria um problema:
Esse grande amor já tinha alguém
E não vale à pena fantasiar emblemas
Dos mistérios de um sentimento.
O dia ia passando
E eu perdido no olhar,
Tão límpido que ia ludibriando
O frágil amar.
E o dela brilhava mais,
Mas por outro motivo.
Estávamos respirando o romance
De outro mundo iludido.
No dia seguinte
Planejei um velejo ao ar
E num balão de ar quente
Avistaríamos a léguas, o mar.
Seus cabelos esvoaçavam
No delirar do vento
E liberavam o cheiro
Do cio, amor e tormento.
No marasmo insensato
Avistei o semblante
E aquele sorriso pequeno
Afetara minh’alma flagelante.
Aquele corpinho bonito
Inspirou-me à poesia
Que logo eu mostrara ao reflexo seu
Declarando a sensatez da alegria.
Ela, meio sem graça,
Deu uma risadinha sem querer
E o coração bateu forte
No esplendoroso bem querer.
Imagine, demorou dez minutos,
Mas pareciam ter passado dez anos.
Olhei no fundo daquele labirinto
E roubei um beijo, que espanto!
Ela retribuiu bem lentamente.
Naqueles leves toques,
Não se importava com os obscuros
E logo eu a tinha nas mãos.
Poderia fazer o que quisesse,
Mas se houvesse algo de acontecer…
Que fosse sem que algo impeça
Por dentro, seu querer.
Mas pude ver longamente
No compassar dos meus laços
Que estava perdidamente
Envolvida na força de meus braços.
O calor de nossas bocas
No frio que fazia em cima
Fazia-nos perder na vontade oca
Que improvavelmente surgia.
Flutuamos França inteira
Inteiramente entregues ao fervor
E ao voltar à cidade
O mundo encheu-se de cor.
Voltamos à Paris finalmente
E ficamos num hotel em frente à pracinha;
Os banquinhos estavam cheios de gente
E lá, eu a encheria de alegria.
Sentada em um banco,
Estava sozinha na multidão,
Mas quando chegasse
E a multidão viraria um deserto.
Um buquê de flores dei,
Um presente preferido;
Chocolates, um abraço…
Agora seu mundo fizera sentido.
Lá, eu disse que a amava,
Lacrimejando de emoção.
A atração principal éramos nós
E todos encantados, lamentando o coração.
Cada palavra dita soou feito um sino
E suei de tão nervoso,
Mas ao mesmo tempo calmo
Pois finalmente vi que era amado.
Ela beijou-me até o cérebro,
Senti-me nas estrelas,
Nossos corpos esquentaram
E o resto, de impureza.
Uma loucura só, loucura mesmo!
Eu tinha um mês para conquistá-la
Mas num dia, simples dia,
Mataria todos os desejos.
Nossa noite de nunca esquecer;
Deleitara-se nos movimentos,
Pois tudo o que quisera, fiz,
Uma prova de amor todo momento.
E foi na frente do mar
Na varanda do último andar do hotel
Que se declarou para mim
E que tudo se completaria com um véu.
Ocorreu tudo isso
E ela esquecera o namorado
Amor entre eles não existia,
Estava tudo acabado.
Saímos mais uma noite
E no alto da torre Eiffel
Fiz algo impossível:
Pedi sua mão em casamento.
Olhando lá de cima
Aquela exuberante vista
Ela se atirou em meus braços
E disse chorando: Sim, minha vida!
Nem chegamos a namorar
Porque o sentimento falou mais alto,
Mas se ficasse mais um dia sem a sereia
Já poderia ser enterrado.
Assim, velejamos no mar;
Mar agitado da França
Com medo das ondas estava,
Assegurava nossas alianças.
Fomos ao museu
E o Louvre era seu retrato,
Iríamos ver Monalisa
E nos encantar com o canto anafado.
Passou-se certo tempo
E estávamos morando juntos…
Conseguimos morar no lugar ideal
E ter uma vida perfeita em segundos.
Conseguimos nova cidadania
E já ganhávamos o dobro no trabalho
E uma nova notícia para alegria:
Duas vidas mudariam as nossas.
Fiquei de encontro à felicidade,
Eram gêmeos como nos sonhos
E ela, a médica da prosperidade,
E eu, um escritor feliz com tantos planos.
Passaram-se nove meses
E um casal nasceu…
Eram anjos tão lindos.
Enfim, acordei…
No melhor de minha vida
Acordo e vejo que era ilusão.
Agora, sozinho na cama,
Pus-me a chorar na solidão.
Acordar de um sonho perfeito
É ruim demais para os planos
Pois atrasa as feridas num desfecho
De encontrar-se nos prantos.
Poema escrito depois de um sonho.